quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Deseducação




Originalmente publicada  no Jornal "O Diário", Edição 1.748, em 09/08/2013.

Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, a palavra Educação significa Ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais. Conhecimento e prática dos hábitos sociais; boas maneiras. 
Durante toda essa semana fiquei me perguntando sobre essa definição. Não porque não soubesse! Minha mãe me ensinou a ter educação desde pequeno. Mas fiquei me perguntando o que isso significa nos dias atuais. A indagação é válida quando vemos a atual situação da Educação Mato-grossense. 
Para quem não está por dentro, um breve resumo dos últimos capítulos: depois de uma paralisação no primeiro semestre que resultou apenas em muitas promessas vazias, os professores da rede estadual de ensino decidiram deflagrar greve à partir da semana que vem. Suas reivindicações? Nada mais simples (e justo, por sinal): aumento do poder de compra do salário dos profissionais (Notem, não é aumento de salário simplesmente, mas aumento do poder de compra. Isso quer dizer que tudo que os professores querem é que o salário deles possa dar uma vida digna para seus filhos), hora-atividade para os professores interinos (a hora-atividade, para quem não sabe, é uma verba que compensa, em termos, o tempo gasto pelo profissional fora da escola, preparando as aulas e corrigindo provas), a posse dos aprovados em concurso e o investimento de 35% dos impostos na educação. 
Quer dizer, tudo que os professores pedem é um salário digno, igualdade de direitos, cumprimento da lei e melhoria na qualidade das escolas dos nossos filhos. Na minha humilde opinião, nada fora do normal nem excessivo. Mas o governo do Estado mais uma vez alega não ter recursos. Não existe previsão orçamentária é a desculpa sempre citada. 
Chamo de desculpa, e das mais esfarrapadas por sinal, por que todos nós sabemos que é mentira, que o Estado tem recursos sim. Eu poderia ficar horas desfiando os gastos das obras da Copa, o quanto essas obras vão onerar o governo e toda aquela ladainha que todos estão cansados de ouvir. Em resposta, eu poderia ouvir dos políticos demagogos que as verbas são de origem diferente, que a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe o desvio desses recursos, que quem tá pagando tudo é a FIFA e a iniciativa privada, todas aquelas respostas prontas em que ninguém acredita. 
Mas o que mais me chamou a atenção é que, na mesma semana em que os professores decidiram pela greve, para conseguir mais recursos para a educação (que, segundo o Estado, não tem mais recurso algum), o Diário Oficial do Estado nos brinda com uma licitação de meros 7 milhões e 700 mil reais para, adivinhem, serviços de buffet! 
E o mais interessante, por incrível que pareça, não é só o valor, mas o fato, um mero detalhe, que apenas duas empresas tenham ganhado essa licitação. São 433.512 serviço de alimentação durante os próximos 12 meses e somente duas empresas conseguiram o negócio? Acho que vou abrir restaurante que dá mais lucro. 
Assim, enquanto nossos professores lutam contra falta de estrutura, superlotação de salas de aula, falta de materiais pedagógicos, um salário medíocre e comem arroz com ovo, nosso Secretário de Educação só anda de carro com ar-condicionado e come salada de marisco e salmão ao molho tártaro. 
Sei não, mas não consegui ainda perceber onde gastar 7,7 milhões de reais em serviço de buffet ajuda no desenvolvimento das faculdades psíquicas, intelectuais e morais. Talvez até me falte conhecimento, mas acho que nosso Secretário poderia melhorar sua prática dos hábitos sociais e boas maneiras com nossos professores...

sábado, 3 de agosto de 2013

Panis et Circenses

Publicada originalmente no Jornal "O Diário", Edição 1.743, em 01/08/2013.

Em 508 a.C. surgiu, na cidade grega de Atenas, o primeiro modelo de governo que incluía a participação dos cidadãos, a Democracia. Democracia quer dizer, exatamente, Governo (kratos) do Povo (demo). Pela primeira vez na história do mundo, a população tinha participação direta na tomada de decisões. E quando falo direta, era direta mesmo, sem a escolha de representantes.
Em 168 a.C., o poderoso Império Romano conquistou a Grécia Antiga, pondo fim a quase três séculos e meio de história grega. Entretanto, apesar de ter um poderio militar muito maior, os romanos gostaram da forma de governo grego e resolveram utilizá-lo. Devido, porém, à grande extensão do Império Romano, parecia impossível o uso da democracia direta, como faziam os gregos. Assim surgia a democracia representativa, ou democracia indireta, em que os cidadãos elegem representantes para tomar decisões pelo povo.
Só que junto com a democracia indireta surgiu também outros problemas, como a corrupção e a manipulação de informações. Como os cidadãos não participavam diretamente da tomada de decisões, o importante era fazer com que o povo achasse que tudo ia bem. Com isso surgiu a política do “pão e circo”, em que os governantes romanos davam comida e espetáculos para a massa, enquanto necessidades básicas, como saúde e saneamento, eram totalmente esquecidas.
Bom, me desculpem pela pequena explanação histórica, mas era necessária para explicar o que tem acontecido no Brasil de hoje, mais de dois mil anos depois dos gregos e romanos. Aparentemente, o legado romano do pão e circo continua vivo e bem na nossa atual democracia. Enquanto a mídia cobre eventos festivos, como jogos de futebol, e nosso poder legislativo vota, às pressas, medidas gritadas por manifestantes (e vândalos) nas manifestações de rua pelo país, coisas realmente importantes ficam relegadas à segundo plano.
Esta semana foram deflagradas tantas greves pelo país que, se continuarmos nesse ritmo, até o final do mês o país vai estar totalmente parado. Só para citar algumas, estão em greve os médicos, o DNIT, a Infraero e, no Mato Grosso, os Agentes Penitenciários.
Mas o que chama atenção não são as greves, mas sim a forma como os governos têm lidado com elas. Quando houve manifestações de rua, com cobertura internacional e ameaças de cancelamento da visita do Papa e da realização da Copa do Mundo, o governo foi solícito: abaixou as passagens de ônibus, criou o programa Mais Médicos (que, apesar de algumas falhas, eu ainda apoio), e antecipou votações de leis que foram tema das manifestações.
Agora, quando os órgãos tentam buscar seus direitos, são tratados como marginais, com greves sendo reconhecidas como ilegais e até mesmo com ameaças de prisão, como no caso dos Agentes Penitenciários.
Não que eu concorde com todos os movimentos grevistas, mas mesmo assim, concordo com o direito de greve, com o direito de todo servidor pleitear uma melhoria na qualidade de trabalho e vida. Mas a questão é que, como essas manifestações são menos midiáticas e terão um impacto bem menor nas urnas ano que vem, qual a vantagem para nossos políticos em atendê-las.

A verdade é que, mesmo depois de dividido e conquistado, o Império Romano ainda oferece uma inspiração clara para o sistema político brasileiro atual: enquanto a massa estiver alegre, então está tudo bem. Quando a massa se revolta e sai às ruas, está na hora de mudar a receita do pão e melhorar a qualidade do espetáculo.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Papa é Argentino, mas é Pop

Originalmente publicada no jornal "O Diário", Edição 1.739, em 25/07/2013

“O Papa é pop e o pop não poupa ninguém”, assim começa o refrão da música dos Engenheiros do Hawaii. Apesar de ter sido feita durante o pontificado de João Paulo II, a música hoje se encaixa perfeitamente para descrever o atual Papa, Jorge Mario Bergoglio, mais conhecido como Francisco, o nome que escolheu para atuar como Papa.
Essa semana o Papa está em visita ao Brasil devido a Jornada Mundial da Juventude, Um dos eventos religiosos mais famosos do mundo , criado em 1985 pelo Papa João Paulo II, a celebração ocorre a cada 2 ou 3 anos em uma cidade escolhida antecipadamente para que o mundo inteiro apareça e participe dos momentos de orações. A última edição ocorreu em 2011, em Madrid, na Espanha, reunindo cerca de 3 milhões de pessoas, sendo, em sua grande maioria, jovens.
O Papa Francisco, assombrou boa parte da cristandade desde o início de seu pontificado, quando dispensou os luxos da corte vaticana. Francisco, que é o primeiro papa jesuíta e primeiro Latino Americano da história, é devoto de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora Aparecida. De estilo de vida austero, como pregado por São Francisco, Francisco, mesmo depois de consagrado Papa, ainda mantem o estilo de vida simples. Preferiu manter seu crucifixo de madeira em vez do elaborado adorno papal de ouro e pedras preciosas, carrega suas próprias malas e se contenta com as coisas mais simples, como o atual Papamóvel, um carro desprovido de luxos e sem blindagem.
Assim, como João Paulo II, Jorge Bergolio, o Papa Francisco, tem demonstrado nesse início de pontificado ser bem mais parecido com o Papa do Povo do que com seu antecessor, o Papa Emérito Bento XVI. João Paulo II era considerado um humanista e tinha bom diálogo com outras religiões.
Apesar de se manter conservador em diversos aspectos sociais, como os métodos contraceptivos e a ordenação de mulheres, KarolWojtila foi bastante progressista, fazendo várias alterações nas celebrações e também aceitando as mudanças do mundo, dizendo que a Igreja Católica deveria acompanhar essas mudanças. Conhecido como o Papa para a Juventude, João Paulo II criou a Jornada Mundial para a Juventude em 1984, evento que atualmente acontece no Rio de Janeiro.
Francisco, assim como João Paulo II, também tem se mostrado próximo dos fiéis, andando de janelas abertas no Rio de Janeiro e parando para cumprimentar pessoas durante os eventos. Essas quebras de protocolo, que enlouquecem os seguranças, são vistas, por muitos, como uma nova forma de se relacionar do Papa com o povo, bem diferente de Bento XVI, que não era dado àapresentações públicas e dificilmente tinha contato direto com os fiéis.
Também como João Paulo II, Francisco tem chamado, desde o início de seu pontificado e principalmente agora na Jornada Mundial da Juventude, os jovens para participarem da Igreja, que, durante o pontificado de Bento XVI, viu seu “rebanho” reduzir-se cada vez mais, tanto em virtude do crescimento das Igrejas Evangélicas quanto da postura distante de Bento XVI.
Visto por muitos como um Papa do novo milênio, Francisco tem cada vez mais se mostrado atento às evoluções do mundo e da tecnologia. A última dessas novidades é a criação de um twitter papal. Além disso, Bergoglio também se mostra culto e inteligente, porém evita exageros e discursos desnecessários, sendo claro e objetivo em suas pregações. Isso tem agradado bastante os fiéis, quem preferem palavras objetivas à longos sermões sem sentido.
Assim, não há dúvidas de tanto católicos quanto não-católicos tem se rendido ao carisma do novo papa, tanto pela sua simplicidade quanto por ele mostrar-se preocupado com o povo em geral, sem distinção de credos ou raças. Por fim, temos um “Papa Pop” e Latino Americano, que mesmo sendo Argentino é o Papa do Povo, amado e aclamado por todos.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Mais médicos, menos consultórios

Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.731, em 11 de julho de 2013.
Esta semana, o Governo Federal apresentou o programa “Mais Médicos”, que tem como objetivo levar mais médicos para as cidades do interior e periferias das grandes cidades, locais que tradicionalmente tem deficiências no sistema de saúde. Apenas para ilustrar, a cidade de Novo Santo Antônio, que fica a cerca de 1.100 km de distância da capital e 1.700 km da Comodoro, está pagando um salário de R$ 30.000,00 para a única médica do município, conforme já noticiado pelo O Diário.
Mas porque é tão difícil para o país achar profissionais que trabalhem em cidade do interior ou nas periferias, se os salários são tão bons? É difícil achar um único motivo, mas arrisco um palpite da principal razão: depois dos anos em sala de aulas, durante o período de residência, os candidatos a médicos ficam tão focados em especialidades e tem tão pouco contato com a população que realmente precisa de atendimento, que acabam preferindo atuar em cidades maiores, em clínicas particulares, cobrando preços altíssimos. Com a saúde pública cada vez mais deficitária, a população cada vez mais se esforça para pagar um plano de saúde ou busca o profissional particular. Assim, temos médicos que cobram absurdos apenas para olhar um paciente e solicitar exames.
Então, se o governo está propondo um programa que visa alocar médicos em regiões que não tem médico nenhum e ainda melhorar o contato do estudante de medicina com a população em geral, porque tantas críticas? Tantos comentários ofensivos?
Aqui, cabe lembrar que a prioridade das contratações são os médicos brasileiros e formados no Brasil. Se, e apenas se, sobrarem vagas, serão contratados médicos formados no exterior, entre os quais muitos brasileiros formados na Bolívia e no Paraguai e que nunca tiveram chances de atuar no seu país natal. A outra parte do programa diz respeito ao aumento de dois anos na duração do curso de medicina, com a inclusão de mais dois anos, que serão cumpridos trabalhando em hospitais de saúde pública, nos serviços de urgência e emergência e na saúde básica.
Agora, é de se perguntar por que o Conselho Federal de Medicina, que faz tão pouco caso com as várias denúncias de erros médicos que pipocam por aí, está tão preocupado com o programa Mais Médicos, fazendo várias críticas, mas sem oferecer nenhuma sugestão para a solução?! Não seria porque os médicos estrangeiros que vão trabalhar no Brasil não serão obrigados a revalidar os diplomas e ter um registro no Conselho e, consequentemente, não terão que pagar as irrisórias contribuições anuais, seria? Não, o CFM está apenas preocupado com a qualidade da saúde, claro.
É por esse mesmo motivo que o CFM se opõe tão fortemente à realização de uma prova de suficiência, como o exame da OAB, não porque uma prova dessas iria reduzir drasticamente a quantidade de médicos habilitados para a profissão, reduzindo também a verba recebida pela entidade.
Sobre o aumento de dois anos do curso de Medicina, em entrevista mostrada pelo Jornal Nacional desta terça-feira, Antonio Carlos Lopes, diretor da Escola Paulista de Medicina, disse que “Isso não acrescenta absolutamente nada naquele que está se formando, não traz nenhuma contribuição para a comunidade, porque ele não tem formação suficiente pra isso”. Ora, se os estudantes não estarão preparados em oito anos, como eles estariam preparados em seis? Realmente, fiquei na dúvida agora.
Já Roberto d´Ávila, Presidente do Conselho Federal de Medicina, disse que “Lançar jovens recém-formados em um ambiente brutalizado, aonde você tem pacientes espalhados pelo chão, aonde você não tem material, equipamentos, medicamentos, você não humaniza ninguém”. Então, o que humaniza o profissional? O que vai fazer como que esse candidato a médico perceba que os pacientes não são apenas exames e estatísticas mas sim uma pessoa, com sentimentos e emoções? Com certeza, não um consultório em uma clínica particular, podem ter certeza!

Dito isso, por que em vez de simplesmente criticar uma idéia, não trabalhamos para melhorá-la, não nos mobilizamos para que o Governo dê a esses médicos condições de trabalho, com materiais e equipamentos para que ele possa desempenhar bem e com dignidade o papel que lhe foi atribuído como protetores da vida. 

Na Raça

Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.727, em 04 de julho de 2013.
No último domingo vimos a final do torneio que a Fifa considera como uma prévia da Copa do Mundo, a Copa das Confederações. Um jogo por muitos esperado, entre Brasil e Espanha. Entre a seleção do futebol-arte e a seleção do tic-tac. Entre os dribles rápidos e o passe preciso e funcional.
A maioria dos torcedores previa o que seria um jogão, o clássico dos clássicos. Para quem esperava um jogo eletrizante e arrebatador, o jogo foi uma decepção. Digo decepção, porque não houve jogo. Um jogo é quando dois times se enfrentam e, mutuamente, obrigam as defesas adversárias a trabalhar para evitar o gol. Por esse conceito, Brasil x Espanha não passou de um jogo-treino para a seleção canarinho.
Jogando como à muito não se via, o Brasil assustou a Espanha desde o começo, com o gol relâmpago de Fred. Depois, com uma pegada firme e onipresente, o Brasil impediu qualquer tentativa de progresso dos espanhóis, reduzindo Xavi e Iniesta, os dois principais craques da Fúria Espanhola, a meros coadjuvantes do show brasileiro protagonizado por Neymar e Cia.
Aliás, sobre o camisa 10, admito que nunca fui o maior fã de Neymar. Mas tenho que reconhecer que nesta Copa das Confederações, e mais ainda na final, ele justificou toda a badalação que o cerca, servindo bem aos companheiros e sendo decisivo durante o torneio.
Mais do que o elástico resultado de 3 à 0, o jogo deste domingo trouxe aos brasileiros algo que andava em falta: respeito pela sua seleção! Finalmente vimos novamente uma seleção de futebol e não um aglomerado de jogadores presunçosos e egos enormes. Vimos um time que nunca desistia, combativa e aguerrida. O maior exemplo da raça dos jogadores talvez tenha sido o gol espanhol evitado pelo zagueiro Davi Luiz.
Uma vez mais, o técnico Luiz Felipe Scolari nos mostra que, antes de estrelas e craques, uma seleção deve ter união e trabalho em equipe. Pegando, pela segunda vez, um bonde andando, Felipão apostou em jogadores desconhecidos do torcedor brasileiro, como Dante, Filipe Luiz e, principalmente, Luiz Gustavo, nomes desprezados pelos antecessores, como Fred, mesclando-os com as jovens promessas do futebol brasileiro, como Oscar e Neymar. E, mais uma vez, apesar de todas as criticas e opiniões contrárias, Felipão levou um grupo de jogadores desacreditados à ser tornarem, acima de tudo, uma família, a Família Scolari.
Desde o começo da partida, com uma seleção que partiu para o abafa, reduzindo os espaços e marcando em cima, o que se viu foi a garra e a raça dos jogadores brasileiros, que parecem, finalmente, ter entendido a importância relativa dos fatos e a influência que eles exercem sobre nossa nação. O resultado era, no final de tudo, o que menos importava. Mesmo que perdêssemos, com a raça com que jogamos no domingo, ainda era aceitável. O placar, no final, foi apenas a consequência do trabalho bem feito, com responsabilidade e direção. Sem espaço para estrelismo ou manifestações individuais, onde o coletivo falava mais alto.
Agora, quase uma semana depois da épica partida brasileira, restam duas grandes esperanças: a primeira é de que s Seleção Brasileira continue assim até a Copa do Mundo de 2014. A segunda é que os manifestantes e a população em geral se inspirem no time que entrou em campo no Maracanã neste domingo, 30 de junho, e transformem baderna em movimento, gritos de guerra em propostas sólidas, sem se tornarem palco de vaidades egocêntricas e interesses particulares, em detrimento do interesse público.

Pirâmides Ponzi

Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.723, em 27 de junho de 2013.
Nos últimos dias, muito se tem ouvido falar de empresas de “Marketing Multinível”, como muitas que tem aparecido na mídia ultimamente. Ganhos exorbitantes, em pouco tempo. Claro que isso interessa a todo mundo, afinal, quem não quer ganhar um pouco mais de dinheiro, principalmente se o trabalho for pouco?!
Mas não devemos nos enganar. Altos ganhos, em pouco tempo, a não ser que seja prêmio da loteria, geralmente está associado a algo errado. Não há problemas em trabalhar e batalhar por um pouco mais de qualidade de vida. Só que ganhar tanto dinheiro em tão pouco tempo é surreal em um país com uma carga tributária e ausência de incentivos tão grandes como o nosso. Isso porque, quando uma empresa honesta oferece um produto à venda, deve-se levar em conta os custos de produção do produto em si, os gastos com divulgação, envio, propaganda, funcionários, água, luz, telefone, material de expediente, impostos, ufa! É tanta coisa que se o vendedor for estabelecer um uma margem lucros como as ofertadas pelas empresas acima citadas, que é acima de 50%, isso faria do produto um verdadeiro pesadelo de vendas, já que o preço final ficaria muito acima dos concorrentes.
Então como as atuais falsas empresas de Marketing Multinível conseguem pagar tanto para os seus investidores? A resposta é fácil: com o dinheiro de outros investidores! A ideia básica é sempre a mesma: o investidor investe um valor para participar do programa e, em pouco tempo recebe de volta o valor investido. Normalmente, quando alguém entra nesse esquema, é por que viu outro alguém ganhando com isso. Assim, de boca em boca, o negócio vai crescendo, com os investidores mais novos pagando os lucros dos investidores mais velhos, após, claro, a comissão do dono do negócio.
O pior de tudo é que esse é um golpe muito antigo. Nos idos de 1920, o golpista ítalo-americano Charles Ponzi criou um fraude gigantesca, onde propôs um investimento de alto rendimento, mas que nada produzia, mas que na realidade era pago com o dinheiro de novos investidores. Claro que um esquema desses não se sustenta por muito tempo, já que uma hora ou outra vai farta gente entrando para pagar os lucros dos que já fazem parte do negócio. Assim, invariavelmente, o esquema, chamado de pirâmide ou esquema Ponzi, quebra e desaba, geralmente em cima dos investidores que estão mais abaixo.
Há quem diga, porém, que as empresas atuais vendem produtos bons, de qualidade e que esses são os carros chefes de seu sucesso. Porém, é natural que, quando você quiser ganhar algum dinheiro, você precisa trabalhar para isso. Quando se oferece a oportunidade de se tornar parceiro comercial sem ter que trabalhar para isso ou realizando trabalhos mínimos é preciso ficar atento, pois provavelmente trata-se de esquema de pirâmide.
Não que todas as empresas de Marketing Multinível sejam todas fraudulentas. Um exemplo clássico é a Natura, com revendedores por todo Brasil. Todo mundo que conhece um revendedor sabe que as margens lucro são pequenas e os maiores incentivos são relativos às vendas, não ao recrutamento de novos revendedores.

Portanto, fique atento quando te oferecerem uma oferta lucrativa, com pouco ou nenhum esforço: provavelmente é um golpe. Para quem já está dentro, uma dica, não saia, tente recuperar seu investimento, não fique convidando outras pessoas e saia assim que acabar seu contrato, torcendo para que isso aconteça antes de a pirâmide cair.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Camisa 10



Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.719, em 20 de junho de 2013.
Esta semana nossa seleção estreou na Copa das Confederações. Muito foi dito sobre a estreia, sobre como foi bela a vitória brasileira por 3 à 0 sobre o Japão, como o camisa dez jogou bem, entre outros. E tenho que admitir, foi mesmo, apesar de não ter sido espetacular foi uma boa atuação. Ainda não é aquele time com que sonhamos.
Mas, de tudo, o que mais me chamou a atenção foi o camisa dez, o bola da vez, Neymar. Não o gol relâmpago ou as jogadas, que, por sinal, ainda não chegam aos pés daquelas que estamos acostumados à ver no Santos, mas sim a Camisa 10 que ele vestia, por sinal, a mesma que ele vem vestindo desde o amistoso contra a Inglaterra.
E um questionamento me veio a mente durante o ultimo jogo: como é que a camisa 10 foi parar com o Neymar? Nada contra ele, que fique claro, o considero um bom jogador, porém existem algumas considerações sobre a camisa 10 que devem ser levadas em conta. Até 1950, não havia numeração dos jogadores nas Copas do Mundo. Na Copa do Mundo do Brasil de 1950 (é, acreditem, essa não é a primeira Copa no Brasil!) foi implantado o sistema de numeração, feita através da ordem alfabética da lista de inscrição dos atletas.
Assim, o primeiro camisa 10 da Seleção Canarinho foi Jair da Rosa Pinto, na época, ponta-esquerda do Palmeiras. Duas copas depois, em 1958, por uma desses acasos do destino, o décimo nome da lista alfabética da seleção brasileira era uma garoto magrelo, chamado Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé.
O garoto prodígio de 17 anos, que encantou o então técnico da seleção Paulo Machado de Carvalho, transformou, nas quatro copas que disputou com a camisa 10, um simples número num manto sagrado, reservado somente aos melhores e maiores craques de seus times. Depois de Pelé, a camisa 10 passou a ser vista como referência de arte e beleza, de inteligência e elegância.
Anos depois, outros jogadores, como Rivelino, Zico, Raí, Rivaldo e Ronaldinho (o Gaúcho, em seus áureos tempos) continuaram a mesma tradição iniciada por Pelé, mantendo a 10 em boas mãos, ops, em bons pés!
Mas nos últimos anos, estamos carentes de um bom camisa 10, aquele em que sentimos a segurança de um armador concentrado, que domina a jogada e que chama a responsabilidade para si.
Talvez eu esteja errado e o Neymar se prove esse camisa 10, mas até agora ele não mostrou nem o estilo nem a posição de um verdadeiro 10. Afinal de contas levar a camisa 10 nas costas e toda uma seleção disputando uma Copa em casa pesa muito, e não acho que Neymar tenha um bom físico capaz de segurar e levar nas costas esse peso. Vou seguir observando e torcendo para que ele dê conta do trabalho.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Como uma Onda

Publicado originalmente no Jornal "O Diário", edição 1.715, em 13/06/2013
“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Assim começa a música “Como uma onda”, de Lulu Santos. Apesar a música ter sido composta em 1983, ou seja, trinta anos atrás, ela me ocorre muito frequentemente nos dias atuais.
Tudo por causa das recentes matérias sobre supostos manifestantes que protestavam contra os aumentos das passagens de ônibus em São Paulo, Goiânia, Natal e Rio de Janeiro. É difícil imaginar como é que essas pessoas podem “protestar” contra o aumento da passagem de ônibus, se fazem questão de destruir e depredar bens públicos, nesse caso os próprios ônibus! Quem é que eles acham que vai pagar essa conta ao final da festa?
Na verdade, o problema não é só com as passagens de ônibus, mas sim com a forma de protesto, que nesse caso virou bagunça, destruição. A dilapidação dos princípios morais e a sucatização da educação (por educação, entenda não só o ensino escolar, mas também a educação que as crianças e jovens recebem dos pais em casa) tende, cada vez mais, a fazer com que os nossos jovens “protestantes” não passem de massa de manobra para pessoas oportunistas que não querem a melhoria das condições, mas sim a simples e pura desestabilização da sociedade, com o vandalismo e a destruição física e psicológica da população.
E não precisamos ir muito longe. Em março desse ano, estudantes universitários da Universidade Federal de Mato Grosso manifestaram contra o fechamento da Casa do Estudante mantida pela Universidade no bairro vizinho à instituição. Entretanto, o que aconteceu, de verdade, é que a UFMT queria fechar a casa fora do terreno da Universidade, com vaga para 50 alunos, em virtude da inauguração da moradia dentro do campus, com capacidade para 60 alunos, sem custo para os estudantes.
Os estudantes alegaram que não queriam “desfazer os laços de amizade criados com os vizinhos” e também queriam café da manhã de graça e quartos com ar-condicionado. Lógico que eles estão com a razão, afinal que absurdo é esse de se oferecer casa de graça onde existem regras contra festas e balbúrdias, sem comida e ar-condicionado gratuito?! Até eu protestaria...
Claro que a manifestação terminou em pancadaria, com a Polícia Militar obrigando a passeata a terminar dentro do tempo que lhe foi autorizado e agredindo os pobres estudantes que apenas se defenderam com pedras e pedaços de paus da PM. São todos inocentes, claro!
Quem é mais velho (e mais ligado em política e história) já deve ter pelo menos ouvido falar de dois movimentos marcantes para a história do mundo: o Domingo Sangrento, na Rússia Czarista, onde o padre George Gapon, cujo único objetivo era entregar ao Czar uma petição em que denunciava maus tratos e péssimas condições de trabalho, conduziu pacificamente os manifestantes, que cantavam hinos religiosos e o Hino Imperial “Deus Salve o Czar”, foram brutalmente atacados pela guarda palaciana, deixando 92 mortos e centenas de feridos.
Outro protesto importante foi o Massacre da Praça da Paz Celestial, da China, em que cerca de cem mil manifestantes pacíficos foram atacados por tanques militares. O Massacre da Praça da Paz Celestial rendeu uma das mais famosas imagens da história, quando um jovem desconhecido enfrenta, solitário e desarmado, uma fileira de tanques de guerra, fazendo a fila toda parar. Segundo a Cruz Vermelha Chinesa, cerca de 2.600 manifestantes morreram. Não houve baixas entre os soldados.
Mesmo no Brasil, quem, pelo menos, nunca ouviu falar dos Caras-Pintadas? Um movimento pela ética no governo, que protestava contra as medidas impopulares e a corrupção do governo Collor, que culminou com a primeira, e única, cassação de um chefe de governo brasileiro.
Uma coisa em comum une todos esses movimentos e os diferencia dos protestos da atualidade: apesar de toda a repercussão e elevada quantidade de manifestantes, não se tem notícias de vandalismo, de destruição ou de qualquer tipo de abuso por parte dos manifestantes!
Além disso, tanto os manifestantes do Padre Gapon, quanto os estudantes da Praça da Paz Celestial e os Caras-Pintadas nunca esconderam quem eram. Lutavam por um ideal e, por isso mesmo, sempre se orgulhavam desse ideal mostrando sempre seus rostos e seus desejos.
Já os atuais destruidores de ônibus, estes saem às ruas com o rosto coberto, para não serem identificados. E mesmo quando não escondem o rosto, se escondem atrás de palavras de ordem e de gritos de guerra cujo sentido mal compreendem.
Infelizmente, vinte anos atrás, Lulu Santos já nos avisava do por vir. Pena que não nos preparamos. Agora é tarde! Quem sabe, se esperarmos mais um pouco, “Tudo muda o tempo todo no mundo”.