quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Papa é Argentino, mas é Pop

Originalmente publicada no jornal "O Diário", Edição 1.739, em 25/07/2013

“O Papa é pop e o pop não poupa ninguém”, assim começa o refrão da música dos Engenheiros do Hawaii. Apesar de ter sido feita durante o pontificado de João Paulo II, a música hoje se encaixa perfeitamente para descrever o atual Papa, Jorge Mario Bergoglio, mais conhecido como Francisco, o nome que escolheu para atuar como Papa.
Essa semana o Papa está em visita ao Brasil devido a Jornada Mundial da Juventude, Um dos eventos religiosos mais famosos do mundo , criado em 1985 pelo Papa João Paulo II, a celebração ocorre a cada 2 ou 3 anos em uma cidade escolhida antecipadamente para que o mundo inteiro apareça e participe dos momentos de orações. A última edição ocorreu em 2011, em Madrid, na Espanha, reunindo cerca de 3 milhões de pessoas, sendo, em sua grande maioria, jovens.
O Papa Francisco, assombrou boa parte da cristandade desde o início de seu pontificado, quando dispensou os luxos da corte vaticana. Francisco, que é o primeiro papa jesuíta e primeiro Latino Americano da história, é devoto de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora Aparecida. De estilo de vida austero, como pregado por São Francisco, Francisco, mesmo depois de consagrado Papa, ainda mantem o estilo de vida simples. Preferiu manter seu crucifixo de madeira em vez do elaborado adorno papal de ouro e pedras preciosas, carrega suas próprias malas e se contenta com as coisas mais simples, como o atual Papamóvel, um carro desprovido de luxos e sem blindagem.
Assim, como João Paulo II, Jorge Bergolio, o Papa Francisco, tem demonstrado nesse início de pontificado ser bem mais parecido com o Papa do Povo do que com seu antecessor, o Papa Emérito Bento XVI. João Paulo II era considerado um humanista e tinha bom diálogo com outras religiões.
Apesar de se manter conservador em diversos aspectos sociais, como os métodos contraceptivos e a ordenação de mulheres, KarolWojtila foi bastante progressista, fazendo várias alterações nas celebrações e também aceitando as mudanças do mundo, dizendo que a Igreja Católica deveria acompanhar essas mudanças. Conhecido como o Papa para a Juventude, João Paulo II criou a Jornada Mundial para a Juventude em 1984, evento que atualmente acontece no Rio de Janeiro.
Francisco, assim como João Paulo II, também tem se mostrado próximo dos fiéis, andando de janelas abertas no Rio de Janeiro e parando para cumprimentar pessoas durante os eventos. Essas quebras de protocolo, que enlouquecem os seguranças, são vistas, por muitos, como uma nova forma de se relacionar do Papa com o povo, bem diferente de Bento XVI, que não era dado àapresentações públicas e dificilmente tinha contato direto com os fiéis.
Também como João Paulo II, Francisco tem chamado, desde o início de seu pontificado e principalmente agora na Jornada Mundial da Juventude, os jovens para participarem da Igreja, que, durante o pontificado de Bento XVI, viu seu “rebanho” reduzir-se cada vez mais, tanto em virtude do crescimento das Igrejas Evangélicas quanto da postura distante de Bento XVI.
Visto por muitos como um Papa do novo milênio, Francisco tem cada vez mais se mostrado atento às evoluções do mundo e da tecnologia. A última dessas novidades é a criação de um twitter papal. Além disso, Bergoglio também se mostra culto e inteligente, porém evita exageros e discursos desnecessários, sendo claro e objetivo em suas pregações. Isso tem agradado bastante os fiéis, quem preferem palavras objetivas à longos sermões sem sentido.
Assim, não há dúvidas de tanto católicos quanto não-católicos tem se rendido ao carisma do novo papa, tanto pela sua simplicidade quanto por ele mostrar-se preocupado com o povo em geral, sem distinção de credos ou raças. Por fim, temos um “Papa Pop” e Latino Americano, que mesmo sendo Argentino é o Papa do Povo, amado e aclamado por todos.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Mais médicos, menos consultórios

Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.731, em 11 de julho de 2013.
Esta semana, o Governo Federal apresentou o programa “Mais Médicos”, que tem como objetivo levar mais médicos para as cidades do interior e periferias das grandes cidades, locais que tradicionalmente tem deficiências no sistema de saúde. Apenas para ilustrar, a cidade de Novo Santo Antônio, que fica a cerca de 1.100 km de distância da capital e 1.700 km da Comodoro, está pagando um salário de R$ 30.000,00 para a única médica do município, conforme já noticiado pelo O Diário.
Mas porque é tão difícil para o país achar profissionais que trabalhem em cidade do interior ou nas periferias, se os salários são tão bons? É difícil achar um único motivo, mas arrisco um palpite da principal razão: depois dos anos em sala de aulas, durante o período de residência, os candidatos a médicos ficam tão focados em especialidades e tem tão pouco contato com a população que realmente precisa de atendimento, que acabam preferindo atuar em cidades maiores, em clínicas particulares, cobrando preços altíssimos. Com a saúde pública cada vez mais deficitária, a população cada vez mais se esforça para pagar um plano de saúde ou busca o profissional particular. Assim, temos médicos que cobram absurdos apenas para olhar um paciente e solicitar exames.
Então, se o governo está propondo um programa que visa alocar médicos em regiões que não tem médico nenhum e ainda melhorar o contato do estudante de medicina com a população em geral, porque tantas críticas? Tantos comentários ofensivos?
Aqui, cabe lembrar que a prioridade das contratações são os médicos brasileiros e formados no Brasil. Se, e apenas se, sobrarem vagas, serão contratados médicos formados no exterior, entre os quais muitos brasileiros formados na Bolívia e no Paraguai e que nunca tiveram chances de atuar no seu país natal. A outra parte do programa diz respeito ao aumento de dois anos na duração do curso de medicina, com a inclusão de mais dois anos, que serão cumpridos trabalhando em hospitais de saúde pública, nos serviços de urgência e emergência e na saúde básica.
Agora, é de se perguntar por que o Conselho Federal de Medicina, que faz tão pouco caso com as várias denúncias de erros médicos que pipocam por aí, está tão preocupado com o programa Mais Médicos, fazendo várias críticas, mas sem oferecer nenhuma sugestão para a solução?! Não seria porque os médicos estrangeiros que vão trabalhar no Brasil não serão obrigados a revalidar os diplomas e ter um registro no Conselho e, consequentemente, não terão que pagar as irrisórias contribuições anuais, seria? Não, o CFM está apenas preocupado com a qualidade da saúde, claro.
É por esse mesmo motivo que o CFM se opõe tão fortemente à realização de uma prova de suficiência, como o exame da OAB, não porque uma prova dessas iria reduzir drasticamente a quantidade de médicos habilitados para a profissão, reduzindo também a verba recebida pela entidade.
Sobre o aumento de dois anos do curso de Medicina, em entrevista mostrada pelo Jornal Nacional desta terça-feira, Antonio Carlos Lopes, diretor da Escola Paulista de Medicina, disse que “Isso não acrescenta absolutamente nada naquele que está se formando, não traz nenhuma contribuição para a comunidade, porque ele não tem formação suficiente pra isso”. Ora, se os estudantes não estarão preparados em oito anos, como eles estariam preparados em seis? Realmente, fiquei na dúvida agora.
Já Roberto d´Ávila, Presidente do Conselho Federal de Medicina, disse que “Lançar jovens recém-formados em um ambiente brutalizado, aonde você tem pacientes espalhados pelo chão, aonde você não tem material, equipamentos, medicamentos, você não humaniza ninguém”. Então, o que humaniza o profissional? O que vai fazer como que esse candidato a médico perceba que os pacientes não são apenas exames e estatísticas mas sim uma pessoa, com sentimentos e emoções? Com certeza, não um consultório em uma clínica particular, podem ter certeza!

Dito isso, por que em vez de simplesmente criticar uma idéia, não trabalhamos para melhorá-la, não nos mobilizamos para que o Governo dê a esses médicos condições de trabalho, com materiais e equipamentos para que ele possa desempenhar bem e com dignidade o papel que lhe foi atribuído como protetores da vida. 

Na Raça

Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.727, em 04 de julho de 2013.
No último domingo vimos a final do torneio que a Fifa considera como uma prévia da Copa do Mundo, a Copa das Confederações. Um jogo por muitos esperado, entre Brasil e Espanha. Entre a seleção do futebol-arte e a seleção do tic-tac. Entre os dribles rápidos e o passe preciso e funcional.
A maioria dos torcedores previa o que seria um jogão, o clássico dos clássicos. Para quem esperava um jogo eletrizante e arrebatador, o jogo foi uma decepção. Digo decepção, porque não houve jogo. Um jogo é quando dois times se enfrentam e, mutuamente, obrigam as defesas adversárias a trabalhar para evitar o gol. Por esse conceito, Brasil x Espanha não passou de um jogo-treino para a seleção canarinho.
Jogando como à muito não se via, o Brasil assustou a Espanha desde o começo, com o gol relâmpago de Fred. Depois, com uma pegada firme e onipresente, o Brasil impediu qualquer tentativa de progresso dos espanhóis, reduzindo Xavi e Iniesta, os dois principais craques da Fúria Espanhola, a meros coadjuvantes do show brasileiro protagonizado por Neymar e Cia.
Aliás, sobre o camisa 10, admito que nunca fui o maior fã de Neymar. Mas tenho que reconhecer que nesta Copa das Confederações, e mais ainda na final, ele justificou toda a badalação que o cerca, servindo bem aos companheiros e sendo decisivo durante o torneio.
Mais do que o elástico resultado de 3 à 0, o jogo deste domingo trouxe aos brasileiros algo que andava em falta: respeito pela sua seleção! Finalmente vimos novamente uma seleção de futebol e não um aglomerado de jogadores presunçosos e egos enormes. Vimos um time que nunca desistia, combativa e aguerrida. O maior exemplo da raça dos jogadores talvez tenha sido o gol espanhol evitado pelo zagueiro Davi Luiz.
Uma vez mais, o técnico Luiz Felipe Scolari nos mostra que, antes de estrelas e craques, uma seleção deve ter união e trabalho em equipe. Pegando, pela segunda vez, um bonde andando, Felipão apostou em jogadores desconhecidos do torcedor brasileiro, como Dante, Filipe Luiz e, principalmente, Luiz Gustavo, nomes desprezados pelos antecessores, como Fred, mesclando-os com as jovens promessas do futebol brasileiro, como Oscar e Neymar. E, mais uma vez, apesar de todas as criticas e opiniões contrárias, Felipão levou um grupo de jogadores desacreditados à ser tornarem, acima de tudo, uma família, a Família Scolari.
Desde o começo da partida, com uma seleção que partiu para o abafa, reduzindo os espaços e marcando em cima, o que se viu foi a garra e a raça dos jogadores brasileiros, que parecem, finalmente, ter entendido a importância relativa dos fatos e a influência que eles exercem sobre nossa nação. O resultado era, no final de tudo, o que menos importava. Mesmo que perdêssemos, com a raça com que jogamos no domingo, ainda era aceitável. O placar, no final, foi apenas a consequência do trabalho bem feito, com responsabilidade e direção. Sem espaço para estrelismo ou manifestações individuais, onde o coletivo falava mais alto.
Agora, quase uma semana depois da épica partida brasileira, restam duas grandes esperanças: a primeira é de que s Seleção Brasileira continue assim até a Copa do Mundo de 2014. A segunda é que os manifestantes e a população em geral se inspirem no time que entrou em campo no Maracanã neste domingo, 30 de junho, e transformem baderna em movimento, gritos de guerra em propostas sólidas, sem se tornarem palco de vaidades egocêntricas e interesses particulares, em detrimento do interesse público.

Pirâmides Ponzi

Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.723, em 27 de junho de 2013.
Nos últimos dias, muito se tem ouvido falar de empresas de “Marketing Multinível”, como muitas que tem aparecido na mídia ultimamente. Ganhos exorbitantes, em pouco tempo. Claro que isso interessa a todo mundo, afinal, quem não quer ganhar um pouco mais de dinheiro, principalmente se o trabalho for pouco?!
Mas não devemos nos enganar. Altos ganhos, em pouco tempo, a não ser que seja prêmio da loteria, geralmente está associado a algo errado. Não há problemas em trabalhar e batalhar por um pouco mais de qualidade de vida. Só que ganhar tanto dinheiro em tão pouco tempo é surreal em um país com uma carga tributária e ausência de incentivos tão grandes como o nosso. Isso porque, quando uma empresa honesta oferece um produto à venda, deve-se levar em conta os custos de produção do produto em si, os gastos com divulgação, envio, propaganda, funcionários, água, luz, telefone, material de expediente, impostos, ufa! É tanta coisa que se o vendedor for estabelecer um uma margem lucros como as ofertadas pelas empresas acima citadas, que é acima de 50%, isso faria do produto um verdadeiro pesadelo de vendas, já que o preço final ficaria muito acima dos concorrentes.
Então como as atuais falsas empresas de Marketing Multinível conseguem pagar tanto para os seus investidores? A resposta é fácil: com o dinheiro de outros investidores! A ideia básica é sempre a mesma: o investidor investe um valor para participar do programa e, em pouco tempo recebe de volta o valor investido. Normalmente, quando alguém entra nesse esquema, é por que viu outro alguém ganhando com isso. Assim, de boca em boca, o negócio vai crescendo, com os investidores mais novos pagando os lucros dos investidores mais velhos, após, claro, a comissão do dono do negócio.
O pior de tudo é que esse é um golpe muito antigo. Nos idos de 1920, o golpista ítalo-americano Charles Ponzi criou um fraude gigantesca, onde propôs um investimento de alto rendimento, mas que nada produzia, mas que na realidade era pago com o dinheiro de novos investidores. Claro que um esquema desses não se sustenta por muito tempo, já que uma hora ou outra vai farta gente entrando para pagar os lucros dos que já fazem parte do negócio. Assim, invariavelmente, o esquema, chamado de pirâmide ou esquema Ponzi, quebra e desaba, geralmente em cima dos investidores que estão mais abaixo.
Há quem diga, porém, que as empresas atuais vendem produtos bons, de qualidade e que esses são os carros chefes de seu sucesso. Porém, é natural que, quando você quiser ganhar algum dinheiro, você precisa trabalhar para isso. Quando se oferece a oportunidade de se tornar parceiro comercial sem ter que trabalhar para isso ou realizando trabalhos mínimos é preciso ficar atento, pois provavelmente trata-se de esquema de pirâmide.
Não que todas as empresas de Marketing Multinível sejam todas fraudulentas. Um exemplo clássico é a Natura, com revendedores por todo Brasil. Todo mundo que conhece um revendedor sabe que as margens lucro são pequenas e os maiores incentivos são relativos às vendas, não ao recrutamento de novos revendedores.

Portanto, fique atento quando te oferecerem uma oferta lucrativa, com pouco ou nenhum esforço: provavelmente é um golpe. Para quem já está dentro, uma dica, não saia, tente recuperar seu investimento, não fique convidando outras pessoas e saia assim que acabar seu contrato, torcendo para que isso aconteça antes de a pirâmide cair.