quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Camisa 10



Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.719, em 20 de junho de 2013.
Esta semana nossa seleção estreou na Copa das Confederações. Muito foi dito sobre a estreia, sobre como foi bela a vitória brasileira por 3 à 0 sobre o Japão, como o camisa dez jogou bem, entre outros. E tenho que admitir, foi mesmo, apesar de não ter sido espetacular foi uma boa atuação. Ainda não é aquele time com que sonhamos.
Mas, de tudo, o que mais me chamou a atenção foi o camisa dez, o bola da vez, Neymar. Não o gol relâmpago ou as jogadas, que, por sinal, ainda não chegam aos pés daquelas que estamos acostumados à ver no Santos, mas sim a Camisa 10 que ele vestia, por sinal, a mesma que ele vem vestindo desde o amistoso contra a Inglaterra.
E um questionamento me veio a mente durante o ultimo jogo: como é que a camisa 10 foi parar com o Neymar? Nada contra ele, que fique claro, o considero um bom jogador, porém existem algumas considerações sobre a camisa 10 que devem ser levadas em conta. Até 1950, não havia numeração dos jogadores nas Copas do Mundo. Na Copa do Mundo do Brasil de 1950 (é, acreditem, essa não é a primeira Copa no Brasil!) foi implantado o sistema de numeração, feita através da ordem alfabética da lista de inscrição dos atletas.
Assim, o primeiro camisa 10 da Seleção Canarinho foi Jair da Rosa Pinto, na época, ponta-esquerda do Palmeiras. Duas copas depois, em 1958, por uma desses acasos do destino, o décimo nome da lista alfabética da seleção brasileira era uma garoto magrelo, chamado Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé.
O garoto prodígio de 17 anos, que encantou o então técnico da seleção Paulo Machado de Carvalho, transformou, nas quatro copas que disputou com a camisa 10, um simples número num manto sagrado, reservado somente aos melhores e maiores craques de seus times. Depois de Pelé, a camisa 10 passou a ser vista como referência de arte e beleza, de inteligência e elegância.
Anos depois, outros jogadores, como Rivelino, Zico, Raí, Rivaldo e Ronaldinho (o Gaúcho, em seus áureos tempos) continuaram a mesma tradição iniciada por Pelé, mantendo a 10 em boas mãos, ops, em bons pés!
Mas nos últimos anos, estamos carentes de um bom camisa 10, aquele em que sentimos a segurança de um armador concentrado, que domina a jogada e que chama a responsabilidade para si.
Talvez eu esteja errado e o Neymar se prove esse camisa 10, mas até agora ele não mostrou nem o estilo nem a posição de um verdadeiro 10. Afinal de contas levar a camisa 10 nas costas e toda uma seleção disputando uma Copa em casa pesa muito, e não acho que Neymar tenha um bom físico capaz de segurar e levar nas costas esse peso. Vou seguir observando e torcendo para que ele dê conta do trabalho.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Como uma Onda

Publicado originalmente no Jornal "O Diário", edição 1.715, em 13/06/2013
“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Assim começa a música “Como uma onda”, de Lulu Santos. Apesar a música ter sido composta em 1983, ou seja, trinta anos atrás, ela me ocorre muito frequentemente nos dias atuais.
Tudo por causa das recentes matérias sobre supostos manifestantes que protestavam contra os aumentos das passagens de ônibus em São Paulo, Goiânia, Natal e Rio de Janeiro. É difícil imaginar como é que essas pessoas podem “protestar” contra o aumento da passagem de ônibus, se fazem questão de destruir e depredar bens públicos, nesse caso os próprios ônibus! Quem é que eles acham que vai pagar essa conta ao final da festa?
Na verdade, o problema não é só com as passagens de ônibus, mas sim com a forma de protesto, que nesse caso virou bagunça, destruição. A dilapidação dos princípios morais e a sucatização da educação (por educação, entenda não só o ensino escolar, mas também a educação que as crianças e jovens recebem dos pais em casa) tende, cada vez mais, a fazer com que os nossos jovens “protestantes” não passem de massa de manobra para pessoas oportunistas que não querem a melhoria das condições, mas sim a simples e pura desestabilização da sociedade, com o vandalismo e a destruição física e psicológica da população.
E não precisamos ir muito longe. Em março desse ano, estudantes universitários da Universidade Federal de Mato Grosso manifestaram contra o fechamento da Casa do Estudante mantida pela Universidade no bairro vizinho à instituição. Entretanto, o que aconteceu, de verdade, é que a UFMT queria fechar a casa fora do terreno da Universidade, com vaga para 50 alunos, em virtude da inauguração da moradia dentro do campus, com capacidade para 60 alunos, sem custo para os estudantes.
Os estudantes alegaram que não queriam “desfazer os laços de amizade criados com os vizinhos” e também queriam café da manhã de graça e quartos com ar-condicionado. Lógico que eles estão com a razão, afinal que absurdo é esse de se oferecer casa de graça onde existem regras contra festas e balbúrdias, sem comida e ar-condicionado gratuito?! Até eu protestaria...
Claro que a manifestação terminou em pancadaria, com a Polícia Militar obrigando a passeata a terminar dentro do tempo que lhe foi autorizado e agredindo os pobres estudantes que apenas se defenderam com pedras e pedaços de paus da PM. São todos inocentes, claro!
Quem é mais velho (e mais ligado em política e história) já deve ter pelo menos ouvido falar de dois movimentos marcantes para a história do mundo: o Domingo Sangrento, na Rússia Czarista, onde o padre George Gapon, cujo único objetivo era entregar ao Czar uma petição em que denunciava maus tratos e péssimas condições de trabalho, conduziu pacificamente os manifestantes, que cantavam hinos religiosos e o Hino Imperial “Deus Salve o Czar”, foram brutalmente atacados pela guarda palaciana, deixando 92 mortos e centenas de feridos.
Outro protesto importante foi o Massacre da Praça da Paz Celestial, da China, em que cerca de cem mil manifestantes pacíficos foram atacados por tanques militares. O Massacre da Praça da Paz Celestial rendeu uma das mais famosas imagens da história, quando um jovem desconhecido enfrenta, solitário e desarmado, uma fileira de tanques de guerra, fazendo a fila toda parar. Segundo a Cruz Vermelha Chinesa, cerca de 2.600 manifestantes morreram. Não houve baixas entre os soldados.
Mesmo no Brasil, quem, pelo menos, nunca ouviu falar dos Caras-Pintadas? Um movimento pela ética no governo, que protestava contra as medidas impopulares e a corrupção do governo Collor, que culminou com a primeira, e única, cassação de um chefe de governo brasileiro.
Uma coisa em comum une todos esses movimentos e os diferencia dos protestos da atualidade: apesar de toda a repercussão e elevada quantidade de manifestantes, não se tem notícias de vandalismo, de destruição ou de qualquer tipo de abuso por parte dos manifestantes!
Além disso, tanto os manifestantes do Padre Gapon, quanto os estudantes da Praça da Paz Celestial e os Caras-Pintadas nunca esconderam quem eram. Lutavam por um ideal e, por isso mesmo, sempre se orgulhavam desse ideal mostrando sempre seus rostos e seus desejos.
Já os atuais destruidores de ônibus, estes saem às ruas com o rosto coberto, para não serem identificados. E mesmo quando não escondem o rosto, se escondem atrás de palavras de ordem e de gritos de guerra cujo sentido mal compreendem.
Infelizmente, vinte anos atrás, Lulu Santos já nos avisava do por vir. Pena que não nos preparamos. Agora é tarde! Quem sabe, se esperarmos mais um pouco, “Tudo muda o tempo todo no mundo”.



Quantas aposentadorias é possível aposentar?!

Publicado originalmente no Jornal "O Diário", Ed. 1.711, em 06/06/2013
Nesse domingo, foi denunciado mais um abuso com o nosso dinheiro: o Presidente da Câmara de Vereadores de Recife, capital do estado de Pernambuco, Senhor Vicente André Gomes, é aposentado por invalidez pela Câmara dos Deputados, recebendo uma aposentadoria no valor de mais de R$ 26 mil. O pior de tudo é que o vereador, que nasceu com uma deficiência física de má formação no braço, é aposentado por problemas cardíacos!!!
Além disso, o vereador, que diz optar por não receber pelo mandado como vereador, ainda recebe um salário de mais de R$ 5 mil como médico, pela prefeitura do Recife e pretende se aposentar novamente, dessa vez por tempo de serviço na prefeitura.
Não é a primeira vez que vemos políticos com mais de uma aposentadoria. O Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso recebe uma aposentadoria como professor da Universidade de São Paulo, faz jus à aposentadoria como Ex-Senador, que alega não receber por opção, e ainda faz jus à diversas regalias por ser ex-presidente, como remuneração mensal, carros com motoristas e seguranças.
Estes não são os únicos casos. Vários Ex-senadores e Ex-Governadores integram a lista de acumulo de aposentadorias, entre os quais se destaca o Ex-Governador de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Pedro Pedrossian, que recebe aposentadoria pelo governo nos dois estados.
Agora, eu fico imaginando quantas aposentadorias uma pessoa comum, que nunca se elegeu em um cargo público, pode receber. A resposta, a julgar pela quantidade de processos previdenciários nos nossos tribunais, é: nenhuma!!!
Aparentemente, seguir a legislação previdenciária, contribuindo para a Previdência Social por longos 35 anos, 30 se for mulher, não tem dado muito certo. Acho mesmo que o negócio é se candidatar à Deputado mesmo...
Só para mostrar o contraste das coisas, conheço o caso de uma professora do Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT que, mesmo já tendo passado, e muito, do tempo de contribuição (para professores, são 25 anos. Ela já tinha mais de 32 anos), não conseguiu se aposentar por tempo de serviço por ser, acreditem, muito nova: só 48 anos. Ela teve que trabalhar mais dois para poder aposentar.
Assim, diante de tudo isso, Bob Dylan provavelmente diria: “Quantas aposentadorias é possível aposentar?”. Quem sabe um dia, cada pessoa se aposente uma vez só para que todos sejam aposentados com dignidade.

N.A.: Adaptado do primeiro verso da música Blowin´in the Wind.