Publicada originalmente no Jornal "O Diário", Edição 1.743, em 01/08/2013.
Em
508 a.C. surgiu, na cidade grega de Atenas, o primeiro modelo de governo que
incluía a participação dos cidadãos, a Democracia. Democracia quer dizer,
exatamente, Governo (kratos) do Povo (demo). Pela primeira vez na história do mundo,
a população tinha participação direta na tomada de decisões. E quando falo
direta, era direta mesmo, sem a escolha de representantes.
Em
168 a.C., o poderoso Império Romano conquistou a Grécia Antiga, pondo fim a
quase três séculos e meio de história grega. Entretanto, apesar de ter um
poderio militar muito maior, os romanos gostaram da forma de governo grego e
resolveram utilizá-lo. Devido, porém, à grande extensão do Império Romano,
parecia impossível o uso da democracia direta, como faziam os gregos. Assim
surgia a democracia representativa, ou democracia indireta, em que os cidadãos
elegem representantes para tomar decisões pelo povo.
Só
que junto com a democracia indireta surgiu também outros problemas, como a
corrupção e a manipulação de informações. Como os cidadãos não participavam
diretamente da tomada de decisões, o importante era fazer com que o povo
achasse que tudo ia bem. Com isso surgiu a política do “pão e circo”, em que os
governantes romanos davam comida e espetáculos para a massa, enquanto
necessidades básicas, como saúde e saneamento, eram totalmente esquecidas.
Bom,
me desculpem pela pequena explanação histórica, mas era necessária para
explicar o que tem acontecido no Brasil de hoje, mais de dois mil anos depois
dos gregos e romanos. Aparentemente, o legado romano do pão e circo continua
vivo e bem na nossa atual democracia. Enquanto a mídia cobre eventos festivos,
como jogos de futebol, e nosso poder legislativo vota, às pressas, medidas
gritadas por manifestantes (e vândalos) nas manifestações de rua pelo país,
coisas realmente importantes ficam relegadas à segundo plano.
Esta
semana foram deflagradas tantas greves pelo país que, se continuarmos nesse
ritmo, até o final do mês o país vai estar totalmente parado. Só para citar
algumas, estão em greve os médicos, o DNIT, a Infraero e, no Mato Grosso, os
Agentes Penitenciários.
Mas
o que chama atenção não são as greves, mas sim a forma como os governos têm
lidado com elas. Quando houve manifestações de rua, com cobertura internacional
e ameaças de cancelamento da visita do Papa e da realização da Copa do Mundo, o
governo foi solícito: abaixou as passagens de ônibus, criou o programa Mais
Médicos (que, apesar de algumas falhas, eu ainda apoio), e antecipou votações
de leis que foram tema das manifestações.
Agora,
quando os órgãos tentam buscar seus direitos, são tratados como marginais, com
greves sendo reconhecidas como ilegais e até mesmo com ameaças de prisão, como
no caso dos Agentes Penitenciários.
Não
que eu concorde com todos os movimentos grevistas, mas mesmo assim, concordo
com o direito de greve, com o direito de todo servidor pleitear uma melhoria na
qualidade de trabalho e vida. Mas a questão é que, como essas manifestações são
menos midiáticas e terão um impacto bem menor nas urnas ano que vem, qual a
vantagem para nossos políticos em atendê-las.
A
verdade é que, mesmo depois de dividido e conquistado, o Império Romano ainda
oferece uma inspiração clara para o sistema político brasileiro atual: enquanto
a massa estiver alegre, então está tudo bem. Quando a massa se revolta e sai às
ruas, está na hora de mudar a receita do pão e melhorar a qualidade do
espetáculo.
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