sexta-feira, 4 de julho de 2014

Dias de Copa: O Vampiro Uruguaio

Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº 1.923, em 04/07/2014.


O que se define como violência? Segundo o dicionário a definição, ou pelo menos uma delas, para violência é o constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém. Tudo bem, essa é uma definição literal. Mas no dia a dia, tendemos a mensurar a violência, a classificá-la, graduando sua importância e sua intensidade.
Essa semana, vimos um caso histórico: a violência cometida pelo jogador uruguaio Luis Suarez no jogo contra a Seleção Italiana, em partida pela Copa do Mundo. Mas o que realmente causou estranheza e repercussão foi a natureza da agressão. Estamos acostumados a ver em jogos de futebol chutes, socos, cotoveladas, até cabeçadas. Mas quando Suarez mordeu o zagueiro italiano Giorgio Chiellini, parece que ele ultrapassou todos os limites do razoável.
A mordida, ocorrida durante a partida que decidia quem se classificaria para as Oitavas de Final e quem voltaria para casa, causou uma repercussão em toda a mídia, principalmente na imprensa italiana e inglesa. Bom, os italianos estavam revoltados (e com razão, né!) porque a expulsão de Suarez poderia ter alterado todo o panorama do jogo. Mas a pressão exercida pela mídia inglesa sobre o caso foi o que mais me chamou a atenção.
Desde o dia da partida até o anúncio da punição pela FIFA, os ingleses não perdoaram e exigiram da entidade uma punição severa. Anunciada a punição, os jornais ingleses foram rápidos ao afirmarem que a punição era justa e coerente com a violência. É curioso lembrar que o time inglês foi eliminado da Copa do Mundo, ainda na primeira fase, após perder, na estréia, para a Itália por 2 à 1 e para o próprio Uruguai também por 2 à 1, com dois gols de Luis Suarez. Coincidência ou a mídia inglesa está tentando tirar a atenção da pífia campanha da Seleção Britânica na Copa do Mundo?
Também a punição em si é bastante grande. Suarez foi banido da Copa do Mundo de 2014, suspenso de jogos oficiais da Seleção Uruguaia por 9 jogos, o que tira o atacante da Copa América de 2015 e de boa parte das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, mais uma multa no valor de R$ 250 mil e também a proibição de participar de qualquer evento desportivo até outubro. Isso quer dizer que Suarez não pode nem se hospedar no mesmo hotel que a celeste, nem torcer no estádio nem treinar com o Liverpool, seu time atual, durante 4 meses.
Certamente, qualquer ato de agressão deve ser punido e com rigor. Mas acredito que proporcionalidade e bom senso também devem fazer parte disso. Quando o craque francês Zidane deu uma cabeçada no zagueiro Materazzi, em 2006, foram apenas 3 jogos de suspensão. Em 94, o lateral brasileiro Leonardo deu uma cotovelada no americano Tab Ramos que causou a fratura do nariz e traumatismo craniano. Mesmo assim, foram 4 jogos de suspensão.
Em todos os casos, os agredidos tiveram que ser substituídos, alguns mesmo ficando afastados dos gramados por um tempo. No caso de Suarez, a mordida não gerou qualquer consequência mais danosa; Chiellini continuou em campo para ver seu time perder pelo gol de Godín.
Houve apenas um caso de punição maior que a de Suarez: em 94, Diego Maradona pegou 15 meses de suspensão por uso da droga estimulante efedrina.
Até mesmo o agredido Chiellini disse, em post nas redes sociais, que acha a punição severa demais. Afinal de contas, não poder nem mesmo torcer para a sua seleção é algo que beira a crueldade.
No fim, fica a dica: se você estiver num jogo de futebol e sentir vontade de fazer algo violento, dê um pontapé em alguém, isso é normal. Morder já é violência.

Dias de Copa: A Surpresa

A Copa do Mundo é um evento grandioso, empolgante, quase místico. E para algumas seleções, pode-se dizer que também é mítico. Isso porque algumas seleções ganham o direito de jogar uma Copa do Mundo não porque são boas, mas apenas porque não tem outra melhor.
Além disso, com as atuais políticas de igualdade, é importante respeitar os direitos de todos. Assim, as vagas são divididas por continentes. E, convenhamos, alguns continentes não tem muitas opções de seleções realmente valentes.
A verdade, ainda que nem todos gostem de ouvir, é que são duas Copas: uma durante a fase de grupos, onde todos têm alguma chance e a fase de mata-mata, que é quando a coisa aperta de verdade. Na segunda parte é que as seleções que de fato jogam alguma bola se encontram. E, normalmente, isso se resume à seleções européias e sul-americanas.
Algumas chegam como favoritas, seja porque tem um campeonato nacional recheado de craques e times com dinheiro e estrutura para formar bons jogadores, como a Itália e a Inglaterra. Outras são favoritas porque foram campeãs ou se destacaram em copas passadas, como França, Holanda e Espanha. Claro que também temos aquelas seleções cujos países são os provedores de craques para os times de Europa, como o Brasil, o Uruguai, a Nigéria e a Argentina.
Outras seleções chegam com a esperança de que sobre alguma vaguinha no mata-mata. São as intermediárias. Mas também tem aquelas seleções que vem para o mundial quase que só para completar as 32 seleções. Chegar ao Mundial já é a grande conquista. Não perder todos os jogos é uma vantagem. A obrigação mesmo é tentar não tomar muitos gols nem interferir no brilho das grandes seleções e dos grandes craques.
Só que algumas vezes, apenas de vez em quando, surge algo inesperado, uma novidade, uma surpresa quase inimaginável. Nessa Copa, a surpresa é a Costa Rica.
A Costa Rica, que chega à sua 4ª Copa do Mundo, sempre foi uma das seleções que serviam apenas para contar no currículo das grandes. Em 2014 não se esperava nada de diferente, afinal, caindo no chamado Grupo da Morte, com outros três campeões mundiais, a questão era apenas de quem a Costa Rica iria tomar mais gols para definir o saldo dos outros.
Ledo engano. A Seleção Costarriquenha surpreendeu o mundo ao vencer as poderosas seleções uruguaia e italiana e empatar com a Inglaterra, se classificando em 1º em um grupo considerado por muitos como o mais difícil.
Mais do que isso, ao se classificar em 1º, garantiu um confronto com outra seleção que surpreendeu no Mundial, a Grécia, mas que parece ainda um adversário frágil. Isso quer dizer que, se jogar o futebol que apresentou na primeira fase, a Costa Rica pode chegar às Quartas de Final da Copa do Mundo, um feito histórico.
A classificação da Costa Rica foi tão inesperada que até mesmo a comissão técnica e a imprensa costarriquenha não acreditaram nisso. O hotel onde a Costa Rica está hospedada estava reservado apenas até o fim da fase de grupos. As reservas foram prorrogadas às pressas. Boa parte dos jornalistas que vieram apenas acompanhar a seleção no mundial acabou perdendo a reserva dos vôos de volta, porque já tinha passagem marcada para após o jogo contra a Inglaterra.
A lição que fica é que, nunca confie muito no futuro, afinal, a gente nunca sabe a Costa Rica que vai passar no nosso caminho.