quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dias de Copa: Os Favoritos

Publicado originalmente no site Olhar Direto em 08/07/2010
 http://olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Dias_de_Copa_Os_Favoritos&id=1911
 
É incrível como nessa Copa do Mundo a maioria dos grandes favoritos decepcionou. Parece a revolta dos desacreditados!
Dos principais favoritos que caíram, encabeçam a lista, claro, França e Itália. Chegando cercados de pompa e com o favoritismo na bagagem, os dois times não emplacaram e foram eliminados ainda na primeira fase.
O time francês, nosso eterno algoz, foi o maior fiasco dessa Copa. Apesar de ter chegado à Copa com uma “mãozinha” do árbitro sueco Martin Hansson, depois de uma “mãozona” do atacante Henry, a seleção francesa era considerada favorita para o Mundial, pois mesmo com a aposentadoria de Zidane e companhia, o time tinha muitas promessas.
Mas a ausência de Zidane tirou do grupo o espírito de equipe, deixando uma guerra de egos que o Brasil conhece muito bem. Nessa guerra, o maior soldado era o próprio técnico Raymond Domenech, mais preocupado em provar suas próprias convicções do que em fazer o time jogar como um time de verdade. Só pra exemplificar, uma de suas (loucas!) convicções era escalar o time através dos desígnios claro e seguros do horóscopo! Quem diria... Assim, a seleção francesa voltou pra casa levando uma das suas piores campanhas em Mundiais: duas derrotas, um empate e nem uma mísera vitória!
Já a seleção italiana desembarcou na África do Sul trajando seus ternos elegantes e charmosos, defendendo o título mundial de 2006, e arrotando imponência. O que se viu foi um time decadente e velho, sem renovação, que sucumbiu à própria fama e estourou sob a pressão de sua apaixonada e passional torcida. No final, acabou a Copa triste e desiludido, também sem vencer um único jogo, e pensando que talvez seja a hora de parar de acreditar que é o melhor time do mundo e começar a jogar futebol de verdade.
A Costa do Marfim era a grande fera africana para esse Mundial. Unindo a velocidade e habilidade naturais dos africanos e a obediência tática aprendida por seus atletas que atuam na Europa, esperava-se muito dessa seleção. Junto com Brasil e Portugal, formava um dos mais complicados grupos da Copa.
Mas a fama sucumbiu ao Mundial. Com seu maior astro, Didier Drogba, lesionado e jogando pouco, o que se viu foi um time desorganizado e sem criatividade, que prescindia mais de força do que de técnica. No jogo contra o Brasil, por exemplo, os marfinenses eram mais gladiadores do que boleiros. Enfim, ficou pela primeira fase, com a certeza de que, para se dar bem em uma Copa do Mundo, é necessário mais do que um único jogador.
A Inglaterra era outra grande esperança de show dessa Copa. Das grandes favoritas, foi provavelmente a que mais fez aquilo que se esperava. Ninguém tinha qualquer pretensão acerca da habilidade dos jogadores ingleses, mas sempre se imaginou um jogo bem marcado e taticamente correto. E foi isso que se viu.
Somente dois jogadores ingleses impunham certo receio aos seus adversários: o atacante Rooney e o volante Gerrard. O meio campo fez tudo aquilo que se esperava dele, marcou, armou e apareceu na área para finalizar. Nunca foi tido como um craque ou um prodígio, mas como um jogador mais habilidoso que a maioria. E foi exatamente isso.
Já Rooney foi uma das grandes decepções individuais dessa Copa. Era mais um marco, um toten de referência, do que um jogador de futebol. Houve mesmo alguns jogos em que a única vez em que se ouviu seu nome foi durante a escalação. Jogando com um a menos durante quase todo o tempo, a Inglaterra fracassou, se classificando em segundo do grupo, atrás da sua antiga colônia, os Estados Unidos, e ainda assim, num jogo com arbitragem bastante duvidosa. Na sequência, acabou perdendo nas oitavas para a Alemanha, uma das surpresas da Copa, num jogo marcado pela falta de habilidade, tanto de jogadores quanto da arbitragem.
Portugal foi mais um time favorito eliminado nas oitavas-de-final. Apesar de parecer mais uma filial do time brasileiro, Portugal era tido como uma das favoritas por seu desempenho na última Eurocopa e também pelo desempenho individual dos seus jogadores nos clubes em que atuam.
Entretanto, seu maior astro, Cristiano Ronaldo, praticamente não jogou, desaparecendo em campo. Isso, somado à contusão do brasileiro Deco, fez de Portugal um time lento e sem criatividade, jogando o mínimo possível, quase como um urso que se prepara para hibernar. Jogando desse jeito, Portugal teve uma atuação somente passável, fora, claro o 7x0 sobre a Coréia do Norte, e não empolgou muito. Quando enfrentou a Fúria Espanhola, dançou ao som de castanholas e foi eliminado.
Outra grande decepção dessa Copa foi a própria seleção brasileira. Não sei o que foi que o Dunga pensou quando convocou esse time, mas definitivamente não foi em jogar como o Brasil sempre jogou. Numa seleção acostumada à jogar sempre pra frente, prezando a habilidade e o futebol-show, o que se viu foi um time sem criatividade, mais preocupado em não tomar gols do que em fazê-los e que se ocupava mais com a formação tática do que o natural gingado brasileiro.
Com poucos jogadores realmente criativos e habilidosos, que ainda por cima jogaram muito abaixo do esperado e do possível, era fatal sua eliminação, apesar de toda nossa torcida. Não deu outra! Perdemos para a Holanda ainda nas quartas-de-final, num jogo que foi o ápice da duplicidade: um primeiro tempo perfeito, um segundo tempo desastroso. Sem criatividade nem liderança dentro de campo, o Brasil perdeu mais para si mesmo do que para os outros.
Caindo também nas quartas, esteve a Argentina. Considerada uma das sensações da Copa, apesar da campanha irregular nas eliminatórias, a Argentina fez uma primeira fase impecável, vencendo seus jogos com relativa facilidade. Mas sua grande estrela, Lionel Messi, também jogou abaixo do esperado. Apesar de boas jogadas e alguns chutes na trave, Messi se despediu da África sem ter feito nem mesmo um gol.
No final das contas, na primeira vez em que enfrentou um time que não se acovardou e partiu pra cima, a Argentina mostrou suas deficiências e acabou perdendo. E feio! Quatro a zero para o bicho-papão de favoritas, a Alemanha. Assim, a arrogância de Dom Diego Maradona ficou pelo caminho, achatada pela eficiência e humildade alemãs.
Mas verdade seja dita, dificilmente se viu um grupo tão dedicado ao seu treinador e um treinador tão dedicado ao seu grupo. Após a derrota, Maradona entrou em campo e consolou um à um dos seus comandados, provando que se faltou auto-crítica, sobrou emoção.
No final da Copa, sobram apenas três favoritas, mesmo assim com ressalvas: a Holanda e a Espanha, que sempre montaram times maravilhosos, mas que na hora da verdade, no final de tudo, nunca conseguiram nada de importante, e a Alemanha, sempre criticada pela maneira seca e até mesmo feia de jogar, algo do tipo “não encanta, mas vence”! Vamos ver o que mais esse Mundial nos reserva de surpresas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dias de Copa: A Troca

Publicado originalmente no site Olhar Direto em 06/07/2010
http://olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Dias_de_Copa_A_Troca&id=1901
 
Já vi muitos filmes de gêmeos que trocam de lugar, seja pra enganar namoradas, seja para enganar pais separados. E sempre achei incrível como é que ninguém (geralmente) nunca nota a troca. Pessoas são diferentes umas das outras e via de regra, a gente percebe a diferença, mesmo que sejam exatamente iguais por fora.
Foi mais ou menos isso que senti nesse dia 02 de julho, quando a seleção brasileira voltou para o segundo tempo do jogo contra a Holanda. Como se todos tivessem sido substituídos pelo irmão gêmeo perna-de-pau. Por que ninguém me tira da cabeça que o time que desceu para o vestiário no intervalo não foi o mesmo que voltou.
No primeiro tempo, a seleção brasileira foi praticamente perfeita. Numa exibição que o Brasil esperou a Copa toda, o time parecia impecável e incorrigível: marcação firme, mas não violenta, feita desde a saída de bola holandesa, passes quase sempre milimétricos e uma postura sempre adiantada. Até o Kaká estava jogando bem. Só faltou melhorar a pontaria! Ficava até difícil para torcedores como eu, que tem a tendência de sempre ver o pior lado, reclamar. Não tinha o que falar de mal do time.
No primeiro tempo, foi um jogo de um time só. A Holanda ficou completamente alheia ao que acontecia em campo e só o goleiro Stakelenburguer fazia algo de produtivo: defesas. Até mesmo o atacante holandês Van Persie confessou em entrevista que no primeiro tempo o time estava dominado. Segundo ele, a Holanda não perdeu no primeiro tempo por muito pouco.
Já o segundo tempo...
No segundo tempo o Brasil foi tudo aquilo que o Brasil inteiro temia que pudesse acontecer. Um jogo lento, sem empolgação e sem brilho. Como eu disse antes, substituíram o time todo pelos gêmeos perna-de-pau!
Como foi que essa queda de produtividade aconteceu é a pergunta que todo o Brasil está se fazendo. Como é que um time que parecia imbatível no primeiro tempo pôde se tornar tão relapso e lento como se tornou no segundo tempo?
Alguns culparam o primeiro gol holandês, dizendo que o time perdeu o brilho, a empolgação e, de quebra, a cabeça depois do gol contra do Felipe Melo. Pessoalmente, discordo! Antes mesmo do gol o time já tinha caído de produção.
Outra teoria é a de que a substituição do Michel Bastos pelo Gilberto tenha dado liberdade para o Robben abrir uma avenida pelo lado esquerdo. Que o Gilberto não entrou bem eu concordo. Ele entrou no campo, mas não no jogo. Mesmo porque, depois que entrou, quase não se ouvia falar nele. Mas alegar que essa foi a causa da nossa derrota é exagerar um pouco a responsabilidade do Robben no jogo.
Tem outra teoria muito aceita, que culpa o Dunga, que diz que se o treinador tivesse mudado o time antes talvez tivesse obtido um resultado diferente. Não sei se faria muita diferença, afinal o Nilmar entrou mas pouco fez. Além disso, quem é que o Dunga poderia por em campo que faria a diferença? Numa situação daquelas, era necessário um jogador que fugisse do óbvio e que não se omitiria naquela situação. No grupo que foi para a África do Sul eu não via ninguém que se encaixasse nessa descrição.
A meu ver, o grande problema da seleção brasileira foi psicológico mesmo. Primeiro, um pensamento antecipado e tolo de que o jogo estava ganho e de que a Holanda não seria capaz de reagir durante o segundo tempo. Claro que esse pensamento é fadado ao fracasso e levaria inevitavelmente à derrota. Afinal, a Holanda não é um time nem ruim nem tolo. E dispunha de quarenta e cinco minutos para reagir.
Por outro lado, o Brasil nunca foi preparado psicologicamente para ficar atrás no placar. O time aparentemente nunca se preocupou em reagir à um resultado adverso. Pelo visto nessa sexta-feira, são nos piores momentos, aqueles em que são mais necessários, é que os nossos craques se omitem, se escondem e fogem da responsabilidade. Quem viu ou ouviu o Kaká ou o Robinho depois do segundo gol holandês? Eu não!
Na verdade, o que faltou foi um líder, alguém que chamasse a responsabilidade e a razão de volta ao time. Como Zizinho fez na Copa de 58, quando tomamos o primeiro gol da Hungria, que pegou a bola no fundo do gol e levou, calmo como gelo, de volta para o círculo central. Depois disso, ganhamos de cinco à dois. Faltou um Dunga de 94 ou 98, que aproveitava a comemoração do gol para dar bronca e não deixava o time se acomodar.
No final das contas, faltou mesmo foi controle emocional ao time, que acreditou demais na própria capacidade de vencer e na incapacidade de reverter um mac resultado.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dias de copa: A estréia

Finalmente vimos a tão aguardada estréia do Brasil na Copa do Mundo. Depois de quase um mês de espera, o escrete canarinho começou sua jornada ao Hexa (espero!). Mas o Brasil que entrou em campo foi bem diferente daquele Brasil que o Brasil se acostumou a ver ao longo dos anos (e das Copas).
O que se viu foi uma seleção mais preocupada em manter a posse de bola e cercar o adversário com toques sem objetividade, do que em fazer gols. Tudo bem que a Coréia do Norte não era exatamente um adversário mortal e perigoso, mas talvez justamente por isso se esperava um time mais atento e ofensivo. Com uma bela sequencia de passes errados e uma falta de criatividade total no meio de campo, o Brasil pouco produziu e pouco assustou a fraca seleção da Coréia.
Nossa principal estrela, ou pelo menos assim dizem, o Kaká, não rendeu o esperado, muito menos o possível. Errando muitos passes e visivelmente acovardado com a possibilidade de se lesionar novamente, o meia ficou imprensado na forte (?) marcação coreana. Entrando em campo com apenas um armador que ainda por cima não entrou no clima do jogo, parecendo mais  ter entrado no clima glacial de Johannesburgo, o Brasil ganhou sem empolgar ninguém.
Dessa forma, queimando definitivamente a língua deste autor que nunca foi fã dele, o atacante Robinho acabou por assumir a armação do time. E fez muito bem, por sinal. Recuando da sua posição de atacante-quase-ponta, abrindo espaços, driblando muito (aliás, o que foi aquele drible no vão das perdas do coreano, hein?!) e dando passes precisos e preciosos, Robinho puxou parte da forte (de novo?) marcação coreana, abrindo espaço nas laterais, principalmente a esquerda, onde Michel Bastos também soube trabalhar.
Falando no meia, desculpe, lateral esquerdo, Michel provou para muitos porque foi selecionado por Dunga. Jogando bem e aparecendo sempre ao lado de Robinho, o lateral foi uma das opções de armação para o time brasileiro. O único problema foi a avenida que deixava aberta atrás de si e que os coreanos, às vezes, gostavam de trafegar. Outra deficiência de Michel foi a excessiva centralização das jogadas, usando pouco a linha de fundo. Mas isso é herança das suas últimas temporadas pelo Lyon, da França, onde ele joga de meia esquerda, e não lateral.
Quanto ao nosso (único) atacante, Luis Fabiano não jogou abaixo do seu potencial, como muitos disseram. Ele não jogou! Mas verdade seja dita, não foi por culpa dele, afinal ele é um centroavante e um artilheiro e esse tipo de jogador depende basicamente de que a bola chegue aos seus pés. E isso, meus amigos, praticamente não aconteceu no jogo todo. Com a fraca atuação de Kaká e Robinho fazendo uma função de armador que não é sua especialidade (apesar de que, como já disse, ter sido muito boa) Luis Fabiano ficou isolado e solitário na área coreana, quase um eremita! Nas poucas ocasiões em que a bola chegou aos seus pés, a forte (to ficando repetitivo?) marcação coreana impediu que ele fizesse um trabalho melhor.
Na parte defensiva do meio-campo (que era praticamente todo ele), contrariando as expectativas mais funestas, Felipe Melo jogou razoavelmente bem, sem bater muito em ninguém. Sua tão falada violência ainda não deu as caras nesse mundial e esperamos que não apareça mesmo.
Já Gilberto Silva teve uma atuação bem discreta, mas dizem que volante bom é volante que não se vê! Se isso for verdade, ele deve ter sido o melhor em campo, já que não tocou na bola mais do que um punhado de vezes, sempre para passes laterais e sem objetividade nenhuma e não apareceu mais do que o suficiente para deixar passar alguns coreanos. Enfim, uma atuação abaixo do que ele pode fazer e muito aquém do que outros podem fazer no lugar dele.
Quanto à Elano, pode-se dizer que fez a lição de casa para se manter na equipe: fez um gol e deu o passe para outro. Isso e mais um ou outro chute a gol sem perigo foi tudo que Elano fez, sem na verdade mostrar motivos para ser parte do que deveriam ser os melhores jogadores brasileiros. Na verdade, de bom mesmo, só o passe para o gol de Maicon, já que o gol que ele mesmo fez, depois de um passe maravilhoso de Robinho, até minha mãe faria, ou para ser mais justo ainda, até eu faria, apesar da minha notória incapacidade de jogar futebol!
Voltando mais para trás um pouco, nossa zaga não mostrou ainda seu bom futebol, mesmo porque não foi muito solicitada. Com nove defensores e apenas um atacante, Jong Tae-Se, a Coréia não assustou muito, nem deu trabalho de verdade para Lucio, Juan ou Julio César. Só no final, após a Seleção Brasileira dar uma descansada e ficar mais desatenta, é que os coreanos fizeram algo de útil no ataque, e fizeram o seu gol de honra.
Falando no craque coreano Jong Tae-Se, antes conhecido como “Rooney asiático”, agora como o chorão coreano, após seu emocionante, mas descabido choro durante o hino nacional da Coréia, visto que nem coreano ele é, o jogador realmente parece ter uma habilidade acima dos seus companheiros (não que isso seja muita coisa!), mas a falta de opções de jogo e a solidão que experimentou no campo brasileiro, onde de vermelho ele só se via o rosto do Lúcio, não permitiu que Jong Tae-Se mostra-se do que verdadeiramente é capaz.
Fora Jong Tae-Se, nada mais na Seleção Coreana assusta ou empolga, exceto talvez uma alarmante tendência à repetição de nomes. Mesmo assim, é uma seleção taticamente obediente e que se defende razoavelmente bem. Dadas as suas óbvias limitações técnicas, conseguiu um belo resultado.
Por último, deixei aquele que talvez tenha sido o melhor em campo (pelo menos foi eleito pela FIFA como tal): Maicon. Após ser bastante contestado nas primeiras convocações e depois de uma briga acirrada, mas leal, contra Daniel Alves pela ala direita brasileira, o titularíssimo Maicon provou mais uma vez, se é que precisava, que é o melhor lateral direito em atividade do mundo. Com passadas rápidas e ágeis pela direita, atacando sem descuidar da defesa e sabendo alternar o uso da linha de fundo com a centralização das jogadas, o lateral foi uma das melhores opções ofensivas do Brasil, apesar de sub-utilizado. Mesmo assim, nas ocasiões em que apareceu foi eficiente e objetivo, evitando passes laterais inúteis e buscando sempre a jogada vertical. Tivesse um armador que jogasse ao seu lado, seria uma arma imbatível da nossa seleção.
Quanto ao gol, foi lindo, maravilhoso, extremamente importante tanto na parte mais pragmática quanto na parte psicológica, mas ninguém me tira da cabeça que foi de acidente! O jeito que ele olha para a área e a posição do pé dele na hora do chute me fazem acreditar piamente, apesar da contradição do próprio Maicon, que o goleiro coreano Ri Myong Guk, foi mais uma vítima inocente da Jabulani!
No final, fica a impressão de que o Brasil pode mais, que tem mais à mostrar, mas que está com medo de que isso signifique perder sua atual, mas a meu ver inócua, essência de seleção defensiva!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Novos Ventos na Academia

Publicado no Site Olhar Direto em  11/03/2010
link: http://olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Novos_ventos_na_Academia&id=1461

Finalmente foram entregues as estatuetas do Oscar 2010. Depois de mais de um mês de expectativa, conhecemos os vencedores do maior prêmio do cinema mundial. Mas o prêmio da Academia sempre foi uma coisa meio suspeita. Afinal, nem sempre os melhores foram premiados.
Prova disso foi Martin Scorsese, um dos maiores diretores do cinema, mas que só ganhou a estatueta em 2007 com Os Infiltrados. Entretanto, apesar de ganhar 4 prêmios, o próprio Scorsese afirmou que foi o pior dos seus filmes, mesmo que fosse muito bom. Scorsese é Scorsese.
Outra tendência sempre presente da premiação do Oscar é instigar algum tipo de rivalidade, de competição, entre dois filmes e depois simplesmente dar todas, ou pelo menos a maioria das estatuetas para apenas um deles. Em geral, o de maior bilheteria. Assim, as grandes produções como Titanic e Gladiador sempre tiveram um destaque muito maior do que seus “primos pobres”, os  filmes de menor orçamento.
Dessa forma, o novo filme de James Cameron, Avatar, produção de 500 milhões de dólares e recordista de bilheteria (tendo até mesmo desbancado outro titã de Cameron, Titanic), era franco favorito para levar a maioria das estatuetas.
Só que não foi bem assim que aconteceu. Numa mudança de sistemática, a Academia premiou o filme mais pobre e que só teve visibilidade devido às críticas e às premiações internacionais, Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow.
Segundo o José Wilker, que comentou a premiação durante a transmissão da Globo, o Oscar 2010 revelaria a tendência do cinema nos próximos anos. Se isso for verdade, aparentemente os filmes bilionários, com produções eminentemente técnicas, ficaram em segundo plano, tendo primazia os filmes de mais conteúdo.
Ao ganhar 6 prêmios, incluindo o de Melhor Direção e Melhor Filme, Guerra ao Terror mostrou que não é preciso muito dinheiro (o orçamento do filme foi de “meros” 11 milhões, quantia irrisória se comparado à Avatar) para se fazer um filme de qualidade.
Entretanto, a Academia manteve pelo menos uma tradição: a de dar a maioria dos prêmios para apenas uma produção. É patente que o roteiro de Avatar é fraco e sem muita profundidade e que a atuação dos atores não é a melhor possível, salvo talvez a interpretação de Sigourney Weaver (que injustamente não mereceu nem um aceno, que dirá uma indicação da Academia).
Entretanto, tecnicamente é uma produção primorosa e praticamente sem falhas. Então nada mais natural do que a maior parte dos prêmios dessa área ficarem nas mãos de Cameron e sua equipe. Concorrendo com Avatar estariam apenas filmes como Distrito 9, Star Trek e Transformes: A Vingança dos Derrotados. Mesmo assim, num ato inexplicável, a Academia concedeu à Guerra ao Terror alguns prêmios técnicos, como mixagem de som e edição de som e melhor edição. Quem entende do ofício, com certeza ficou, no mínimo, intrigado com essa premiação.
Uma surpresa foi o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, vencido pelo argentino O Segredo dos Seus Olhos, do diretor Juan José Campanella, desbancando o favoritíssimo A Fita Branca, da Alemanha. Mais uma demonstração de que, ao menos neste ano, orçamentos milionários não tiveram o efeito desejado.
Outra surpresa, bem menos grata foi a premiação de Up – Altas Aventuras, como Melhor Trilha Sonora, afinal, tanto Avatar quanto Sherlock Holmes empolgaram muito mais nesse quesito.
De resto, o Oscar foi bastante previsível. Sandra Bullock, por Um Sonho Possível, e Jeff Bridges, por Coração Louco, como Melhores Atriz e Ator eram praticamente favas contadas, já que andaram ganhando todos os festivais que concorreram mundo afora. Certo que o trabalho de Bridges foi um pouco mais difícil, já que concorria com outros atores de peso como George Clooney, Colin Firth e Morgan Freeman. Mas mesmo assim, uma premiação justa e esperada.
Nas categorias Ator e Atriz Coadjuvante também não ouve surpresas, com as vitórias fáceis e esperadas de Christoph Waltz, por Bastardos Inglórios, e Mo’Nique, por Preciosa, vez que também ganharam praticamente todos os prêmios que concorreram.
No quesito figurino, a Academia não perdeu seu norte, ao premiar novamente um filme de época, A Jovem Rainha Victória.
Também como era de se esperar, Up – Altas Aventuras venceu também o prêmio de Melhor Animação, mesmo sendo um filme até certo ponto denso e pesado para crianças.
O Melhor Roteiro Original ficou, como já era esperado, para Guerra ao Terror, apesar de alguns ainda apostarem em Bastardos Inglórios, pela forma como reconta a história. Já o Melhor Roteiro Adaptado ficou com Preciosa, com justiça.
Outros prêmios que foram entregues com justiça foi o de Melhor Maquiagem para Star Trek e de Melhor Canção, para “The weary kind”, de Coração Louco.
Dessa forma, apesar das nove indicações, Avatar, apontado por muitos como o grande favorito da noite, levou apenas três estatuetas, sendo de Melhores Efeitos Visuais, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte.
O fato de Avatar ter conseguido só a metade dos prêmios de seu grande rival e de estes prêmios serem apenas técnicos (lembrando que ainda acho que Avatar poderia ter levado outros prêmios de ordem técnica) pode dar a impressão de que as produções multimilionárias estão com os dias contados.
Não concordo! Só acredito que a premiação deste domingo indica que dinheiro é bom e efeitos especiais impressionam, mas um bom roteiro e um bom elenco ainda são indispensáveis.

sábado, 6 de março de 2010

Várias Variáveis

Originalmente publicado no site Olhar Direto, no dia 06/03/2010
http://www.olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Varias_Variaveis&id=1448
 
Existem, basicamente, duas formas de se transportar um livro paras as telas: a adaptação, na qual o diretor tenta recriar o livro no filme, e a versão, onde o diretor pega o tronco principal da história e o transporta para um novo cenário. Pelo menos, é assim que eu vejo a coisa.
A adaptação tem a vantagem de ser mais palatável aos fãs do livro. Quer dizer, é sempre meio frustrante você saber como a historia se desenrola e quando vai ao cinema não nada daquilo que você esta esperando. O problema é que adaptar um livro para o cinema requer sensibilidade na hora de cortar as cenas e de mudar o roteiro. Até porque, dependendo do livro, se ele for adaptado fielmente, o filme vai ter a duração de uns três dias. Alguns diretores tiveram essa sensibilidade, sabendo o que poderiam tirar do filme, sem provocar a ira dos fãs do livro ou sem macular a história.
Peter Jackson, diretor da trilogia Senhor dos Anéis é um exemplo clássico. Soube dar ênfase nas passagens em que a descrição narrativa do livro não conseguiu chamar tanta atenção e fez cortes que são quase irrisórios se você pensar na historia como um todo.
Alguns dirão, não sem certa razão que fica fácil pra Jackson ter feito isso, afinal contava com um orçamento milionário e pode fazer não um, mas três filmes. Para responder, cito outro diretor que teve a mesma habilidade em adaptar um livro para as telas: Marc Forster, diretor de O Caçador de Pipas. Com um orçamento bem mais modesto que o de Senhor dos Anéis e sem a possibilidade de estender seu filme por uma trilogia, Foster capta as mais sutis e sublimes cenas que há no livro, transportando-as para o filme, transformando este numa adaptação fiel e emocionante.
Por outro lado, a versão conta com a vantagem de ser mais maleável e de dar mais liberdade ao diretor, ensejando uma maior gama de possibilidades. É o caso de Percy Jackson e o Ladrão de Raios. baseado no primeiro volume da série Percy Jackson e os Olimpianos, de Rick Riordan, o filme revisita a história de uma perspectiva diferente, usando o livro apenas como base.
Talvez por causa da experiência dos dois primeiros filmes de Harry Potter, que na minha opinião foram só passáveis (o restante chega a ser horrível mesmo!) o diretor Chris Columbus resolveu não arriscar e tentar adaptar completamente o livro, coisa que seria impossível mesmo.
Assim, tomando algumas liberdades tanto com a história de Riordan quanto com a mitologia grega, o diretor redesenhou a história de tal forma que os fãs do livro vão ter dificuldades em achar ruim, e aqueles que apenas assistiram o filme possam dificilmente vão achar maçante ou desencantador.
Apesar de haver no livro cenas que poderiam ser adaptadas para a telona e que fariam a ação do livro ser ainda mais interessante, o filme não perde em aventura para o livro.
Fazer uma versão de um livro é sempre um risco. Risco maior ainda é entregar os papéis principais do filme para três atores praticamente desconhecidos do grande público como Logan Lerman, que fez o personagem título, Brandon T. Jackson, que fez o fiel companheiro de Percy, Grover e Alexandra Daddario, a amiga inteligente e ocasionalmente o par romântico de Percy, Annabeth Chase.
Por isso, o diretor acertou em pôr, para balancear esse time relativamente inexperiente, atores de peso como Pierce Brosnan (da série 007), Uma Thurman (KillBill) e Sean Bean (Senhor dos Anéis), além de grandes atores, em papeis secundários, como Catherine Keener (O Virgem de 41 Anos) e Joe Pantoliano (Os Bad Boys & Matrix). Sem esquecer, claro, de Rosario Dawson como a mais gata Perséfone de toda a história. Dessa forma, esses atores deram peso e maturidade à um elenco de outra forma bastante novo, formado por adolescentes.
Entretanto, seja por estarem em tão boa companhia, seja por terem mais maturidade do que aparentam, esse time de novatos não deixou a desejar. Com diálogos rápidos e bem humorados e uma interpretação praticamente livre de falhas ou de canastrice, Percy Jackson e sua turma mostraram que vieram pra ficar e fazer sucesso nos cinemas de todo o mundo.
Dois comentários entretanto tem de ser feitos: primeiro, a forma como foi construído o Hades, o mundo inferior na mitologia grega, o fez parecer muito com o inferno católico. Quem conhece um pouco de mitologia sabe que não é bem assim. Literalmente, o inferno não é tão feio quanto pintam.
Segundo, definitivamente, faltaram ganchos para a continuação da história. Só para lembrar, Percy Jackson e os Olimpianos é uma série em cinco volumes. No filme entretanto, não parece haver muitas deixas para o que vai acontecer no desenrolar da história, salvo pequenas coisas mal concluídas.
Talvez isso se deva à uma falta de confiança do próprio diretor na sua obra, ou a falta de confiança do estúdio no sucesso da película. Seja como for, Columbus vai ter alguns problemas para conseguir fazer a seqüência. Se bem que com a maestria com que conduziu o primeiro (um fato que eu consideraria impossível depois de Harry Potter e a Câmara Secreta) ele parece estar à altura da tarefa.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O hábito não faz o monge....

Crítica publicada originalmente no site Olhar Direto em 05 de março de 2010
http://olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=O_habito_nao_faz_o_monge&id=1442 

Horrível! De uma forma ou de outra, essa é a palavra que deve descrever o novo filme do diretor Joe Johnston, O Lobisomem. Da forma boa, horrível no sentido de assustador, coisa a que o filme se propunha, sendo, ao menos teoricamente, um filme de terror. Da forma ruim, horrível por ser uma produção de baixa qualidade. Infelizmente, o filme é horrível no segundo sentido.
Com um elenco maravilhoso, que incluía nada mais, nada menos que Anthony Hopkins, Benício Del Toro, Hugo Heaving e Emily Blunt, O Lobisomem tinha tudo para ser um sucesso, mas é apenas a prova de que um bom elenco não faz um sucesso.
Pode-se dizer que a direção gastou o que podia com o cachê dos atores e não deixou nada para o roteirista, por que definitivamente é essa parte que estraga o filme. Com uma história batida, sem nada de novo e sem nenhuma profundidade, O Lobisomem lembra um filme trash dos anos 80.
A história do forasteiro que chega pra investigar a estranha morte de um parente (no caso o irmão) e acaba envolto num mistério maior do que jamais imaginara, a existência de dois monstros, um mau e o outro bom, que se enfrentam e a salvação pelo amor da mocinha são os pontos de roteiro mais clichês que o cinema já concebeu. E são exatamente estes os temas principais do filme. O único ponto de salvação do roteiro é o final, de certa forma surpreendente, que deixa de lado o tradicional “happy end” do cinema hollywoodiano
Mas isso ainda não é o pior. Fora o roteiro digno de um filme de quinta categoria, os efeitos também deixam muito a desejar. Na era dos efeitos especiais, com Avatar e companhia limitada dando um show atrás do outro, as transformações de O Lobisomem parecem ter sido produzidas no fundo do quintal da Tia Mary. Um desavisado que assista ao filme sem saber do que se trata pode muito bem achar que está assistindo a Sessão da Tarde.
A transformação se dá em espasmos, com cortes de câmeras grosseiros e o próprio lobisomem é extremamente mal feito, sendo visível a simples colagem de pêlos no rosto de um ator. Depois dos lobisomens de Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban e de Lua Nova, era de se esperar que um filme dessa envergadura mostrasse uma transformação melhor do que a de Um Lobisomem Adolescente (filme teen da década de 80).
A única coisa que salva o filme é a atuação impecável de Hopkins e Del Toro. Mesmo com um roteiro fraco e com falas piegas e cheia de clichês, quando os dois estão em cena, principalmente juntos, é certeza de que algo de bom sai. Obviamente, as melhores cenas dos dois são aquelas que tem menos diálogos, como a do retorno do personagem de Del Toro para casa, onde a interpretação vale mais do que qualquer fala ou roteiro poderia tentar traduzir.
Por fim, se você não assistiu, não perdeu grande coisa, por que não acho que valha o trabalho de sair da sua casa e até o cinema para ver. Dá pra esperar chegar nas locadoras, quiçá esperar na TV aberta mesmo. Se você assistiu, minhas sinceras condolências, porque deve ter saído da sala de projeção com a mesma sensação de primeiro de abril que eu.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Selvagem!?

Texto publicado no site Olhar Direto em 16 de março de 2010
Link: http://www.olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Selvagem&id=1471 

O Luis Fernando Veríssimo tem um texto em que o pai de um universitário chega de surpresa para visitar o filho, que estuda em uma outra cidade. Ao chegar, o pai, machista convicto, tem certeza de já entraria no apartamento do filho, nas palavras do autor, “nadando num mar de peitos e bundas”. Todo dinheiro mandado para o filho é na esperança de que seja construído um harém. Ao invés disso, o filho gasta tudo em livros e materiais de pesquisa. “Mas nem uma empregada bonita, filho?!” diz o pai ao ver a idosa secretária do filho.
É a apologia da frustração. E também é ridículo, porque o que, teoricamente, se espera de um filho universitário é justamente que ele estude e tal, não que ele fique o tempo todo festando e bagunçando. Toda a propaganda feita em cima de um bom garoto cai no momento em que o pai descobre que o filho é justamente o bom garoto, e não o menino-problema que todos esperam e que o pai, intimamente, elogia.
Tomadas as devidas proporções, tenho a impressão de que os turistas que visitam o Mato Grosso pela primeira vez se sentem mais ou menos como esse pai. No imaginário popular dos forasteiros, Mato Grosso é uma selva primitiva, que ainda abriga os maiores segredos de um Brasil selvagem e insondável. Parece haver uma idéia de que ao chegarem se depararão com índios transitando em suas tangas mínimas e índias completamente nuas, com jacarés e onças transitando pra lá e pra cá e com uma sociedade primitiva e sem instrução.
E são surpreendidos da mesma forma que o pai quando chegam aqui e se deparam com uma sociedade formada, evoluída (ou quase) e avançando e não com ocas e uma vila agropastoril com camponeses semi-instruídos. E, definitivamente, sem jibóias como animais de estimação.
Tudo bem que temos problemas de aldeias. A educação é de péssima qualidade, a saúde nem se fala e metade das nossas estradas mais parecem uma trilha no meio do mato. Mas também temos os, digamos, problemas de gente grande: violência, transito caótico, favelas, etc.
Não estou falando isso num tom xenófobo ou preconceituoso. Estou falando com conhecimento de causa. Não foram poucas as vezes que, em conversas com pessoas que nunca vieram no MT, que me perguntaram se era verdade que ao invés de cachorros e gatos, nossos animais de estimação eram onças e outros animais selvagens. Nem se, por acaso, eu conhecia muitos índios. Outro dia mesmo eu estava no aeroporto, que algumas pessoas sequer imaginam que exista, quando chegaram alguns turistas americanos. Claramente assustados com a civilidade do lugar. Certo, certo. O nosso aeroporto não é lá essas coisas, principalmente o desembarque, mas comparando com o que eles claramente esperavam, ele é até bastante evoluído. Provavelmente esperavam algo no estilo dos filmes de Hollywood, com pista de terra batida e tochas servindo como iluminação da pista.
Cheguei mesmo a ouvir um garoto dizendo ao seu pai: “Dad, where are the animals? Here isn´t the Jungle?” (Pai, cadê os animais? Aqui não é a Selva?) Claro que pelo menos o guia turístico não iria decepcioná-lo. Quem visse o sujeito, como todos no aeroporto, achava que ele tinha saído direto de uma savana africana. Só de susto, olhei pra trás, pra me certificar que não tinha um leão (ou uma onça) vindo de algum lugar.
É claro que por motivos que me parecem óbvios, com o Pantanal bem ai e tal, alguns mato-grossenses tem um pouco mais de contato com a vida selvagem. Mas daí a serem selvagens, é outra história.
Por fim, acho que a única coisa realmente selvagem que temos no Mato Grosso é a corrupção política, que avança nos nossos pescoços e arrebenta com a nossa jugular. Mas isso até São Paulo tem.

Sem Limites para amizade

Simples, trivial e absolutamente emocionante. Essa é a melhor definição para o novo filme protagonizado por Richard Gere, Sempre ao seu Lado. Ao lado de super-produções como Avatar e Sherlock Holmes, é uma história simples, que aparentemente pode acontecer com qualquer um de nós, que se mostra envolvente e passional ao extremo e prova que não é necessário ter grandes histórias ou roteiros aventurescos para ser um sucesso.
Uma história que mostra a amizade extrema de um cachorro para seu dono, o filme é um remake de um clássico japonês da final dos anos 80, por sua vez baseado numa história real, ocorrida nas primeiras décadas do século passado.
É incrível o que o diretor sueco Lasse Hallström consegue fazer, girando o filme basicamente em torno de um cachorro. Tanto Gere, quanto Joan Allen são meros coadjuvantes no filme, enquanto Hachi, o cão da raça Akita, uma raça puramente japonesa, rouba a cena. E o filme deixa claro a importância do cão, sempre mostrando-o e tendo até mesmo cenas do ponto de vista do cachorro.
Quem assistiu Marley e Eu  pode ter um leve sensação de deja vú, mas a comparação termina nos primeiros minutos do filme. Enquanto Marley pende para o cômico, Sempre ao seu Lado é passional desde o começo, sempre calcando as atitudes das personagens na pura emoção. Desde o momento em que o professor de música Parker Wilson encontra o filhote, ou é encontrado por ele, até o momento em que termina o filme é difícil não se emocionar, mesmo nos momentos mais cômicos.
Mas é mostrando a profunda amizade entre homem e animal, amizade que venceu até mesmo a oposição inicial da esposa do professor Parker, Cate, brilhantemente interpretada por Joan Allen, que o filme ganha o público.
Sem entrar em detalhes sobre o que acontece na película, podemos dizer que é a maior e mais profunda demonstração de afeto e lealdade apresentada na cinema atual. Outra prova do caráter emocional do filme é a cena em que Ken, o amigo de Parker, interpretado por Cary-Hiroyuki Tagawa, explica por que Hachi não gosta de brincar de pegar a bolinha: “Ele é um cão japonês, não americano, ele não se vende!”
Outra coisa que contribui para criar o clima do filme é a trilha sonora, composta por Jan A.P. Kaczmarek, que envolve o espectador e o mantém preso à poltrona até o último latido.
Em resumo, um filme emocionante, que nos faz refletir sobre o verdadeiro significado de sentimentos como amizade, lealdade e respeito. E podem preparar os lenços de papel: quem vai assistir não sai da sala de cinema sem ter derramado pelo menos uma lágrima.

Força G

Mais um texto perdido nos meus arquivos...
data original: 16 de agosto de 2009 
 
Os porcos estão fazendo sucesso! E não é só por causa da gripe suína. Explico: estou falando dos porquinhos-da-índia do filme “Força-G”, novo sucesso de Jerry Bruckheimer, produtor de “Piratas do Caribe”.
Fugindo da linha tradicional dos últimos filmes infantis, em que tudo é feito na base da animação, Força G é feito em computação gráfica, além de ter cenas reais, o que dá um efeito muito bom. Somando-se isto ao fato do filme ter sido feito em 3D e o diretor vencedor do Oscar por efeitos especiais por “O Segredo do Abismo”, Hoyt Yeatman, não restam dúvidas de que o filme tem cenas de tirar o fôlego.
Então o sucesso está garantido, certo? Depende. Principalmente do que se entende por sucesso. Para Bruckheimer, salas cheias e gordas bilheterias, algo que, com certeza, “Força G” vai conseguir. Para a média do público para quem o filme é dirigido, ou seja, as crianças inocentes em busca de emoção aventura e diversão, o filme com certeza também é um sucesso. Porquinhos-da-índia cheios de tecnologia, charme e muita esperteza conquistam qualquer um.
Já para os críticos mais puristas, como este charlatão que vos fala, o filme não é lá essas coisas. Falta um roteiro bem centrado, uma história com um desenvolvimento lógico e, principalmente, uma seqüência de idéias. Você nunca sabe de verdade qual o tema central do filme, se a dominação mundial por um vilão meio doido, se a demonstração de força de um grupo sub-valorizado pos seus superiores ou se a busca pela origem das personagens.
Mas é preciso deixar claro que esse tipo de analise é o que pode-se chamar de pedantismo crítico ou preciosismo cinematográfico. O que vale é saber se o filme agrada à quem é dirigido. E quando à isto, não restam dúvidas. “Força G” empolga as crianças não só pelo carisma de suas personagens mas também pelas cenas de ação, típicas de mocinho-e-bandido, temperadas com muita tecnologia e diálogos modernos e atuais.
Aos críticos que disserem que o filme é muito “sessão da tarde”, algo que não vale a pena ir ao cinema e pagar um ingresso, uma sugestão: levem seus filhos ou qualquer outra criança para ver o filme e vejam se ele se diverte. Se o garoto sair de lá sorrindo, pode ter certeza de que o filme é  um sucesso e você estava errado.

Inducação

Esse texto foi escrito à algum tempo atrás, mas não sei porque ficou engavetado. Aproveito agora para pubicá-lo.
Data original: 15 de agosto de 2009

Hoje em dia fala-se muito nos males do país: a corrupção, a pobreza, as desigualdades sociais, etc. e tal. Mas o pior dos males do Brasil hoje, a meu ver, é a falta de educação! Tive um exemplo claro disso noite passada quando fui assistir um espetáculo no teatro.

Só o fato de ter que chegar mais de uma hora antes do início do show para garantir um bom lugar seria, por si só, algo de causar espanto. Não é! É algo normal e corriqueiro. Esperável diante de qualquer circunstancia. Me perdoem o meu provincianismo, mas ainda acho isso irritante.

Mas, como diria meu avô, o que não tem remédio, remediado está. Vamos ao teatro mais de hora antes do início do espetáculo. A fila é um momento interessante para observação e catalogação de espécimes humanas! São as mais variadas, desde jovens, que inclusive não deveriam estar ali, devido à censura da programação, até senhores distintos, à primeira vista, não muito afeitos a um espetáculo de humor. Não tinha dito que era um espetáculo de humor? Pois era! Por falar nisso, era o espetáculo “Improvável”, do grupo “Os Barbichas”. E eu tinha me prometido não fazer propaganda....

Tudo estava indo muito bem, até começarem a chegar os furões. É incrível como o conceito de “fila indiana” se perdeu há muito tempo. Hoje em dia, as filas começam retas e ordeiras, mas vai chegando a hora do espetáculo, ou seja lá o que esteja sendo esperado, a ponta da fila começa a tomar uma forma meio arredondada, como se inchasse.

Vista de cima, a fila deve ter o feitio de um grande pirulito. Algo bastante simbólico, visto que os otários que chegaram cedo ao evento, esperaram em pé na fila e, principalmente, não passaram na frente de ninguém, acabam chupando o dedo.

O inchaço é causado, claro, por causa de todas as (muitas) pessoas que chegam em cima da hora do espetáculo e acabam “coincidentemente” encontrando alguém no inicio da fila. Sabe, o engraçado é que quando eu chego mais tarde em algum lugar e coincidentemente encontro alguém na ponta da fila eu paro, cumprimento, bato um papinho rápido e depois vou lá pro fim da fila, porque afinal de contas, eu cheguei depois. E se eu pretendo ficar conversando com esse amigo, eu vou no final da fila, marco meu lugar (afinal, sou justo, mas não sou burro) e volto pra conversar com ele. Enfim, foi assim que mamão me ensinou.

E não adianta reclamar com ninguém da organização. A maioria diz que não pode fazer nada, que não tem como coibir esse tipo de coisa, etc. Na verdade, falta é organização e vontade de trabalhar. Se quisesse, dava pra resolver o problema, sim. É que dá trabalho!

Bom, depois de algum estresse, algumas discussões e um bocado de reclamações, entramos. Eu, minha namorada e mais um punhado de fura-filas. Achei de todos os problemas tinham ficado do lado de fora. Pronto, passou, tudo bem!

Ledo e ivo engano. Antes de qualquer espetáculo, o Cine Teatro Cuiabá (pra quem não sabe um patrimônio histórico-cultural do Estado) apresenta um pequeno filme sobre a historia da sua reabertura. Algo interessante para que possamos conhecer nossa própria cultura. Mas quem disse que eu consegui ouvir alguma coisa?! Uma balburdia tão grande tomou conta do auditório que se tivesse em um show de rock eu poderia ouvir melhor!

Não bater palmas. Não adiantou tentar chamar a atenção. Não adiantou nem mesmo eu gritar pra pedir silencio! Isso mesmo, eu gritei pedindo silencio, tal a minha indignação, mas acho que ninguém ouviu...

Se você esteve no Cine Teatro Cuiabá na noite de 15 de agosto, às 19 e trinta e ouviu um grito de “silêncio!”, saiba que fui eu mesmo. Se você gostou do meu gesto, nos solidarizamos juntos. Se não gostou, azar o seu, você é um mal educado que não respeita os outros!

Por fim, apesar do show ter sido ótimo, saio com o triste pesar de que a educação estar em baixa na capital mato grossense. Fico pensando que pensarão os integrantes da trupe humorística no seu regresso, ao analisarem nosso comportamento. Será que concluirão que somos os bárbaros incultos cujo nível de civilidade ainda não atingiu os patamares aceitáveis? Pelo que vi ontem, não existe nada que mostre algo mais favorável...

Pra onde foi a magia?

Dwayne Johnson, conhecido antigamente como o lutador de vale-tudo “The Rock”, tenta seguir uma trilha diferente dos seus colegas de luta que migraram para as tela de cinema: ser um bom ator! E vinha conseguindo isso. Carismático, sempre com alguma piada e aparentemente sem fazer esforço para conciliar músculos com boa atuação.
Em filmes como Com as Próprias Mãos e Bem-vindo à Selva ele se saiu muito bem, sem desapontar nem seus fãs da época da luta, nem parecer um boneco sem expressão para os amantes do cinema.
Mas cometeu um erro grave ao fazer parte do O Fada do Dente. Um filme que tinha uma idéia muito boa, uma proposta interessante e um elenco que inclui Ashley Judd e Julie Andrews e ainda a participação mais que especial de Billy Cristal, o filme tinha tudo para decolar.
Mas com um roteiro que se perde no meio do caminho e erros crassos de produção, o filme decepciona. Seguindo a linha da série Meu Papai é Noel, o longa trás a historia de um homem que perdeu suas fantasias e acha que deve fazer o mesmo com todos que encontra. Mas depois de quase dizer para a menininha Tess (Destiny Whitlock) que a Fada dos Dentes não existe, ele perde a namorada Carly (Ashley Judd) e ainda por cima é condenado pela própria Fada-Chefe do Dente (Julie Andrews) a passar duas semanas recolhendo dentes de crianças.
Até aí, tudo bem. A clássica história de quem perdeu suas esperanças e se vê jogado nelas sem direito à apelação. Mas ao invés de seguir um roteiro seqüenciado, com a progressiva mudança de pensamento, e de explicar com coerência a origem dos seus problemas, o filme prefere focar em como o trabalho como Fada do Dente acaba atrapalhando sua vida pessoal e profissional.
Além disso, a aproximação de Derek (Johnson) com o filho mais velho e problemático de Carly, Randy (Chase Ellison), é caótica, sem muita lógica. A participação de seu conselheiro Tracy (Stephen Merchant) também é bastante estranha. Ao contrario do que se prevê em filmes do gênero, não é uma relação de ódio que melhora com a mudança do protagonista. Em alguns momentos, Tracy parece querer ver a danação de Derek, em outros, logo depois, o trata como seu melhor amigo. Tudo isso para depois descobrirmos que não passa de pura inveja.
Outro erro grave do diretor Michael Lembeck é não aproveitar as presenças de Ashley Judd e Julie Andrews. As duas não chegam nem a ser coadjuvante de tão irrisórias são suas participações. São mais figurantes no filme. Com atrizes desse peso, seria de esperar que tivessem uma participação bem maior.
Agora, se o roteiro tem erros, a produção técnica nem se comenta. As asas das fadas parecem feitas de papelão, numa clara demonstração de que a produção não foi muito cuidadosa. Os efeitos especiais, numa era em que os efeitos são metade do filme, também não são lá essas coisas.
Mas o pior de tudo é o espectador poder ver as girafas, os microfones altos para a captação de som ambiente, aparecendo no meio das cenas. Um diretor que vir isso tem um ataque cardíaco. No meio da cena, lá vem, não só a ponta, mas todo o equipamento. Não me surpreenderia se numa cena qualquer fosse visto um assistente ou outra pessoa da produção.
Entretanto, apesar de todos os defeitos, Johnson consegue se sair razoavelmente bem. Sem roteiro e sem produção, o ex-lutador consegue arrancar boas risadas do publico. Não tem o mesmo apelo emocional da franquia Meu Papai é Noel, e não impressiona muito o público, mas ainda assim vale a pena assistir (se você não tiver mais nada pra fazer!). O típico filme da Sessão da Tarde.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um Clássico Redivivo (ou Sherlock in Home)

Crítica publicada originalmente no site Olhar Direto em 11 de janeiro de 2010
http://www.olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Um_Classico_Redivivo_ou_Sherlock_in_Home&id=1255 
 
A nova era do cinema mundial tem mostrado heróis cada vez mais aventurescos e ativos. E com a atual onda das adaptações das histórias em quadrinhos para o cinema, já estava na hora da literatura clássica ter a sua chance. É nesse ponto que surge o novo filme de Sherlock Holmes.
Vivido por Robert Downey Jr., o histórico detetive ressurge depois de quase 30 anos longe das telas. Entretanto, para os amantes do personagem de Sir Arthur Conan Doyle, o filme causa um certo choque. Acostumados com a fleuma do detetive dedutivo, que nunca faz nenhuma atividade física sem necessidade e que resolve boa parte dos seus casos sem nem sair de seu quarto no número 221b da rua Baker, os espectadores definitivamente não irão reconhecer o indivíduo briguento, teimoso e desleixado que protagoniza o filme.
Se fosse uma mera adaptação de alguma das muitas obras literárias, seria um fiasco. Entretanto, o diretor Guy Ritchie resolveu recriar Sherlock Holmes à sua própria maneira. E acertou em cheio.
Sem recorrer à nenhum tipo de histórico nem tentar explicar quem é ou como surge o maior detetive de todos os tempos, o filme acerta ao simplesmente deixa-lo existir, como alguém a quem todos conhecem e entendem, quase como parte sine qua non da arquitetura londrina. Com um roteiro intenso e movimentado, o diretor repagina um ícone da literatura mundial de uma forma que seja palatável à nova realidade, fazendo-o mais agitado e irônico, mas mantendo a inteligência superior e o incrível poder de dedução do detetive. Além disso, a habitual calma britânica fica de fora do roteiro do blockbuster, dando lugar à um filme cheio de ação e aventura, desde a primeira cena.
Por falar na primeira cena, os leitores habituais de Doyle, que já conhecem o desprezo com que Holmes trata os oficiais da Scotland Yard, a polícia britânica, não se decepcionam ao notar um claro ceticismo do detetive para com a competência dos agentes da lei. E a primeira cena já demonstra essa dicotomia. O espectador não sabe exatamente se o personagem esta agindo junto à Yard ou se está sendo perseguido por ela.
Assim, enquanto alguns aspectos literários são completamente ignorados no filme, outros são bastante explorados, como o respeito da própria polícia para com Holmes. Apesar de não saber o que o detetive vai fazer e de não entender como ele chega às suas conclusões, os oficiais da lei, na maioria das vezes representados pelo inspetor Lestrade, apóiam e auxiliam Holmes nas mais loucas aventuras.
Outra coisa que obrigatoriamente tem de ser citada é a participação do fiel companheiro de Holmes, o Dr. John Watson. Normalmente calmo, controlado, totalmente dedicado ao parceiro (chegando mesmo a ser excessivamente protetor), meio covarde e até mesmo cético, na tela Watson é sarcástico e algo agressivo, salvo em poucas cenas, como no momento em que, ao perseguir outro personagem, Holmes cai de uma janela e pede pelo Doutor, sem conseguir sua ajuda.
Brilhantemente interpretado por Jude Law, o Dr. Watson do filme é mais egoísta, aparentemente mais preocupado com seu casamento do que com o desenrolar dos acontecimentos dos casos que investigam. Com o andamento do filme, porém, fica  claro que todo este distanciamento é apenas fachada e que o bom Doutor continua um parceiro fiel e dedicado.
Vale destacar também a atuação brilhante e impecável de Rachel McAdams como Irene Adler, a única pessoa no elenco capaz de acompanhar Downey Jr. e Law, sem ser ofuscada pelo brilho dos dois.
Juntando personagens de várias histórias diferentes, Ritchie constrói uma trama envolvente e agitada, com muita ação e aventura. Com um final de quero mais, o filme mostra que mesmo os mais clássicos podem ser adaptados e reescrito sem perder a originalidade e ainda assim atrair um público cada vez mais exigente, que busca ação do início ao fim da película.