quarta-feira, 17 de julho de 2013

Mais médicos, menos consultórios

Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.731, em 11 de julho de 2013.
Esta semana, o Governo Federal apresentou o programa “Mais Médicos”, que tem como objetivo levar mais médicos para as cidades do interior e periferias das grandes cidades, locais que tradicionalmente tem deficiências no sistema de saúde. Apenas para ilustrar, a cidade de Novo Santo Antônio, que fica a cerca de 1.100 km de distância da capital e 1.700 km da Comodoro, está pagando um salário de R$ 30.000,00 para a única médica do município, conforme já noticiado pelo O Diário.
Mas porque é tão difícil para o país achar profissionais que trabalhem em cidade do interior ou nas periferias, se os salários são tão bons? É difícil achar um único motivo, mas arrisco um palpite da principal razão: depois dos anos em sala de aulas, durante o período de residência, os candidatos a médicos ficam tão focados em especialidades e tem tão pouco contato com a população que realmente precisa de atendimento, que acabam preferindo atuar em cidades maiores, em clínicas particulares, cobrando preços altíssimos. Com a saúde pública cada vez mais deficitária, a população cada vez mais se esforça para pagar um plano de saúde ou busca o profissional particular. Assim, temos médicos que cobram absurdos apenas para olhar um paciente e solicitar exames.
Então, se o governo está propondo um programa que visa alocar médicos em regiões que não tem médico nenhum e ainda melhorar o contato do estudante de medicina com a população em geral, porque tantas críticas? Tantos comentários ofensivos?
Aqui, cabe lembrar que a prioridade das contratações são os médicos brasileiros e formados no Brasil. Se, e apenas se, sobrarem vagas, serão contratados médicos formados no exterior, entre os quais muitos brasileiros formados na Bolívia e no Paraguai e que nunca tiveram chances de atuar no seu país natal. A outra parte do programa diz respeito ao aumento de dois anos na duração do curso de medicina, com a inclusão de mais dois anos, que serão cumpridos trabalhando em hospitais de saúde pública, nos serviços de urgência e emergência e na saúde básica.
Agora, é de se perguntar por que o Conselho Federal de Medicina, que faz tão pouco caso com as várias denúncias de erros médicos que pipocam por aí, está tão preocupado com o programa Mais Médicos, fazendo várias críticas, mas sem oferecer nenhuma sugestão para a solução?! Não seria porque os médicos estrangeiros que vão trabalhar no Brasil não serão obrigados a revalidar os diplomas e ter um registro no Conselho e, consequentemente, não terão que pagar as irrisórias contribuições anuais, seria? Não, o CFM está apenas preocupado com a qualidade da saúde, claro.
É por esse mesmo motivo que o CFM se opõe tão fortemente à realização de uma prova de suficiência, como o exame da OAB, não porque uma prova dessas iria reduzir drasticamente a quantidade de médicos habilitados para a profissão, reduzindo também a verba recebida pela entidade.
Sobre o aumento de dois anos do curso de Medicina, em entrevista mostrada pelo Jornal Nacional desta terça-feira, Antonio Carlos Lopes, diretor da Escola Paulista de Medicina, disse que “Isso não acrescenta absolutamente nada naquele que está se formando, não traz nenhuma contribuição para a comunidade, porque ele não tem formação suficiente pra isso”. Ora, se os estudantes não estarão preparados em oito anos, como eles estariam preparados em seis? Realmente, fiquei na dúvida agora.
Já Roberto d´Ávila, Presidente do Conselho Federal de Medicina, disse que “Lançar jovens recém-formados em um ambiente brutalizado, aonde você tem pacientes espalhados pelo chão, aonde você não tem material, equipamentos, medicamentos, você não humaniza ninguém”. Então, o que humaniza o profissional? O que vai fazer como que esse candidato a médico perceba que os pacientes não são apenas exames e estatísticas mas sim uma pessoa, com sentimentos e emoções? Com certeza, não um consultório em uma clínica particular, podem ter certeza!

Dito isso, por que em vez de simplesmente criticar uma idéia, não trabalhamos para melhorá-la, não nos mobilizamos para que o Governo dê a esses médicos condições de trabalho, com materiais e equipamentos para que ele possa desempenhar bem e com dignidade o papel que lhe foi atribuído como protetores da vida. 

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