segunda-feira, 8 de março de 2010

Novos Ventos na Academia

Publicado no Site Olhar Direto em  11/03/2010
link: http://olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Novos_ventos_na_Academia&id=1461

Finalmente foram entregues as estatuetas do Oscar 2010. Depois de mais de um mês de expectativa, conhecemos os vencedores do maior prêmio do cinema mundial. Mas o prêmio da Academia sempre foi uma coisa meio suspeita. Afinal, nem sempre os melhores foram premiados.
Prova disso foi Martin Scorsese, um dos maiores diretores do cinema, mas que só ganhou a estatueta em 2007 com Os Infiltrados. Entretanto, apesar de ganhar 4 prêmios, o próprio Scorsese afirmou que foi o pior dos seus filmes, mesmo que fosse muito bom. Scorsese é Scorsese.
Outra tendência sempre presente da premiação do Oscar é instigar algum tipo de rivalidade, de competição, entre dois filmes e depois simplesmente dar todas, ou pelo menos a maioria das estatuetas para apenas um deles. Em geral, o de maior bilheteria. Assim, as grandes produções como Titanic e Gladiador sempre tiveram um destaque muito maior do que seus “primos pobres”, os  filmes de menor orçamento.
Dessa forma, o novo filme de James Cameron, Avatar, produção de 500 milhões de dólares e recordista de bilheteria (tendo até mesmo desbancado outro titã de Cameron, Titanic), era franco favorito para levar a maioria das estatuetas.
Só que não foi bem assim que aconteceu. Numa mudança de sistemática, a Academia premiou o filme mais pobre e que só teve visibilidade devido às críticas e às premiações internacionais, Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow.
Segundo o José Wilker, que comentou a premiação durante a transmissão da Globo, o Oscar 2010 revelaria a tendência do cinema nos próximos anos. Se isso for verdade, aparentemente os filmes bilionários, com produções eminentemente técnicas, ficaram em segundo plano, tendo primazia os filmes de mais conteúdo.
Ao ganhar 6 prêmios, incluindo o de Melhor Direção e Melhor Filme, Guerra ao Terror mostrou que não é preciso muito dinheiro (o orçamento do filme foi de “meros” 11 milhões, quantia irrisória se comparado à Avatar) para se fazer um filme de qualidade.
Entretanto, a Academia manteve pelo menos uma tradição: a de dar a maioria dos prêmios para apenas uma produção. É patente que o roteiro de Avatar é fraco e sem muita profundidade e que a atuação dos atores não é a melhor possível, salvo talvez a interpretação de Sigourney Weaver (que injustamente não mereceu nem um aceno, que dirá uma indicação da Academia).
Entretanto, tecnicamente é uma produção primorosa e praticamente sem falhas. Então nada mais natural do que a maior parte dos prêmios dessa área ficarem nas mãos de Cameron e sua equipe. Concorrendo com Avatar estariam apenas filmes como Distrito 9, Star Trek e Transformes: A Vingança dos Derrotados. Mesmo assim, num ato inexplicável, a Academia concedeu à Guerra ao Terror alguns prêmios técnicos, como mixagem de som e edição de som e melhor edição. Quem entende do ofício, com certeza ficou, no mínimo, intrigado com essa premiação.
Uma surpresa foi o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, vencido pelo argentino O Segredo dos Seus Olhos, do diretor Juan José Campanella, desbancando o favoritíssimo A Fita Branca, da Alemanha. Mais uma demonstração de que, ao menos neste ano, orçamentos milionários não tiveram o efeito desejado.
Outra surpresa, bem menos grata foi a premiação de Up – Altas Aventuras, como Melhor Trilha Sonora, afinal, tanto Avatar quanto Sherlock Holmes empolgaram muito mais nesse quesito.
De resto, o Oscar foi bastante previsível. Sandra Bullock, por Um Sonho Possível, e Jeff Bridges, por Coração Louco, como Melhores Atriz e Ator eram praticamente favas contadas, já que andaram ganhando todos os festivais que concorreram mundo afora. Certo que o trabalho de Bridges foi um pouco mais difícil, já que concorria com outros atores de peso como George Clooney, Colin Firth e Morgan Freeman. Mas mesmo assim, uma premiação justa e esperada.
Nas categorias Ator e Atriz Coadjuvante também não ouve surpresas, com as vitórias fáceis e esperadas de Christoph Waltz, por Bastardos Inglórios, e Mo’Nique, por Preciosa, vez que também ganharam praticamente todos os prêmios que concorreram.
No quesito figurino, a Academia não perdeu seu norte, ao premiar novamente um filme de época, A Jovem Rainha Victória.
Também como era de se esperar, Up – Altas Aventuras venceu também o prêmio de Melhor Animação, mesmo sendo um filme até certo ponto denso e pesado para crianças.
O Melhor Roteiro Original ficou, como já era esperado, para Guerra ao Terror, apesar de alguns ainda apostarem em Bastardos Inglórios, pela forma como reconta a história. Já o Melhor Roteiro Adaptado ficou com Preciosa, com justiça.
Outros prêmios que foram entregues com justiça foi o de Melhor Maquiagem para Star Trek e de Melhor Canção, para “The weary kind”, de Coração Louco.
Dessa forma, apesar das nove indicações, Avatar, apontado por muitos como o grande favorito da noite, levou apenas três estatuetas, sendo de Melhores Efeitos Visuais, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte.
O fato de Avatar ter conseguido só a metade dos prêmios de seu grande rival e de estes prêmios serem apenas técnicos (lembrando que ainda acho que Avatar poderia ter levado outros prêmios de ordem técnica) pode dar a impressão de que as produções multimilionárias estão com os dias contados.
Não concordo! Só acredito que a premiação deste domingo indica que dinheiro é bom e efeitos especiais impressionam, mas um bom roteiro e um bom elenco ainda são indispensáveis.

sábado, 6 de março de 2010

Várias Variáveis

Originalmente publicado no site Olhar Direto, no dia 06/03/2010
http://www.olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Varias_Variaveis&id=1448
 
Existem, basicamente, duas formas de se transportar um livro paras as telas: a adaptação, na qual o diretor tenta recriar o livro no filme, e a versão, onde o diretor pega o tronco principal da história e o transporta para um novo cenário. Pelo menos, é assim que eu vejo a coisa.
A adaptação tem a vantagem de ser mais palatável aos fãs do livro. Quer dizer, é sempre meio frustrante você saber como a historia se desenrola e quando vai ao cinema não nada daquilo que você esta esperando. O problema é que adaptar um livro para o cinema requer sensibilidade na hora de cortar as cenas e de mudar o roteiro. Até porque, dependendo do livro, se ele for adaptado fielmente, o filme vai ter a duração de uns três dias. Alguns diretores tiveram essa sensibilidade, sabendo o que poderiam tirar do filme, sem provocar a ira dos fãs do livro ou sem macular a história.
Peter Jackson, diretor da trilogia Senhor dos Anéis é um exemplo clássico. Soube dar ênfase nas passagens em que a descrição narrativa do livro não conseguiu chamar tanta atenção e fez cortes que são quase irrisórios se você pensar na historia como um todo.
Alguns dirão, não sem certa razão que fica fácil pra Jackson ter feito isso, afinal contava com um orçamento milionário e pode fazer não um, mas três filmes. Para responder, cito outro diretor que teve a mesma habilidade em adaptar um livro para as telas: Marc Forster, diretor de O Caçador de Pipas. Com um orçamento bem mais modesto que o de Senhor dos Anéis e sem a possibilidade de estender seu filme por uma trilogia, Foster capta as mais sutis e sublimes cenas que há no livro, transportando-as para o filme, transformando este numa adaptação fiel e emocionante.
Por outro lado, a versão conta com a vantagem de ser mais maleável e de dar mais liberdade ao diretor, ensejando uma maior gama de possibilidades. É o caso de Percy Jackson e o Ladrão de Raios. baseado no primeiro volume da série Percy Jackson e os Olimpianos, de Rick Riordan, o filme revisita a história de uma perspectiva diferente, usando o livro apenas como base.
Talvez por causa da experiência dos dois primeiros filmes de Harry Potter, que na minha opinião foram só passáveis (o restante chega a ser horrível mesmo!) o diretor Chris Columbus resolveu não arriscar e tentar adaptar completamente o livro, coisa que seria impossível mesmo.
Assim, tomando algumas liberdades tanto com a história de Riordan quanto com a mitologia grega, o diretor redesenhou a história de tal forma que os fãs do livro vão ter dificuldades em achar ruim, e aqueles que apenas assistiram o filme possam dificilmente vão achar maçante ou desencantador.
Apesar de haver no livro cenas que poderiam ser adaptadas para a telona e que fariam a ação do livro ser ainda mais interessante, o filme não perde em aventura para o livro.
Fazer uma versão de um livro é sempre um risco. Risco maior ainda é entregar os papéis principais do filme para três atores praticamente desconhecidos do grande público como Logan Lerman, que fez o personagem título, Brandon T. Jackson, que fez o fiel companheiro de Percy, Grover e Alexandra Daddario, a amiga inteligente e ocasionalmente o par romântico de Percy, Annabeth Chase.
Por isso, o diretor acertou em pôr, para balancear esse time relativamente inexperiente, atores de peso como Pierce Brosnan (da série 007), Uma Thurman (KillBill) e Sean Bean (Senhor dos Anéis), além de grandes atores, em papeis secundários, como Catherine Keener (O Virgem de 41 Anos) e Joe Pantoliano (Os Bad Boys & Matrix). Sem esquecer, claro, de Rosario Dawson como a mais gata Perséfone de toda a história. Dessa forma, esses atores deram peso e maturidade à um elenco de outra forma bastante novo, formado por adolescentes.
Entretanto, seja por estarem em tão boa companhia, seja por terem mais maturidade do que aparentam, esse time de novatos não deixou a desejar. Com diálogos rápidos e bem humorados e uma interpretação praticamente livre de falhas ou de canastrice, Percy Jackson e sua turma mostraram que vieram pra ficar e fazer sucesso nos cinemas de todo o mundo.
Dois comentários entretanto tem de ser feitos: primeiro, a forma como foi construído o Hades, o mundo inferior na mitologia grega, o fez parecer muito com o inferno católico. Quem conhece um pouco de mitologia sabe que não é bem assim. Literalmente, o inferno não é tão feio quanto pintam.
Segundo, definitivamente, faltaram ganchos para a continuação da história. Só para lembrar, Percy Jackson e os Olimpianos é uma série em cinco volumes. No filme entretanto, não parece haver muitas deixas para o que vai acontecer no desenrolar da história, salvo pequenas coisas mal concluídas.
Talvez isso se deva à uma falta de confiança do próprio diretor na sua obra, ou a falta de confiança do estúdio no sucesso da película. Seja como for, Columbus vai ter alguns problemas para conseguir fazer a seqüência. Se bem que com a maestria com que conduziu o primeiro (um fato que eu consideraria impossível depois de Harry Potter e a Câmara Secreta) ele parece estar à altura da tarefa.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O hábito não faz o monge....

Crítica publicada originalmente no site Olhar Direto em 05 de março de 2010
http://olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=O_habito_nao_faz_o_monge&id=1442 

Horrível! De uma forma ou de outra, essa é a palavra que deve descrever o novo filme do diretor Joe Johnston, O Lobisomem. Da forma boa, horrível no sentido de assustador, coisa a que o filme se propunha, sendo, ao menos teoricamente, um filme de terror. Da forma ruim, horrível por ser uma produção de baixa qualidade. Infelizmente, o filme é horrível no segundo sentido.
Com um elenco maravilhoso, que incluía nada mais, nada menos que Anthony Hopkins, Benício Del Toro, Hugo Heaving e Emily Blunt, O Lobisomem tinha tudo para ser um sucesso, mas é apenas a prova de que um bom elenco não faz um sucesso.
Pode-se dizer que a direção gastou o que podia com o cachê dos atores e não deixou nada para o roteirista, por que definitivamente é essa parte que estraga o filme. Com uma história batida, sem nada de novo e sem nenhuma profundidade, O Lobisomem lembra um filme trash dos anos 80.
A história do forasteiro que chega pra investigar a estranha morte de um parente (no caso o irmão) e acaba envolto num mistério maior do que jamais imaginara, a existência de dois monstros, um mau e o outro bom, que se enfrentam e a salvação pelo amor da mocinha são os pontos de roteiro mais clichês que o cinema já concebeu. E são exatamente estes os temas principais do filme. O único ponto de salvação do roteiro é o final, de certa forma surpreendente, que deixa de lado o tradicional “happy end” do cinema hollywoodiano
Mas isso ainda não é o pior. Fora o roteiro digno de um filme de quinta categoria, os efeitos também deixam muito a desejar. Na era dos efeitos especiais, com Avatar e companhia limitada dando um show atrás do outro, as transformações de O Lobisomem parecem ter sido produzidas no fundo do quintal da Tia Mary. Um desavisado que assista ao filme sem saber do que se trata pode muito bem achar que está assistindo a Sessão da Tarde.
A transformação se dá em espasmos, com cortes de câmeras grosseiros e o próprio lobisomem é extremamente mal feito, sendo visível a simples colagem de pêlos no rosto de um ator. Depois dos lobisomens de Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban e de Lua Nova, era de se esperar que um filme dessa envergadura mostrasse uma transformação melhor do que a de Um Lobisomem Adolescente (filme teen da década de 80).
A única coisa que salva o filme é a atuação impecável de Hopkins e Del Toro. Mesmo com um roteiro fraco e com falas piegas e cheia de clichês, quando os dois estão em cena, principalmente juntos, é certeza de que algo de bom sai. Obviamente, as melhores cenas dos dois são aquelas que tem menos diálogos, como a do retorno do personagem de Del Toro para casa, onde a interpretação vale mais do que qualquer fala ou roteiro poderia tentar traduzir.
Por fim, se você não assistiu, não perdeu grande coisa, por que não acho que valha o trabalho de sair da sua casa e até o cinema para ver. Dá pra esperar chegar nas locadoras, quiçá esperar na TV aberta mesmo. Se você assistiu, minhas sinceras condolências, porque deve ter saído da sala de projeção com a mesma sensação de primeiro de abril que eu.