quarta-feira, 17 de julho de 2013

Na Raça

Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.727, em 04 de julho de 2013.
No último domingo vimos a final do torneio que a Fifa considera como uma prévia da Copa do Mundo, a Copa das Confederações. Um jogo por muitos esperado, entre Brasil e Espanha. Entre a seleção do futebol-arte e a seleção do tic-tac. Entre os dribles rápidos e o passe preciso e funcional.
A maioria dos torcedores previa o que seria um jogão, o clássico dos clássicos. Para quem esperava um jogo eletrizante e arrebatador, o jogo foi uma decepção. Digo decepção, porque não houve jogo. Um jogo é quando dois times se enfrentam e, mutuamente, obrigam as defesas adversárias a trabalhar para evitar o gol. Por esse conceito, Brasil x Espanha não passou de um jogo-treino para a seleção canarinho.
Jogando como à muito não se via, o Brasil assustou a Espanha desde o começo, com o gol relâmpago de Fred. Depois, com uma pegada firme e onipresente, o Brasil impediu qualquer tentativa de progresso dos espanhóis, reduzindo Xavi e Iniesta, os dois principais craques da Fúria Espanhola, a meros coadjuvantes do show brasileiro protagonizado por Neymar e Cia.
Aliás, sobre o camisa 10, admito que nunca fui o maior fã de Neymar. Mas tenho que reconhecer que nesta Copa das Confederações, e mais ainda na final, ele justificou toda a badalação que o cerca, servindo bem aos companheiros e sendo decisivo durante o torneio.
Mais do que o elástico resultado de 3 à 0, o jogo deste domingo trouxe aos brasileiros algo que andava em falta: respeito pela sua seleção! Finalmente vimos novamente uma seleção de futebol e não um aglomerado de jogadores presunçosos e egos enormes. Vimos um time que nunca desistia, combativa e aguerrida. O maior exemplo da raça dos jogadores talvez tenha sido o gol espanhol evitado pelo zagueiro Davi Luiz.
Uma vez mais, o técnico Luiz Felipe Scolari nos mostra que, antes de estrelas e craques, uma seleção deve ter união e trabalho em equipe. Pegando, pela segunda vez, um bonde andando, Felipão apostou em jogadores desconhecidos do torcedor brasileiro, como Dante, Filipe Luiz e, principalmente, Luiz Gustavo, nomes desprezados pelos antecessores, como Fred, mesclando-os com as jovens promessas do futebol brasileiro, como Oscar e Neymar. E, mais uma vez, apesar de todas as criticas e opiniões contrárias, Felipão levou um grupo de jogadores desacreditados à ser tornarem, acima de tudo, uma família, a Família Scolari.
Desde o começo da partida, com uma seleção que partiu para o abafa, reduzindo os espaços e marcando em cima, o que se viu foi a garra e a raça dos jogadores brasileiros, que parecem, finalmente, ter entendido a importância relativa dos fatos e a influência que eles exercem sobre nossa nação. O resultado era, no final de tudo, o que menos importava. Mesmo que perdêssemos, com a raça com que jogamos no domingo, ainda era aceitável. O placar, no final, foi apenas a consequência do trabalho bem feito, com responsabilidade e direção. Sem espaço para estrelismo ou manifestações individuais, onde o coletivo falava mais alto.
Agora, quase uma semana depois da épica partida brasileira, restam duas grandes esperanças: a primeira é de que s Seleção Brasileira continue assim até a Copa do Mundo de 2014. A segunda é que os manifestantes e a população em geral se inspirem no time que entrou em campo no Maracanã neste domingo, 30 de junho, e transformem baderna em movimento, gritos de guerra em propostas sólidas, sem se tornarem palco de vaidades egocêntricas e interesses particulares, em detrimento do interesse público.

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