domingo, 31 de janeiro de 2010

Selvagem!?

Texto publicado no site Olhar Direto em 16 de março de 2010
Link: http://www.olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Selvagem&id=1471 

O Luis Fernando Veríssimo tem um texto em que o pai de um universitário chega de surpresa para visitar o filho, que estuda em uma outra cidade. Ao chegar, o pai, machista convicto, tem certeza de já entraria no apartamento do filho, nas palavras do autor, “nadando num mar de peitos e bundas”. Todo dinheiro mandado para o filho é na esperança de que seja construído um harém. Ao invés disso, o filho gasta tudo em livros e materiais de pesquisa. “Mas nem uma empregada bonita, filho?!” diz o pai ao ver a idosa secretária do filho.
É a apologia da frustração. E também é ridículo, porque o que, teoricamente, se espera de um filho universitário é justamente que ele estude e tal, não que ele fique o tempo todo festando e bagunçando. Toda a propaganda feita em cima de um bom garoto cai no momento em que o pai descobre que o filho é justamente o bom garoto, e não o menino-problema que todos esperam e que o pai, intimamente, elogia.
Tomadas as devidas proporções, tenho a impressão de que os turistas que visitam o Mato Grosso pela primeira vez se sentem mais ou menos como esse pai. No imaginário popular dos forasteiros, Mato Grosso é uma selva primitiva, que ainda abriga os maiores segredos de um Brasil selvagem e insondável. Parece haver uma idéia de que ao chegarem se depararão com índios transitando em suas tangas mínimas e índias completamente nuas, com jacarés e onças transitando pra lá e pra cá e com uma sociedade primitiva e sem instrução.
E são surpreendidos da mesma forma que o pai quando chegam aqui e se deparam com uma sociedade formada, evoluída (ou quase) e avançando e não com ocas e uma vila agropastoril com camponeses semi-instruídos. E, definitivamente, sem jibóias como animais de estimação.
Tudo bem que temos problemas de aldeias. A educação é de péssima qualidade, a saúde nem se fala e metade das nossas estradas mais parecem uma trilha no meio do mato. Mas também temos os, digamos, problemas de gente grande: violência, transito caótico, favelas, etc.
Não estou falando isso num tom xenófobo ou preconceituoso. Estou falando com conhecimento de causa. Não foram poucas as vezes que, em conversas com pessoas que nunca vieram no MT, que me perguntaram se era verdade que ao invés de cachorros e gatos, nossos animais de estimação eram onças e outros animais selvagens. Nem se, por acaso, eu conhecia muitos índios. Outro dia mesmo eu estava no aeroporto, que algumas pessoas sequer imaginam que exista, quando chegaram alguns turistas americanos. Claramente assustados com a civilidade do lugar. Certo, certo. O nosso aeroporto não é lá essas coisas, principalmente o desembarque, mas comparando com o que eles claramente esperavam, ele é até bastante evoluído. Provavelmente esperavam algo no estilo dos filmes de Hollywood, com pista de terra batida e tochas servindo como iluminação da pista.
Cheguei mesmo a ouvir um garoto dizendo ao seu pai: “Dad, where are the animals? Here isn´t the Jungle?” (Pai, cadê os animais? Aqui não é a Selva?) Claro que pelo menos o guia turístico não iria decepcioná-lo. Quem visse o sujeito, como todos no aeroporto, achava que ele tinha saído direto de uma savana africana. Só de susto, olhei pra trás, pra me certificar que não tinha um leão (ou uma onça) vindo de algum lugar.
É claro que por motivos que me parecem óbvios, com o Pantanal bem ai e tal, alguns mato-grossenses tem um pouco mais de contato com a vida selvagem. Mas daí a serem selvagens, é outra história.
Por fim, acho que a única coisa realmente selvagem que temos no Mato Grosso é a corrupção política, que avança nos nossos pescoços e arrebenta com a nossa jugular. Mas isso até São Paulo tem.

Sem Limites para amizade

Simples, trivial e absolutamente emocionante. Essa é a melhor definição para o novo filme protagonizado por Richard Gere, Sempre ao seu Lado. Ao lado de super-produções como Avatar e Sherlock Holmes, é uma história simples, que aparentemente pode acontecer com qualquer um de nós, que se mostra envolvente e passional ao extremo e prova que não é necessário ter grandes histórias ou roteiros aventurescos para ser um sucesso.
Uma história que mostra a amizade extrema de um cachorro para seu dono, o filme é um remake de um clássico japonês da final dos anos 80, por sua vez baseado numa história real, ocorrida nas primeiras décadas do século passado.
É incrível o que o diretor sueco Lasse Hallström consegue fazer, girando o filme basicamente em torno de um cachorro. Tanto Gere, quanto Joan Allen são meros coadjuvantes no filme, enquanto Hachi, o cão da raça Akita, uma raça puramente japonesa, rouba a cena. E o filme deixa claro a importância do cão, sempre mostrando-o e tendo até mesmo cenas do ponto de vista do cachorro.
Quem assistiu Marley e Eu  pode ter um leve sensação de deja vú, mas a comparação termina nos primeiros minutos do filme. Enquanto Marley pende para o cômico, Sempre ao seu Lado é passional desde o começo, sempre calcando as atitudes das personagens na pura emoção. Desde o momento em que o professor de música Parker Wilson encontra o filhote, ou é encontrado por ele, até o momento em que termina o filme é difícil não se emocionar, mesmo nos momentos mais cômicos.
Mas é mostrando a profunda amizade entre homem e animal, amizade que venceu até mesmo a oposição inicial da esposa do professor Parker, Cate, brilhantemente interpretada por Joan Allen, que o filme ganha o público.
Sem entrar em detalhes sobre o que acontece na película, podemos dizer que é a maior e mais profunda demonstração de afeto e lealdade apresentada na cinema atual. Outra prova do caráter emocional do filme é a cena em que Ken, o amigo de Parker, interpretado por Cary-Hiroyuki Tagawa, explica por que Hachi não gosta de brincar de pegar a bolinha: “Ele é um cão japonês, não americano, ele não se vende!”
Outra coisa que contribui para criar o clima do filme é a trilha sonora, composta por Jan A.P. Kaczmarek, que envolve o espectador e o mantém preso à poltrona até o último latido.
Em resumo, um filme emocionante, que nos faz refletir sobre o verdadeiro significado de sentimentos como amizade, lealdade e respeito. E podem preparar os lenços de papel: quem vai assistir não sai da sala de cinema sem ter derramado pelo menos uma lágrima.

Força G

Mais um texto perdido nos meus arquivos...
data original: 16 de agosto de 2009 
 
Os porcos estão fazendo sucesso! E não é só por causa da gripe suína. Explico: estou falando dos porquinhos-da-índia do filme “Força-G”, novo sucesso de Jerry Bruckheimer, produtor de “Piratas do Caribe”.
Fugindo da linha tradicional dos últimos filmes infantis, em que tudo é feito na base da animação, Força G é feito em computação gráfica, além de ter cenas reais, o que dá um efeito muito bom. Somando-se isto ao fato do filme ter sido feito em 3D e o diretor vencedor do Oscar por efeitos especiais por “O Segredo do Abismo”, Hoyt Yeatman, não restam dúvidas de que o filme tem cenas de tirar o fôlego.
Então o sucesso está garantido, certo? Depende. Principalmente do que se entende por sucesso. Para Bruckheimer, salas cheias e gordas bilheterias, algo que, com certeza, “Força G” vai conseguir. Para a média do público para quem o filme é dirigido, ou seja, as crianças inocentes em busca de emoção aventura e diversão, o filme com certeza também é um sucesso. Porquinhos-da-índia cheios de tecnologia, charme e muita esperteza conquistam qualquer um.
Já para os críticos mais puristas, como este charlatão que vos fala, o filme não é lá essas coisas. Falta um roteiro bem centrado, uma história com um desenvolvimento lógico e, principalmente, uma seqüência de idéias. Você nunca sabe de verdade qual o tema central do filme, se a dominação mundial por um vilão meio doido, se a demonstração de força de um grupo sub-valorizado pos seus superiores ou se a busca pela origem das personagens.
Mas é preciso deixar claro que esse tipo de analise é o que pode-se chamar de pedantismo crítico ou preciosismo cinematográfico. O que vale é saber se o filme agrada à quem é dirigido. E quando à isto, não restam dúvidas. “Força G” empolga as crianças não só pelo carisma de suas personagens mas também pelas cenas de ação, típicas de mocinho-e-bandido, temperadas com muita tecnologia e diálogos modernos e atuais.
Aos críticos que disserem que o filme é muito “sessão da tarde”, algo que não vale a pena ir ao cinema e pagar um ingresso, uma sugestão: levem seus filhos ou qualquer outra criança para ver o filme e vejam se ele se diverte. Se o garoto sair de lá sorrindo, pode ter certeza de que o filme é  um sucesso e você estava errado.

Inducação

Esse texto foi escrito à algum tempo atrás, mas não sei porque ficou engavetado. Aproveito agora para pubicá-lo.
Data original: 15 de agosto de 2009

Hoje em dia fala-se muito nos males do país: a corrupção, a pobreza, as desigualdades sociais, etc. e tal. Mas o pior dos males do Brasil hoje, a meu ver, é a falta de educação! Tive um exemplo claro disso noite passada quando fui assistir um espetáculo no teatro.

Só o fato de ter que chegar mais de uma hora antes do início do show para garantir um bom lugar seria, por si só, algo de causar espanto. Não é! É algo normal e corriqueiro. Esperável diante de qualquer circunstancia. Me perdoem o meu provincianismo, mas ainda acho isso irritante.

Mas, como diria meu avô, o que não tem remédio, remediado está. Vamos ao teatro mais de hora antes do início do espetáculo. A fila é um momento interessante para observação e catalogação de espécimes humanas! São as mais variadas, desde jovens, que inclusive não deveriam estar ali, devido à censura da programação, até senhores distintos, à primeira vista, não muito afeitos a um espetáculo de humor. Não tinha dito que era um espetáculo de humor? Pois era! Por falar nisso, era o espetáculo “Improvável”, do grupo “Os Barbichas”. E eu tinha me prometido não fazer propaganda....

Tudo estava indo muito bem, até começarem a chegar os furões. É incrível como o conceito de “fila indiana” se perdeu há muito tempo. Hoje em dia, as filas começam retas e ordeiras, mas vai chegando a hora do espetáculo, ou seja lá o que esteja sendo esperado, a ponta da fila começa a tomar uma forma meio arredondada, como se inchasse.

Vista de cima, a fila deve ter o feitio de um grande pirulito. Algo bastante simbólico, visto que os otários que chegaram cedo ao evento, esperaram em pé na fila e, principalmente, não passaram na frente de ninguém, acabam chupando o dedo.

O inchaço é causado, claro, por causa de todas as (muitas) pessoas que chegam em cima da hora do espetáculo e acabam “coincidentemente” encontrando alguém no inicio da fila. Sabe, o engraçado é que quando eu chego mais tarde em algum lugar e coincidentemente encontro alguém na ponta da fila eu paro, cumprimento, bato um papinho rápido e depois vou lá pro fim da fila, porque afinal de contas, eu cheguei depois. E se eu pretendo ficar conversando com esse amigo, eu vou no final da fila, marco meu lugar (afinal, sou justo, mas não sou burro) e volto pra conversar com ele. Enfim, foi assim que mamão me ensinou.

E não adianta reclamar com ninguém da organização. A maioria diz que não pode fazer nada, que não tem como coibir esse tipo de coisa, etc. Na verdade, falta é organização e vontade de trabalhar. Se quisesse, dava pra resolver o problema, sim. É que dá trabalho!

Bom, depois de algum estresse, algumas discussões e um bocado de reclamações, entramos. Eu, minha namorada e mais um punhado de fura-filas. Achei de todos os problemas tinham ficado do lado de fora. Pronto, passou, tudo bem!

Ledo e ivo engano. Antes de qualquer espetáculo, o Cine Teatro Cuiabá (pra quem não sabe um patrimônio histórico-cultural do Estado) apresenta um pequeno filme sobre a historia da sua reabertura. Algo interessante para que possamos conhecer nossa própria cultura. Mas quem disse que eu consegui ouvir alguma coisa?! Uma balburdia tão grande tomou conta do auditório que se tivesse em um show de rock eu poderia ouvir melhor!

Não bater palmas. Não adiantou tentar chamar a atenção. Não adiantou nem mesmo eu gritar pra pedir silencio! Isso mesmo, eu gritei pedindo silencio, tal a minha indignação, mas acho que ninguém ouviu...

Se você esteve no Cine Teatro Cuiabá na noite de 15 de agosto, às 19 e trinta e ouviu um grito de “silêncio!”, saiba que fui eu mesmo. Se você gostou do meu gesto, nos solidarizamos juntos. Se não gostou, azar o seu, você é um mal educado que não respeita os outros!

Por fim, apesar do show ter sido ótimo, saio com o triste pesar de que a educação estar em baixa na capital mato grossense. Fico pensando que pensarão os integrantes da trupe humorística no seu regresso, ao analisarem nosso comportamento. Será que concluirão que somos os bárbaros incultos cujo nível de civilidade ainda não atingiu os patamares aceitáveis? Pelo que vi ontem, não existe nada que mostre algo mais favorável...

Pra onde foi a magia?

Dwayne Johnson, conhecido antigamente como o lutador de vale-tudo “The Rock”, tenta seguir uma trilha diferente dos seus colegas de luta que migraram para as tela de cinema: ser um bom ator! E vinha conseguindo isso. Carismático, sempre com alguma piada e aparentemente sem fazer esforço para conciliar músculos com boa atuação.
Em filmes como Com as Próprias Mãos e Bem-vindo à Selva ele se saiu muito bem, sem desapontar nem seus fãs da época da luta, nem parecer um boneco sem expressão para os amantes do cinema.
Mas cometeu um erro grave ao fazer parte do O Fada do Dente. Um filme que tinha uma idéia muito boa, uma proposta interessante e um elenco que inclui Ashley Judd e Julie Andrews e ainda a participação mais que especial de Billy Cristal, o filme tinha tudo para decolar.
Mas com um roteiro que se perde no meio do caminho e erros crassos de produção, o filme decepciona. Seguindo a linha da série Meu Papai é Noel, o longa trás a historia de um homem que perdeu suas fantasias e acha que deve fazer o mesmo com todos que encontra. Mas depois de quase dizer para a menininha Tess (Destiny Whitlock) que a Fada dos Dentes não existe, ele perde a namorada Carly (Ashley Judd) e ainda por cima é condenado pela própria Fada-Chefe do Dente (Julie Andrews) a passar duas semanas recolhendo dentes de crianças.
Até aí, tudo bem. A clássica história de quem perdeu suas esperanças e se vê jogado nelas sem direito à apelação. Mas ao invés de seguir um roteiro seqüenciado, com a progressiva mudança de pensamento, e de explicar com coerência a origem dos seus problemas, o filme prefere focar em como o trabalho como Fada do Dente acaba atrapalhando sua vida pessoal e profissional.
Além disso, a aproximação de Derek (Johnson) com o filho mais velho e problemático de Carly, Randy (Chase Ellison), é caótica, sem muita lógica. A participação de seu conselheiro Tracy (Stephen Merchant) também é bastante estranha. Ao contrario do que se prevê em filmes do gênero, não é uma relação de ódio que melhora com a mudança do protagonista. Em alguns momentos, Tracy parece querer ver a danação de Derek, em outros, logo depois, o trata como seu melhor amigo. Tudo isso para depois descobrirmos que não passa de pura inveja.
Outro erro grave do diretor Michael Lembeck é não aproveitar as presenças de Ashley Judd e Julie Andrews. As duas não chegam nem a ser coadjuvante de tão irrisórias são suas participações. São mais figurantes no filme. Com atrizes desse peso, seria de esperar que tivessem uma participação bem maior.
Agora, se o roteiro tem erros, a produção técnica nem se comenta. As asas das fadas parecem feitas de papelão, numa clara demonstração de que a produção não foi muito cuidadosa. Os efeitos especiais, numa era em que os efeitos são metade do filme, também não são lá essas coisas.
Mas o pior de tudo é o espectador poder ver as girafas, os microfones altos para a captação de som ambiente, aparecendo no meio das cenas. Um diretor que vir isso tem um ataque cardíaco. No meio da cena, lá vem, não só a ponta, mas todo o equipamento. Não me surpreenderia se numa cena qualquer fosse visto um assistente ou outra pessoa da produção.
Entretanto, apesar de todos os defeitos, Johnson consegue se sair razoavelmente bem. Sem roteiro e sem produção, o ex-lutador consegue arrancar boas risadas do publico. Não tem o mesmo apelo emocional da franquia Meu Papai é Noel, e não impressiona muito o público, mas ainda assim vale a pena assistir (se você não tiver mais nada pra fazer!). O típico filme da Sessão da Tarde.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um Clássico Redivivo (ou Sherlock in Home)

Crítica publicada originalmente no site Olhar Direto em 11 de janeiro de 2010
http://www.olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Um_Classico_Redivivo_ou_Sherlock_in_Home&id=1255 
 
A nova era do cinema mundial tem mostrado heróis cada vez mais aventurescos e ativos. E com a atual onda das adaptações das histórias em quadrinhos para o cinema, já estava na hora da literatura clássica ter a sua chance. É nesse ponto que surge o novo filme de Sherlock Holmes.
Vivido por Robert Downey Jr., o histórico detetive ressurge depois de quase 30 anos longe das telas. Entretanto, para os amantes do personagem de Sir Arthur Conan Doyle, o filme causa um certo choque. Acostumados com a fleuma do detetive dedutivo, que nunca faz nenhuma atividade física sem necessidade e que resolve boa parte dos seus casos sem nem sair de seu quarto no número 221b da rua Baker, os espectadores definitivamente não irão reconhecer o indivíduo briguento, teimoso e desleixado que protagoniza o filme.
Se fosse uma mera adaptação de alguma das muitas obras literárias, seria um fiasco. Entretanto, o diretor Guy Ritchie resolveu recriar Sherlock Holmes à sua própria maneira. E acertou em cheio.
Sem recorrer à nenhum tipo de histórico nem tentar explicar quem é ou como surge o maior detetive de todos os tempos, o filme acerta ao simplesmente deixa-lo existir, como alguém a quem todos conhecem e entendem, quase como parte sine qua non da arquitetura londrina. Com um roteiro intenso e movimentado, o diretor repagina um ícone da literatura mundial de uma forma que seja palatável à nova realidade, fazendo-o mais agitado e irônico, mas mantendo a inteligência superior e o incrível poder de dedução do detetive. Além disso, a habitual calma britânica fica de fora do roteiro do blockbuster, dando lugar à um filme cheio de ação e aventura, desde a primeira cena.
Por falar na primeira cena, os leitores habituais de Doyle, que já conhecem o desprezo com que Holmes trata os oficiais da Scotland Yard, a polícia britânica, não se decepcionam ao notar um claro ceticismo do detetive para com a competência dos agentes da lei. E a primeira cena já demonstra essa dicotomia. O espectador não sabe exatamente se o personagem esta agindo junto à Yard ou se está sendo perseguido por ela.
Assim, enquanto alguns aspectos literários são completamente ignorados no filme, outros são bastante explorados, como o respeito da própria polícia para com Holmes. Apesar de não saber o que o detetive vai fazer e de não entender como ele chega às suas conclusões, os oficiais da lei, na maioria das vezes representados pelo inspetor Lestrade, apóiam e auxiliam Holmes nas mais loucas aventuras.
Outra coisa que obrigatoriamente tem de ser citada é a participação do fiel companheiro de Holmes, o Dr. John Watson. Normalmente calmo, controlado, totalmente dedicado ao parceiro (chegando mesmo a ser excessivamente protetor), meio covarde e até mesmo cético, na tela Watson é sarcástico e algo agressivo, salvo em poucas cenas, como no momento em que, ao perseguir outro personagem, Holmes cai de uma janela e pede pelo Doutor, sem conseguir sua ajuda.
Brilhantemente interpretado por Jude Law, o Dr. Watson do filme é mais egoísta, aparentemente mais preocupado com seu casamento do que com o desenrolar dos acontecimentos dos casos que investigam. Com o andamento do filme, porém, fica  claro que todo este distanciamento é apenas fachada e que o bom Doutor continua um parceiro fiel e dedicado.
Vale destacar também a atuação brilhante e impecável de Rachel McAdams como Irene Adler, a única pessoa no elenco capaz de acompanhar Downey Jr. e Law, sem ser ofuscada pelo brilho dos dois.
Juntando personagens de várias histórias diferentes, Ritchie constrói uma trama envolvente e agitada, com muita ação e aventura. Com um final de quero mais, o filme mostra que mesmo os mais clássicos podem ser adaptados e reescrito sem perder a originalidade e ainda assim atrair um público cada vez mais exigente, que busca ação do início ao fim da película.