Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº
1.795, em 31/10/2013.
Nos
anos 70, o famoso jogador de futebol Gerson fez um comercial de televisão,
marcando-se para sempre como o autor da famosa Lei de Gerson, pela qual sempre
devemos levar vantagem em tudo.
Anos
depois, Gérson teria dito que se arrependia de ter feito a propaganda, porque
passou a ser visto como um personagem interesseiro e sem escrúpulos. Porém,
apesar de ser marcado pela Lei de Gerson, o jogador não criou nada novo. Desde
sempre, o povo brasileiro tem a tendência de buscar o maior benefício com o
menor esforço. O famoso jeitinho brasileiro nada mais é do que uma outra forma
de falar a mesma coisa.
No
último domingo tive um vislumbre do que é a Lei de Gerson ou o jeitinho
brasileiro aqui mesmo na nossa querida Comodoro. Em viagem à Vilhena, durante a
chuva que caía, caiu na estrada uma árvore. Era de grande porte e ficou
atravessada de um lado à outro na pista. Mas apesar de grande, era possível
movê-la. As autoridades nada fizeram (na verdade, nem sei se chegaram a tomar
conhecimento do fato. Se souberam, não deram nenhuma importância). Em pouco
tempo, a fila de carros e caminhões parados já era grande, nos dois lados da
pista.
Apesar
disso, não houve muitos que se dispuseram à tentar resolver o problema. Até
cortaram uma trilha no meio da mata lateral da pista, mas só permitia que
passasse um carro de cada vez, de um lado só da pista e ainda assim, só se
fosse caminhonete com boa tração, porque a subida no final da trilha era
íngreme. Quando uma caminhonete quebrou na tentativa de subir a trilha, aí
então as coisas pareciam definitivamente perdidas.
Como
disse, a fila de veículos parados era grande, contando já uns quinze ou vinte
carros de cada lado. Mesmo assim, poucas foram as pessoas que se dispuseram à
tentar resolver o problema. A maioria das pessoas preferiu o conforto e o calor
de seus carros. Mas a prova de que a boa vontade ainda existe se mostrou
naquela tarde de domingo. Meia dúzia de pessoas, entre as quais alguns que não
eram mais do que garotos, tentou mover a árvore caída.
Com
a chegada de um funcionário do Grupo Mazutti, armado com uma serra elétrica
(que, apesar de pequena, deu conta do recado), o trabalho foi feito. Serrados
os galhos maiores, com muito esforço dessas poucas pessoas, a árvore foi tirada
da pista e, sob o atento olhar dos espectadores, a pista foi liberada. Na tarde
de segunda, o único indício do que aconteceu na véspera era um tronco caído na
beira da estrada.
Mesmo
assim, fiquei me perguntando sobre o que aconteceria de esse pequeno grupo de
pessoas esforçadas não tivesse aparecido. Ou ainda, se tivesse feito como a
maioria, ficasse apenas olhando.
O
que aconteceu na estrada nesse domingo nada mais foi do que o reflexo do que
tem acontecido nos últimos anos no Brasil: um pequeno grupo trabalha, outros
olham, esperando que o problema seja resolvido. Alguns até mesmo se
vangloriando de ter quem faça as coisas por eles.
É
muito fácil ficar esperando pela resolução dos problemas. Difícil é sair em
defesa dos seus direitos e conseguir solucionar o problema. Esperar pelo
Governo ou pelas “Autoridades” também não resolve nada. Mas que fique claro que
resolver seus problemas não é sinônimo de depredação ou vandalismo. A luta pela
melhoria é construir, não destruir. A única coisa que vamos conseguir com
vandalismo e depredação é perder nossos direitos e tomar tiro de bala de
borracha!
É
como a história do beija-flor da floresta incendiada: quando todos correm para
se salvar, apenas o pequeno pássaro se mobiliza para apagar o fogo. E quando
lhe perguntam o que acha que pode fazer com aquele seu pequeno bico, ele
responde: “se todos fizerem a sua parte, juntos podemos apagar o fogo”.
Ah, e para aqueles que estão se perguntando o
que foi que eu fiz na estrada naquele domingo, saibam que eu fiz a minha parte,
tirei a camisa, saí na chuva e ajudei como pude à tirar aquela árvore do
caminho. E não me importo que digam que eu trabalhei para os outros ou fiz o
serviço que era do Governo. Eu fiz a minha parte. E você, vai fazer a sua
parte, ou vai esperar que os outros à façam?
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