sexta-feira, 20 de junho de 2014

Vai fazer o quê?



Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº 1.795, em 31/10/2013.
Nos anos 70, o famoso jogador de futebol Gerson fez um comercial de televisão, marcando-se para sempre como o autor da famosa Lei de Gerson, pela qual sempre devemos levar vantagem em tudo.
Anos depois, Gérson teria dito que se arrependia de ter feito a propaganda, porque passou a ser visto como um personagem interesseiro e sem escrúpulos. Porém, apesar de ser marcado pela Lei de Gerson, o jogador não criou nada novo. Desde sempre, o povo brasileiro tem a tendência de buscar o maior benefício com o menor esforço. O famoso jeitinho brasileiro nada mais é do que uma outra forma de falar a mesma coisa.
No último domingo tive um vislumbre do que é a Lei de Gerson ou o jeitinho brasileiro aqui mesmo na nossa querida Comodoro. Em viagem à Vilhena, durante a chuva que caía, caiu na estrada uma árvore. Era de grande porte e ficou atravessada de um lado à outro na pista. Mas apesar de grande, era possível movê-la. As autoridades nada fizeram (na verdade, nem sei se chegaram a tomar conhecimento do fato. Se souberam, não deram nenhuma importância). Em pouco tempo, a fila de carros e caminhões parados já era grande, nos dois lados da pista.
Apesar disso, não houve muitos que se dispuseram à tentar resolver o problema. Até cortaram uma trilha no meio da mata lateral da pista, mas só permitia que passasse um carro de cada vez, de um lado só da pista e ainda assim, só se fosse caminhonete com boa tração, porque a subida no final da trilha era íngreme. Quando uma caminhonete quebrou na tentativa de subir a trilha, aí então as coisas pareciam definitivamente perdidas.
Como disse, a fila de veículos parados era grande, contando já uns quinze ou vinte carros de cada lado. Mesmo assim, poucas foram as pessoas que se dispuseram à tentar resolver o problema. A maioria das pessoas preferiu o conforto e o calor de seus carros. Mas a prova de que a boa vontade ainda existe se mostrou naquela tarde de domingo. Meia dúzia de pessoas, entre as quais alguns que não eram mais do que garotos, tentou mover a árvore caída.
Com a chegada de um funcionário do Grupo Mazutti, armado com uma serra elétrica (que, apesar de pequena, deu conta do recado), o trabalho foi feito. Serrados os galhos maiores, com muito esforço dessas poucas pessoas, a árvore foi tirada da pista e, sob o atento olhar dos espectadores, a pista foi liberada. Na tarde de segunda, o único indício do que aconteceu na véspera era um tronco caído na beira da estrada.
Mesmo assim, fiquei me perguntando sobre o que aconteceria de esse pequeno grupo de pessoas esforçadas não tivesse aparecido. Ou ainda, se tivesse feito como a maioria, ficasse apenas olhando.
O que aconteceu na estrada nesse domingo nada mais foi do que o reflexo do que tem acontecido nos últimos anos no Brasil: um pequeno grupo trabalha, outros olham, esperando que o problema seja resolvido. Alguns até mesmo se vangloriando de ter quem faça as coisas por eles.
É muito fácil ficar esperando pela resolução dos problemas. Difícil é sair em defesa dos seus direitos e conseguir solucionar o problema. Esperar pelo Governo ou pelas “Autoridades” também não resolve nada. Mas que fique claro que resolver seus problemas não é sinônimo de depredação ou vandalismo. A luta pela melhoria é construir, não destruir. A única coisa que vamos conseguir com vandalismo e depredação é perder nossos direitos e tomar tiro de bala de borracha!
É como a história do beija-flor da floresta incendiada: quando todos correm para se salvar, apenas o pequeno pássaro se mobiliza para apagar o fogo. E quando lhe perguntam o que acha que pode fazer com aquele seu pequeno bico, ele responde: “se todos fizerem a sua parte, juntos podemos apagar o fogo”. 
Ah, e para aqueles que estão se perguntando o que foi que eu fiz na estrada naquele domingo, saibam que eu fiz a minha parte, tirei a camisa, saí na chuva e ajudei como pude à tirar aquela árvore do caminho. E não me importo que digam que eu trabalhei para os outros ou fiz o serviço que era do Governo. Eu fiz a minha parte. E você, vai fazer a sua parte, ou vai esperar que os outros à façam?

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