terça-feira, 28 de julho de 2009

Mais do Mesmo

Mais uma vez andei freqüentando ambientes culturais. Dessa vez foi o show da dupla Chitãozinho & Xororó. Tudo bem, reconheço que parece estranho, algo piegas, freqüentar um evento desses. Mas, como dizia meu avô, o que é do gosto é regalo da vida. Somente, devo informar que não tô falando do meu gosto. Estou falando do gosto da Paula. Foi ela quem me arrastou para aquele show.
Só que pra chegar ao show foi uma verdadeira tragédia! São Pedro não poderia ter escolhido um outro dia pra fazer tanto frio? Somos mato-grossenses, ora! Não importa o quanto reclamemos do calor, não fomos feitos para passar frio. Fazia muito tempo que não via minha respiração se condensar na minha frente, fazer aquela fumacinha.
Mas devo dizer que as coisas negativas param por aí. Depois que já tínhamos enfrentado o frio cortante pra chegar ao Centro de Eventos, concluí que não tinha perdido minha viagem. O show foi ótimo. Num revival da era de outro do sertanejo, a dupla cantou as musicas mais antigas, as famosas modas de viola. E também, sem perder uma das características que fizeram o sucesso da dupla, eles tiraram do fundo do baú algumas guarânias paraguaias.
A dupla parece ter, enfim acertado a mão. Depois de algumas tentativas frustradas de mudanças, Chitãozinho e Xororó acabaram por decidir que era melhor mesmo se manter nas musicas que fizeram o sucesso da dupla no passado. As novidades até existem, mas bem tímidas e sempre seguindo a linha daquilo que já deu certo antes.
Essa táctica se mostrou bastante acertada, considerando que quase todos os expectadores acompanhavam os dois na cantoria. Desde o princípio do show, o que se via era uma platéia animada, participativa e que, principalmente, acompanhava todas as canções. Isso, pelo menos pra mim, é prova de que o show agradava.
Uma das minhas maiores dúvidas era se a dupla ia cantar um dos seus atuais sucessos, “Sinônimo”. E se cantasse, quem faria às vezes do Zé Ramalho. Parecia meio absurdo que o próprio Zé viesse até Cuiabá pra cantar só uma música. Havia, lógico, o risco claro de se nomear um representante de Zé Ramalho, afinal, dificilmente encontraríamos alguém minimamente tão competente quanto ele. Mas minhas dúvidas foram sanadas cedo. Sim, eles cantaram a música. E mais surpreendente, acompanhados pelo próprio Zé. Devidamente projetado, do dvd, numa tela ao lado do palco. Se a dupla propriamente dita cantou em playback eu não sei. Mas se cantou, foi a única musica assim. As outras foram, claramente, cantadas ao vivo.
Fora a dupla propriamente dita, o resto da banda também é muito boa. Um violonista solo que não deixa nada a dever aos guitarristas de qualquer banda de rock. Um cara que tocava acordeom que podia tocar em qualquer festa junina do nordeste. Um violinista, tomado da Família Lima que era um show à parte. Na verdade, acabei descobrindo nessa sexta que o casamento da Sandy com o Lucas Lima foi por interesse:
– Toma a Sandy pra vocês e me dá aqui um violinista bom! – teria dito o Xororó.
No final, como todas as duplas antigas, é claro que os dois quiseram mostrar que também podem ser “modernos”. Inventaram uma batida misturada de sertanejo com hip hop e depois com uma mixagem que eu, pessoalmente, achei muito ruim. Mas como todo mundo já tava em paz consigo mesmo e com o mundo, além de já ter aproveitado muito o show, ninguém ligou muito.
Pra encerrar, ao som da musica-tema do extinto especial Amigos, a banda reunida do centro do palco, numa despedida linda e emocionante. Enfim, um show em que valeu a pena pagar o ingresso e enfrentar o inusitado frio cuiabano!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Divagações sobre Harry Potter (Parte III)

Tem gente que já deve estar de saco cheio, mas as minhas divagações sobre a pré-estréia do sexto filme do Harry Potter estão terminando.
Como já disse, nunca fui um grande apreciador dos filmes do Harry Potter. Por um motivo principal: a adaptação é péssima! É verdade que quase nunca uma adaptação de livro fica boa na telona. São casos raros. Tão raros que agora não me ocorre nenhum!
Desde muito tempo atrás, a adaptação dos livros para o cinema é complexa e cheia de defeitos. Os produtores alegam falta de tempo e recursos. Dizem que para um filme ficar minimamente parecido com o livro, eles precisariam de um épico com varias horas de duração. O argumento tem fundamento, mas não convence completamente. Isso porque tirar alguns elementos do livro por economia de tempo é aceitável, mas introduzir conceitos e situações que modificam a idéia original do autor é um pouco de exagero.
Mas os filmes do HP são um caso à parte. Sinceramente, espero que a J.K. esteja ganhando uma bolada e tenha um saco de paciência pra deixar fazerem isso com a sua obra.
Tenho a impressão de que os produtores e diretores não leram os livros com metade do interesse de um fã, ou não cometeriam as aberrações que cometeram em todos os filmes até agora rodados. Desde o primeiro da série, até o quinto, todos eles tinham uma apresentação sofrível e completamente desconectada da obra original. Os dizeres que aparecem nos créditos “baseado na obra de J.K. Rowling” deveriam ser alterados para “levemente semelhantes a algumas poucas coisas da obra de J.K. Rowling”.
Mas o sexto filme se supera. Desde trechos que são importantes do livro completamente obliterados do filme até mudanças cruciais de comportamento das personagens, quase tudo é modificado.
Claro que não podemos ser irascíveis. Algumas mudanças são aceitáveis e até mesmo necessárias para que o filme se desenrole e tenha cenas de maior movimento. Mas a forma com as mudanças foram feitas.
Na verdade, o filme me parece mais uma forma de como não fazer uma adaptação de obra literária. Mudar o comportamento psicológico das personagens nunca dá um bom efeito, principalmente porque corre-se o risco de perder a sua identidade. E numa seqüência longa como Harry Potter, isso pode ter conseqüências, no mínimo, desagradáveis.
Transformar Harry Potter e o Enigma do Príncipe num melodrama de romance adolescente, como foi feito é demonstração de incapacidade de produção, é apelação, do tipo “já que não vamos fazer um filme bom de verdade, mudamos tudo pra tirar a atenção da nossa incompetência!”
O mistério do Príncipe Mestiço que dá nome ao livro e ao filme é citado superficialmente, en passant, como se não tivesse nenhuma importância. Outra grande falha é o fato de que no livro o período em que este passa é cheio de desaparecimentos, de situações perturbadoras, o cria um clima de mistério e suspense. Já no filme, Voldemort nem sequer aparece, salvo em lembranças de sua juventude. Não há o mesmo medo se infiltrando pelas frestas da janela como no livro.
E por falar nas lembranças juvenis de Tom Riddle, esta é outra grande falha do filme. No livro, Harry e Dumbledore avançam juntos, de lembrança em lembrança, reconstituindo toda a vida de Voldemort. Quase toda a sua vida é explorada e investigada e tanto Harry quanto o leitor passam a compreender alguns dos motivos que levaram Tom Riddle a ser tornar o mais maléfico bruxo que já existiu.
Já no filme, novamente, isso fica de lado, sendo só um item coadjuvante da história. Duas miseras lembranças são mostradas, ainda por cima incompletas. Novamente, muda-se o perfil psicológico do personagem. Voldemort é visto como um garoto arredio e sem atrativos, conquanto no livro é descrito como um jovem que chama atenção para si, tentando fazer com que todos o notem. Além disso, é charmoso e sedutor quando precisa. No filme, todos esses aspectos são deixados de lado, bem como outras lembranças, que serão imprescindíveis para as tarefas que aguardam nosso herói no sétimo livro. Coitado de Harry do filme, ele tem um trabalho muito mais difícil do que seu congênere do literário.
Com todas essas elipses da história, com tudo o que foi tirado, você deve estar se perguntando o que afinal o filme mostrou. Bom mostrou um bando de adolescentes, com os hormônios em fúria, flertando praticamente o tempo todo, tentando acertar suas vidas amorosas. Voldemort não é tão importante quanto Harry beijar a Gina! Até mesmo uma cena foi introduzida no filme, sem nenhuma correspondência com o livro, creio que apenas para demonstrar o amor de Ginevra por Harry: o ataque dos Comensais da Morte à casa dos Wesley.
Até mesmo Dumbledore deu uma de alcoviteiro, elogiando a garçonete que Harry cantou (ele fez isso?) numa pequena lanchonete ou perguntando, cheio de segundas intenções, qual o relacionamento entre Harry e Hermione.
Algumas mudanças mais objetivas também não surtiram um bom efeito, pelo menos naqueles que já leram os livros. Por exemplo, o fato de Comensais da Morte poderem voar e se transformar em fumaça. O que pouca gente entendeu é que, entre o lançamento do livro e o lançamento do filme, alguns Comensais da Morte ficaram treinando, acabaram evoluindo e se transformaram super Comensais-Sayajins nível 3!
De forma geral, o desenvolvimento do filme é sofrível, o que me faz ter medo do que vão fazer nas duas partes em que transformaram o sétimo livro. No sexto, recriaram a história como um High School Musical Mágico, com um dramalhão romancesco adolescente no lugar de uma aventura que poderia ser magicamente épica!

Divagações sobre Harry Potter (Parte II)

Continuamos nossas divagações sobre a pré-estréia do Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Como eu disse antes, a fila era descomunal. Mas uma coisa que pude notar naquele monte de gente era que a média de idade era bem baixa. Praticamente todo mundo ali era adolescente. Eu tava quase perguntando onde era a fila preferencial para idosos.
A média dos que esperavam na fila era tão adolescente que chegou a extremos de uma menina que estava logo atrás de mim dizer que o tumulto todo era causado porque “lá na frente só tem moleque!”. Olhando para o rosto frágil e delicado da menina que falou aquilo, não resisti e perguntei quantos anos ela tinha.
– dezessete – ela respondeu
Na mesma hora a amiga dela, que também não parecia ter muito mais idade, respondeu:
– Tá vendo! Quase uma criança e falando dos outros.
De novo não me contive e perguntei a sua idade também: vinte.
Não que isso seja um problema. O problema é só o surto hormo-potteriano que tomou conta da sala de cinema depois do começo do filme. Cada vez que entrava em cena algum ator mais ou menos bonito era a deixa pra histeria, gritaria, palavras de amor. Triste, triste.
Agora, o pior de tudo era que, pelo menos do pessoal que estava na mesma sala que eu, as pessoas pareciam levar as coisas do filme pro lado pessoal. Como se qualquer ato maléfico cometido contra seus personagens favoritos fosse cometido contra o próprio expectador.
E a tão esperada cena do beijo do Harry Potter? Parecia que o mundo ia desabar na minha cabeça. A barulheira que fez, de gritos, uns de apreço, outros de raiva, e alguns só pra fazer barulho junto. Nunca vi, ou melhor, ouvi uma coisa assim, a não ser em jogos de futebol.
De qualquer forma, apesar de certo constrangimento, afinal de contas, sou um homem adulto, assistindo um filme na madruga, cercado por adolescentes com os hormônios à flor da pele, acho que tinha o direito de estar lá. Até porque, quando eu comecei a ler as aventuras do bruxo mais famoso da atualidade, a maioria dos meus colegas de cinema nem mesmo sabia ler.

Divagações sobre Harry Potter (Parte I)

Ontem fui assistir à pré-estréia do filme Harry Potter e o Enigma do Príncipe, o sexto da série. Tanto por curiosidade mórbida, quanto por insistência da minha namorada. Não gosto nem nunca gostei muito dos filmes do HP. Afinal sou um leitor ávido dos livros da série e as adaptações para o cinema são muito ruins. Mas afinal de contas, me disseram que este seria melhor, que haveria mais proximidade com a história do livro, esse tipo de propaganda, na qual eu, ingenuamente, acreditei. A adaptação foi horrível de novo. Mas falo sobre isso depois.
Primeiro eu quero falar sobre a odisséia de HP 6. Não em virtude do tempo e do desgaste das gravações, que afinal foram também uma odisséia, nem do fato óbvio de que a série é épica. Mas da odisséia de enfrentar a fila para entrar no cinema. Nunca havia visto uma fila daquele tamanho para um filme.
Mas afinal a pré-estréia de Harry Potter e o Enigma do Príncipe era um evento ansiosamente esperado. Tudo bem que estou confuso com esse negócio de pré-estréia até agora. Afinal de contas, a estréia não é justamente o lançamento do filme? Então o que haveria de ser a pré-estréia? Seria um grupo de fãs ardorosos assistindo solenemente a chegada das películas ao cinema? Pois ontem descobri que não. A pré-estréia é afinal a estréia do filme. Só mudam o nome pra não desanimar os trouxas que não tem coragem, paciência ou saco pra enfrentar uma fila gigantesca pra assistir um filme no meio da madrugada.
Voltando à fila. Como eu disse, jamais tinha visto uma fila daquele tamanho para um filme. E olha que eu já filas grandes. Uma vez cheguei em uma fila às quatro da manhã, para uma entrega de senhas que começaria apenas às oito. E ainda por cima, recebi a senha 152, o que prova o grande interesse das pessoas naquela fila. A diferença? A fila era para a inscrição no sorteio de casas populares do governo estadual. Ou seja, algo um tiquinho mais importante do que um filme.
Mesmo assim, desconsiderando qualquer conceito que fazia de fila, dirigi-me aquela coisa descomunal, como um homem que vai à forca. Cheguei, pasmem, às oito horas da noite, para um filme que começaria só à meia-noite e um. Claro que não fui tão cedo com a intenção de criar raízes no saguão do cinema enquanto esperava um filme que eu nem estava tão ansioso assim pra assistir. Na verdade, eu queria aproveitar e fazer umas compras, comer alguma coisa, fazer uma hora. Duas horas pra falar a verdade, se levarmos em consideração que as lojas fechariam as dez.
Mas, seguindo os pedidos, quer dizer, as exigências da Paula, fomos lá ver se já tinha algum doido na fila. Para minha surpresa e, por que não dizer, certa indignação, não só tinha fila como uma fila já consideravelmente grande. Absurdo. Segundo a atendente da bomboniére, tinha gente desde sete e pouco na fila. O filme começaria só á meia-noite! Inacreditável.
Mais inacreditável que a própria fila, só a quantidade de gente que tentava furar a fila. É incrível a falta de respeito e educação que as pessoas têm. Poxa, tinha gente há horas naquele lugar, inclusive eu, mesmo a contragosto. Porque outros espertinhos tinham que se dar melhor? Até mesmo uma conhecida minha, graduanda em Direito, fez furou a fila.
Mas quem tentou se dar bem não teve muita sorte. Fora um ou dois que conseguiram sem maiores problemas, a maioria acabou por passar vergonha. Quando tentava passar na frente de alguém era imediatamente rechaçado e tinha de sair da fila sob vaias de todos. Se eu disse que a fila tava grande, imagina ser vaiado por todos...
A parte boa de uma fila desse tamanho é que você acaba fazendo amigos, conhecendo pessoas, descobrindo afinidades. Numa espera de tanto tempo como foi ontem, não tem jeito de ficar impassível. Normalmente começa com um simples pedido para ir ao banheiro e segurar o seu lugar. Ou então com a revolta com as indignidades cometidas contra os partícipes da fila. Não demora muito, a conversa já fica quase íntima. Se brincar, estão trocando confidências. No caso de ontem então, com um monte potters-fãs juntos, não havia quem não fosse amigo do seu companheiro de fila.
Por fim, depois de quase quatro horas de espera e tortura (“nunca mais vou numa pré-estréia” é a frase mais ouvida na noite!) conseguimos entrar na sala. Mas não se engane, nossa epopéia está só no começo. Ainda tem mais.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

China

Em todo lugar do mundo tem massacres e combates entre policia e cidadãos. Até no Brasil de vez em quando tem disso, se bem que não muitos, já que o brasileiro não protesta muito mesmo. Mas em nenhum lugar do mundo tem tanto disso quanto na China.
O país que tem a maior população do mundo também tem o maior número de combates entre a China do Governo e a China do povo. E quanto povo! Quando já estamos esquecendo uma pancadaria, lá vem outra.
Tudo bem que o país é grande e multiétnico. Mas daí a estar sempre batalhando, já é um pouco de exagero. Em qualquer lugar civilizado existem lá os seus conflitos, mas normalmente é uma coisa mais tranqüila, mas pacífica. Os policiais fazem contenção e os manifestantes ficam lá gritando e esbravejando seja contra o que eles esbravejam. Sem porrada, sem violência. Em países subdesenvolvidos a história normalmente é outra. A policia baixa o cacete mesmo, desse a porrada. As vezes apanha, mas em geral bate mais. Dá uns tiros com bala de borracha e joga umas granadas de efeito moral, essas coisas. Mas o negócio é só pancadaria. Quando alguém morre, o bicho pega de verdade. Imprensa, igreja, ONG’s, vem todo mundo pra cima, não importa quem matou e quem morreu, quem bateu e quem apanhou. Muito menos quem tava certo. Porrada pode, matar não!
Já na China a coisa é um pouco diferente do resto do mundo. Lá a polícia não faz contenção nem baixa porrada. Na China a polícia mata mesmo, sem dó! Quando você vê noticia de manifestação na China, os locutores de noticiários nunca se preocupam com o que exatamente estavam em discussão, ou contra o que as pessoas estavam protestando. Se preocupam mais em anunciar quantas pessoas morreram. Como quem diz: “Olha, aqui é feio, mas lá é bem pior!”
Não vou dizer que isso não aconteça em outros lugares. A repercussão das eleições iranianas que o digam. Só que ainda assim a China se destaca em questão de matanças por dois motivos principais: em primeiro lugar, nas outras partes do mundo, o enfoque ainda é o motivo que ocasionou a manifestação e a (ou as) morte(s) é apenas um subproduto. Já na China a morte é o enfoque e o motivo da manifestação, quando mostrada, é só pra determinar onde ou como o sujeito morreu. Segundo, em qualquer outra parte do mundo, a polícia matar alguém durante uma manifestação é algo tão absurdo que a única conseqüência previsível é outra manifestação. Na China, é tão banal que quando não acontece é que chama a atenção.
Não sei bem porque que lá acontece assim. Porque num país tão grande quanto a China o desrespeito e o descaso com os diretos de seus cidadãos seja tão grande. Talvez seja justamente porque é grande e tenha a maior população do mundo. De repente, por lá se pensa que não faz muita diferença matar uns aqui e outros ali. Sempre tem mais gente pra substituir. Na China, matar um monte de gente durante uma manifestação não é massacre, é controle populacional!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Lixos

Depois de sobreviver ao Collor, ao início do Real, à todas as crises do dólar e da economia mundial e a à tudo que esse mundo globalizado, ou seja, aquele em que, por mais longe que estejamos da China, cada espirro lá a gente escuta por aqui quase que instantaneamente, achei que já não me surpreenderia com nada que visse em termos de economia.
Mas devo confessar que, apesar de não ser ovo, fiquei chocado com a mais nova moda de importações brasileiras: LIXO!
Isso mesmo, o bom e velho lixo. Desembarcando em contêineres nos portos do Rio de Janeiro, de Santos e do Rio Grande do Sul. Cheios de lixo doméstico vindo de várias partes da Europa. Itália, Inglaterra, etc.
Ainda não entendi bem o conceito dessa importação. Mas é difícil crer que não produzimos lixo brasileiro em quantidade suficiente para atender a demanda nacional de desastres naturais, poluição e emporcalhamento que, ao que parece, tem sido uma das atividades mais prazerosas que o brasileiro tem realizado.
Digo isso por que parece-me que todos fazem isso. E sentem até mesmo um certo prazer algo lúbrico com a atividade de poluição e sujação toda. Parece um esporte nacional. Ah, se houvesse um modalidade de poluição nas Olimpíadas. Seriamos quase imbatíveis, perdendo, talvez, para os EUA. Mas só porque eles tem mais experiência e tempo de prática!
Mas voltando à importação de lixo, não acho que haja alguma relação entre esta atividade aparentemente lucrativa e uma baixa produção de lixo brasileira. Antes pelo contrário. Tenho a impressão, muito forte por sinal, de que a produção de lixo nacional supera em muito as expectativas. Somos um povo que se esforça nesse sentido. Não economizamos copos descartáveis, garrafas pet, papel, nem nada disso. Reciclagem então, pra que isso? Agora, se tem algo em que somos realmente imbatíveis para usar e jogar fora, sem a menor preocupação, é a sacola plástica de mercado!
Os empacotadores parecem ter prazer em por a maior quantidade possível de sacolas em suas mãos, cometendo absurdos de por um só produto em cada uma. E não estão nem um pouco preocupados com a sua necessidade:
- Vou por o refrigerante em duas sacolas porque em uma só arrebenta e cai quando você andar de moto.
- Mas eu estou de carro!
- tudo bem, então eu ponho três!
Não sei se isso é uma forma de vingança contra o patrão por baixos salários, do tipo “Se não vai me dar um aumento, vai gastar com sacolinhas!”
Pode ser. Ou então eles receberam um suborno do fabricante das sacolas:
- Se você dobrar o gasto das sacolas, te dou dez por cento.
- Fechado!
Bom, já que o problema não parece ser nossa produção de lixo, então porque a importação de lixo?
Me deram uma possibilidade que acho viável, se bem que precisa ser mais estudada. Já que, por princípio, tudo que é importado é melhor, desde carros até queijos, então porque não importar também o lixo?!
Teríamos, assim, um lixo de qualidade, não essa bagunça que vemos por ai, nos lixões que se espalham nas periferias das cidades (não digo nem mais das grandes cidades. Qualquer cidade que tenha mais de 10 habitantes já tem um lixão!) a céu aberto, quase como um monumento ao novo esporte nacional!
- Nossa, jogaram uma sacola com lixo na frente da minha casa essa noite. Que horror!
- É, mais era uma sacola Versace!