terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pés de Barro

Estamos em ano eleitoral. Em menos de duas semanas estaremos escolhendo novos Presidente, Governador, Senador e Deputados. E o que mais se houve por aí não são propostas, mas acusações.
As redes sociais são um ótimo veículo para se propagar campanhas difamatórias. O facebook está cheio disso. Acusações e críticas sem fundamento nenhum.
Particularmente, tenho minhas próprias idéias e ideais. Sou de centro-esquerda, apoio o intervencionismo do Estado na economia e a atuação do Governo para redistribuição de renda. Sou contra o liberalismo econômico e a privatização em massa de órgãos e serviços públicos.
Tudo bem, essas são minhas idéias e ninguém tem a menor obrigação de concordar com elas. Mas eu vivo pelas minhas idéias, não sou, como disse meu amigo Ricardo Lacerda, éons atrás, um “homem-bomba de festim”. Ajo de acordo com o que penso.
Mas o tenho visto ultimamente é uma onde de fúria desvairada contra o Governo, o PT, o Lula e a Dilma, principalmente por conta dos programas sociais, de gente que se apóia nesses mesmos programas.
Segundo esses críticos, o trabalho, e apenas o trabalho, deve elevar a condição do homem. Quem não trabalha não deve ganhar nada de graça. Bolsa-família é ajudar vagabundo a não trabalhar. Auxílio-reclusão é incentivar o banditismo. Programas sociais em geral são movimentos de natureza comunista e subversiva que tiram dos trabalhadores e dão para os que não trabalham.
Pessoalmente, eu discordo. Pra mim, explorar o trabalhador não é dar R$ 70,00 para uma mãe de família para que dê comida e leite para seu filho, porque ela ganha menos de um salário mínimo. É trabalhar um quinto do que um trabalhador de verdade, e ganhar aposentadorias milionárias, como o FHC, que é aposentado como Professor da USP (só lembrando que foi ele quem chamou os professores de vagabundos por se aposentarem com “apenas” 25 anos de contribuição!”) mais salário de senador vitalício, pensão como anistiado político entre outras rendas.
Incitar o banditismo não é pagar uma remuneração relativamente pequena para uma família necessitada que esta sofrendo por conta do erro do marido e pai (lembrando á todos, ou pelo menos àqueles que estudam ou estudaram direito, que a Constituição garante que a pena não pode ultrapassar a pessoa do réu. É baseado nesse princípio que se funda o auxílio-reclusão!).
Mas essa é apenas minha opinião. Como eu disse, fiquem à vontade para discordar.
O que eu não aceito muito bem é quem critica o Governo do PT, falando que ele só fez mal para a economia, mas não perde a oportunidade de pegar um empréstimo consignado. Pra quem não sabe, foi o Lula quem autorizou esse tipo de financiamento, que é bom para o servidor, mas não tanto para os bancos, já que os bancos perderam empréstimos pessoais e do cheque especial com juros de até 10% ao mês, para consignados, que tem juros médios de 2% ao mês.
Também não concordo com gente que critica o Governo pelas obras do PAC e outros financiamentos públicos de obras, mas comprar sua casa pelo Programa Minha Casa Minha Vida, que é do PT e diminuiu em mais da metade o déficit habitacional brasileiro e reduziu a especulação imobiliária. Antes, só quem tinha dinheiro podia comprar casa. O resto morava de aluguel, enriquecendo uns poucos.
Também acho estranho quem critica tanto o Governo por conta das cotas raciais e sociais nas universidades (com as quais, diga-se, só concordo com as sociais e com restrições.) mas entrou na faculdade pelo PROUNI (que não acho particularmente interessante) ou pelo FIES (esse sim eu acho bacana!). Muitos brasileiros que hoje tem ensino superior só conseguiram por conta desses programas sociais, mas mesmo assim, adoram criticar e falar que o governo fez tudo errado.
Só para constar, é importante lembrar que, em 1995, quando o FHC assumiu a Presidência, o Salário Mínimo era de R$ 100,00, Ao final do seu mandato, tinha subido para R$ 200,00, um aumento de 100%, com direito à um incrível aumento de UM REAL, lembram disso? Já no Governo do PT, o Salário Mínimo subiu dos R$ 200,00 para R$ 724,00, um aumento de mais de 300%. E o Aécio ainda diz que o Governo do PT não fez nada pelo trabalhador...
Liberdade de opinião é essencial. Cada um deve ter o direito de pensar da forma que quiser. Mas se pensar de uma forma e agir de outra, para mim é hipocrisia. Não adianta nada ser um santo tão bonito, se tem os pés de barro!

Campanha

Essa semana, o Jornal Bom Dia Brasil, um noticiário que sempre achei interessante, está fazendo uma rodada de entrevistas com os candidatos à Presidência da República. Na verdade, são duas rodadas completamente diferentes. Uma, de meia hora, com os preferiti e outra, com uns 45 segundos com os menos cotados em pesquisas.
A discriminação começa aí. Porque uns tem todo o tempo do mundo e os outros um espaço irrisório, onde a “entrevista” é conduzida por apenas um repórter, que nem é dos mais incisivos? Onde fica a democracia, o todos são iguais e tudo isso que tanto governo quanto a mídia pregam?
Bom, deixando isso de lado, temos as entrevistas com os favoritos das pesquisas. Nesta segunda, foi a Presidenta Dilma. Na terça, o Senador Aécio Neves. Se entre os candidatos mais bem colocados na pesquisa e os menos votados existe discriminação, entre os principais a coisa também não fica atrás.
Na entrevista da Dilma, o sistema foi: “Eu te acuso, se você conseguir sair, eu te interrompo!” A Dilma foi interrompida sem a menor cerimônia por todos os entrevistadores. A Miriam Leitão, que supostamente é um paradigma de retidão, praticamente não deixou a mulher falar. A Dilma teve que ser grossa para poder ser ouvida: “O debate não é comigo? Então, deixa eu terminar de falar!” Essas foram as palavras da Presidenta.
O interessante é que toda a entrevista versou apenas sobre acusações que pesam sobre a Dilma. O caso Petrobrás? Como o Paulo Roberto Costa conseguiu se tornar diretor da Petrobras? Não é errado a Dilma falar na campanha que o programa da Marina é prejudicial para o país? O tempo todo foi só pancada.
Claro que a Dilma não perdeu o seu jeito doce e delicado, igual coice de mula. Mas diante do árduo trabalho do Globo em acusá-la, isso até justifica.
Mas o que mais me deixou intrigado é que o nesta Terça, quando entrevistou o Aécio, a postura foi outra. O homem falou o quanto quis. Eu contei, ele teve resposta que durou mais de quatro minutos, sem nenhuma interrupção.
Nas raras ocasiões em que os repórteres intervieram, ele os ignorou ou mandou que eles esperassem ele terminar. A Ana Paula Araújo chegou se desculpar pela interrupção, baixando a cabeça, como uma aluna do jardim de infância que foi pega numa travessura. A Miriam Leitão, que chegou ser áspera e agressiva com a Dilma, ficou muda; uma samambaia faria mais diferença.
O único que teve algum desempenho próximo do que foi na segunda foi o Chico Pinheiro e ainda assim com ressalvas.
Mas o mais interessante é que, enquanto todas as atenções da Dilma foram nos escândalos de corrupção, na entrevista com o Aécio, nada foi mencionado. Não se falou no Mensalão Tucano, na Privataria Tucana (que, por sinal, o Aécio que por pra funcionar de novo!), nas denúncias de desvio de verbas da saúde do governo mineiro enquanto Aécio era Governador e, principalmente, o escândalo do momento: o Aeroporto na Fazenda do Titio!
Não, a entrevista de Aécio focou apenas no seu plano de governo, que por sinal não existe ainda. Segundo o candidato, até antes da eleição ele vai finalizar. Até lá, é só confiar que quando ele for eleito Presidente tudo vai dar certo. Durante os 30 minutos de entrevista, Aécio não apresentou nenhuma proposta concreta, apenas críticas ao que o Governo Petista vem fazendo nos últimos 12 anos. Dizer o que ta errado ele sabe, mas o que fazer para melhorar, isso já tem idéia.
Na verdade, a Luciana Genro, em 45 segundos de entrevistas, apresentou mais propostas sólidas do que Aécio em meia hora.
Nesta quarta, teremos Marina Silva no Bom Dia Brasil. Se ela for tão boa quanto o Aécio, com propostas tão consistentes, tenho medo do futuro do país.