sábado, 3 de agosto de 2013

Panis et Circenses

Publicada originalmente no Jornal "O Diário", Edição 1.743, em 01/08/2013.

Em 508 a.C. surgiu, na cidade grega de Atenas, o primeiro modelo de governo que incluía a participação dos cidadãos, a Democracia. Democracia quer dizer, exatamente, Governo (kratos) do Povo (demo). Pela primeira vez na história do mundo, a população tinha participação direta na tomada de decisões. E quando falo direta, era direta mesmo, sem a escolha de representantes.
Em 168 a.C., o poderoso Império Romano conquistou a Grécia Antiga, pondo fim a quase três séculos e meio de história grega. Entretanto, apesar de ter um poderio militar muito maior, os romanos gostaram da forma de governo grego e resolveram utilizá-lo. Devido, porém, à grande extensão do Império Romano, parecia impossível o uso da democracia direta, como faziam os gregos. Assim surgia a democracia representativa, ou democracia indireta, em que os cidadãos elegem representantes para tomar decisões pelo povo.
Só que junto com a democracia indireta surgiu também outros problemas, como a corrupção e a manipulação de informações. Como os cidadãos não participavam diretamente da tomada de decisões, o importante era fazer com que o povo achasse que tudo ia bem. Com isso surgiu a política do “pão e circo”, em que os governantes romanos davam comida e espetáculos para a massa, enquanto necessidades básicas, como saúde e saneamento, eram totalmente esquecidas.
Bom, me desculpem pela pequena explanação histórica, mas era necessária para explicar o que tem acontecido no Brasil de hoje, mais de dois mil anos depois dos gregos e romanos. Aparentemente, o legado romano do pão e circo continua vivo e bem na nossa atual democracia. Enquanto a mídia cobre eventos festivos, como jogos de futebol, e nosso poder legislativo vota, às pressas, medidas gritadas por manifestantes (e vândalos) nas manifestações de rua pelo país, coisas realmente importantes ficam relegadas à segundo plano.
Esta semana foram deflagradas tantas greves pelo país que, se continuarmos nesse ritmo, até o final do mês o país vai estar totalmente parado. Só para citar algumas, estão em greve os médicos, o DNIT, a Infraero e, no Mato Grosso, os Agentes Penitenciários.
Mas o que chama atenção não são as greves, mas sim a forma como os governos têm lidado com elas. Quando houve manifestações de rua, com cobertura internacional e ameaças de cancelamento da visita do Papa e da realização da Copa do Mundo, o governo foi solícito: abaixou as passagens de ônibus, criou o programa Mais Médicos (que, apesar de algumas falhas, eu ainda apoio), e antecipou votações de leis que foram tema das manifestações.
Agora, quando os órgãos tentam buscar seus direitos, são tratados como marginais, com greves sendo reconhecidas como ilegais e até mesmo com ameaças de prisão, como no caso dos Agentes Penitenciários.
Não que eu concorde com todos os movimentos grevistas, mas mesmo assim, concordo com o direito de greve, com o direito de todo servidor pleitear uma melhoria na qualidade de trabalho e vida. Mas a questão é que, como essas manifestações são menos midiáticas e terão um impacto bem menor nas urnas ano que vem, qual a vantagem para nossos políticos em atendê-las.

A verdade é que, mesmo depois de dividido e conquistado, o Império Romano ainda oferece uma inspiração clara para o sistema político brasileiro atual: enquanto a massa estiver alegre, então está tudo bem. Quando a massa se revolta e sai às ruas, está na hora de mudar a receita do pão e melhorar a qualidade do espetáculo.

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