quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dias de Copa: Os Favoritos

Publicado originalmente no site Olhar Direto em 08/07/2010
 http://olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Dias_de_Copa_Os_Favoritos&id=1911
 
É incrível como nessa Copa do Mundo a maioria dos grandes favoritos decepcionou. Parece a revolta dos desacreditados!
Dos principais favoritos que caíram, encabeçam a lista, claro, França e Itália. Chegando cercados de pompa e com o favoritismo na bagagem, os dois times não emplacaram e foram eliminados ainda na primeira fase.
O time francês, nosso eterno algoz, foi o maior fiasco dessa Copa. Apesar de ter chegado à Copa com uma “mãozinha” do árbitro sueco Martin Hansson, depois de uma “mãozona” do atacante Henry, a seleção francesa era considerada favorita para o Mundial, pois mesmo com a aposentadoria de Zidane e companhia, o time tinha muitas promessas.
Mas a ausência de Zidane tirou do grupo o espírito de equipe, deixando uma guerra de egos que o Brasil conhece muito bem. Nessa guerra, o maior soldado era o próprio técnico Raymond Domenech, mais preocupado em provar suas próprias convicções do que em fazer o time jogar como um time de verdade. Só pra exemplificar, uma de suas (loucas!) convicções era escalar o time através dos desígnios claro e seguros do horóscopo! Quem diria... Assim, a seleção francesa voltou pra casa levando uma das suas piores campanhas em Mundiais: duas derrotas, um empate e nem uma mísera vitória!
Já a seleção italiana desembarcou na África do Sul trajando seus ternos elegantes e charmosos, defendendo o título mundial de 2006, e arrotando imponência. O que se viu foi um time decadente e velho, sem renovação, que sucumbiu à própria fama e estourou sob a pressão de sua apaixonada e passional torcida. No final, acabou a Copa triste e desiludido, também sem vencer um único jogo, e pensando que talvez seja a hora de parar de acreditar que é o melhor time do mundo e começar a jogar futebol de verdade.
A Costa do Marfim era a grande fera africana para esse Mundial. Unindo a velocidade e habilidade naturais dos africanos e a obediência tática aprendida por seus atletas que atuam na Europa, esperava-se muito dessa seleção. Junto com Brasil e Portugal, formava um dos mais complicados grupos da Copa.
Mas a fama sucumbiu ao Mundial. Com seu maior astro, Didier Drogba, lesionado e jogando pouco, o que se viu foi um time desorganizado e sem criatividade, que prescindia mais de força do que de técnica. No jogo contra o Brasil, por exemplo, os marfinenses eram mais gladiadores do que boleiros. Enfim, ficou pela primeira fase, com a certeza de que, para se dar bem em uma Copa do Mundo, é necessário mais do que um único jogador.
A Inglaterra era outra grande esperança de show dessa Copa. Das grandes favoritas, foi provavelmente a que mais fez aquilo que se esperava. Ninguém tinha qualquer pretensão acerca da habilidade dos jogadores ingleses, mas sempre se imaginou um jogo bem marcado e taticamente correto. E foi isso que se viu.
Somente dois jogadores ingleses impunham certo receio aos seus adversários: o atacante Rooney e o volante Gerrard. O meio campo fez tudo aquilo que se esperava dele, marcou, armou e apareceu na área para finalizar. Nunca foi tido como um craque ou um prodígio, mas como um jogador mais habilidoso que a maioria. E foi exatamente isso.
Já Rooney foi uma das grandes decepções individuais dessa Copa. Era mais um marco, um toten de referência, do que um jogador de futebol. Houve mesmo alguns jogos em que a única vez em que se ouviu seu nome foi durante a escalação. Jogando com um a menos durante quase todo o tempo, a Inglaterra fracassou, se classificando em segundo do grupo, atrás da sua antiga colônia, os Estados Unidos, e ainda assim, num jogo com arbitragem bastante duvidosa. Na sequência, acabou perdendo nas oitavas para a Alemanha, uma das surpresas da Copa, num jogo marcado pela falta de habilidade, tanto de jogadores quanto da arbitragem.
Portugal foi mais um time favorito eliminado nas oitavas-de-final. Apesar de parecer mais uma filial do time brasileiro, Portugal era tido como uma das favoritas por seu desempenho na última Eurocopa e também pelo desempenho individual dos seus jogadores nos clubes em que atuam.
Entretanto, seu maior astro, Cristiano Ronaldo, praticamente não jogou, desaparecendo em campo. Isso, somado à contusão do brasileiro Deco, fez de Portugal um time lento e sem criatividade, jogando o mínimo possível, quase como um urso que se prepara para hibernar. Jogando desse jeito, Portugal teve uma atuação somente passável, fora, claro o 7x0 sobre a Coréia do Norte, e não empolgou muito. Quando enfrentou a Fúria Espanhola, dançou ao som de castanholas e foi eliminado.
Outra grande decepção dessa Copa foi a própria seleção brasileira. Não sei o que foi que o Dunga pensou quando convocou esse time, mas definitivamente não foi em jogar como o Brasil sempre jogou. Numa seleção acostumada à jogar sempre pra frente, prezando a habilidade e o futebol-show, o que se viu foi um time sem criatividade, mais preocupado em não tomar gols do que em fazê-los e que se ocupava mais com a formação tática do que o natural gingado brasileiro.
Com poucos jogadores realmente criativos e habilidosos, que ainda por cima jogaram muito abaixo do esperado e do possível, era fatal sua eliminação, apesar de toda nossa torcida. Não deu outra! Perdemos para a Holanda ainda nas quartas-de-final, num jogo que foi o ápice da duplicidade: um primeiro tempo perfeito, um segundo tempo desastroso. Sem criatividade nem liderança dentro de campo, o Brasil perdeu mais para si mesmo do que para os outros.
Caindo também nas quartas, esteve a Argentina. Considerada uma das sensações da Copa, apesar da campanha irregular nas eliminatórias, a Argentina fez uma primeira fase impecável, vencendo seus jogos com relativa facilidade. Mas sua grande estrela, Lionel Messi, também jogou abaixo do esperado. Apesar de boas jogadas e alguns chutes na trave, Messi se despediu da África sem ter feito nem mesmo um gol.
No final das contas, na primeira vez em que enfrentou um time que não se acovardou e partiu pra cima, a Argentina mostrou suas deficiências e acabou perdendo. E feio! Quatro a zero para o bicho-papão de favoritas, a Alemanha. Assim, a arrogância de Dom Diego Maradona ficou pelo caminho, achatada pela eficiência e humildade alemãs.
Mas verdade seja dita, dificilmente se viu um grupo tão dedicado ao seu treinador e um treinador tão dedicado ao seu grupo. Após a derrota, Maradona entrou em campo e consolou um à um dos seus comandados, provando que se faltou auto-crítica, sobrou emoção.
No final da Copa, sobram apenas três favoritas, mesmo assim com ressalvas: a Holanda e a Espanha, que sempre montaram times maravilhosos, mas que na hora da verdade, no final de tudo, nunca conseguiram nada de importante, e a Alemanha, sempre criticada pela maneira seca e até mesmo feia de jogar, algo do tipo “não encanta, mas vence”! Vamos ver o que mais esse Mundial nos reserva de surpresas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dias de Copa: A Troca

Publicado originalmente no site Olhar Direto em 06/07/2010
http://olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=Dias_de_Copa_A_Troca&id=1901
 
Já vi muitos filmes de gêmeos que trocam de lugar, seja pra enganar namoradas, seja para enganar pais separados. E sempre achei incrível como é que ninguém (geralmente) nunca nota a troca. Pessoas são diferentes umas das outras e via de regra, a gente percebe a diferença, mesmo que sejam exatamente iguais por fora.
Foi mais ou menos isso que senti nesse dia 02 de julho, quando a seleção brasileira voltou para o segundo tempo do jogo contra a Holanda. Como se todos tivessem sido substituídos pelo irmão gêmeo perna-de-pau. Por que ninguém me tira da cabeça que o time que desceu para o vestiário no intervalo não foi o mesmo que voltou.
No primeiro tempo, a seleção brasileira foi praticamente perfeita. Numa exibição que o Brasil esperou a Copa toda, o time parecia impecável e incorrigível: marcação firme, mas não violenta, feita desde a saída de bola holandesa, passes quase sempre milimétricos e uma postura sempre adiantada. Até o Kaká estava jogando bem. Só faltou melhorar a pontaria! Ficava até difícil para torcedores como eu, que tem a tendência de sempre ver o pior lado, reclamar. Não tinha o que falar de mal do time.
No primeiro tempo, foi um jogo de um time só. A Holanda ficou completamente alheia ao que acontecia em campo e só o goleiro Stakelenburguer fazia algo de produtivo: defesas. Até mesmo o atacante holandês Van Persie confessou em entrevista que no primeiro tempo o time estava dominado. Segundo ele, a Holanda não perdeu no primeiro tempo por muito pouco.
Já o segundo tempo...
No segundo tempo o Brasil foi tudo aquilo que o Brasil inteiro temia que pudesse acontecer. Um jogo lento, sem empolgação e sem brilho. Como eu disse antes, substituíram o time todo pelos gêmeos perna-de-pau!
Como foi que essa queda de produtividade aconteceu é a pergunta que todo o Brasil está se fazendo. Como é que um time que parecia imbatível no primeiro tempo pôde se tornar tão relapso e lento como se tornou no segundo tempo?
Alguns culparam o primeiro gol holandês, dizendo que o time perdeu o brilho, a empolgação e, de quebra, a cabeça depois do gol contra do Felipe Melo. Pessoalmente, discordo! Antes mesmo do gol o time já tinha caído de produção.
Outra teoria é a de que a substituição do Michel Bastos pelo Gilberto tenha dado liberdade para o Robben abrir uma avenida pelo lado esquerdo. Que o Gilberto não entrou bem eu concordo. Ele entrou no campo, mas não no jogo. Mesmo porque, depois que entrou, quase não se ouvia falar nele. Mas alegar que essa foi a causa da nossa derrota é exagerar um pouco a responsabilidade do Robben no jogo.
Tem outra teoria muito aceita, que culpa o Dunga, que diz que se o treinador tivesse mudado o time antes talvez tivesse obtido um resultado diferente. Não sei se faria muita diferença, afinal o Nilmar entrou mas pouco fez. Além disso, quem é que o Dunga poderia por em campo que faria a diferença? Numa situação daquelas, era necessário um jogador que fugisse do óbvio e que não se omitiria naquela situação. No grupo que foi para a África do Sul eu não via ninguém que se encaixasse nessa descrição.
A meu ver, o grande problema da seleção brasileira foi psicológico mesmo. Primeiro, um pensamento antecipado e tolo de que o jogo estava ganho e de que a Holanda não seria capaz de reagir durante o segundo tempo. Claro que esse pensamento é fadado ao fracasso e levaria inevitavelmente à derrota. Afinal, a Holanda não é um time nem ruim nem tolo. E dispunha de quarenta e cinco minutos para reagir.
Por outro lado, o Brasil nunca foi preparado psicologicamente para ficar atrás no placar. O time aparentemente nunca se preocupou em reagir à um resultado adverso. Pelo visto nessa sexta-feira, são nos piores momentos, aqueles em que são mais necessários, é que os nossos craques se omitem, se escondem e fogem da responsabilidade. Quem viu ou ouviu o Kaká ou o Robinho depois do segundo gol holandês? Eu não!
Na verdade, o que faltou foi um líder, alguém que chamasse a responsabilidade e a razão de volta ao time. Como Zizinho fez na Copa de 58, quando tomamos o primeiro gol da Hungria, que pegou a bola no fundo do gol e levou, calmo como gelo, de volta para o círculo central. Depois disso, ganhamos de cinco à dois. Faltou um Dunga de 94 ou 98, que aproveitava a comemoração do gol para dar bronca e não deixava o time se acomodar.
No final das contas, faltou mesmo foi controle emocional ao time, que acreditou demais na própria capacidade de vencer e na incapacidade de reverter um mac resultado.