Originalmente publicada no Jornal "O Diário", Edição 1.731, em 11 de julho de 2013.
Esta semana, o
Governo Federal apresentou o programa “Mais Médicos”, que tem como objetivo
levar mais médicos para as cidades do interior e periferias das grandes
cidades, locais que tradicionalmente tem deficiências no sistema de saúde.
Apenas para ilustrar, a cidade de Novo Santo Antônio, que fica a cerca de 1.100
km de distância da capital e 1.700 km da Comodoro, está pagando um salário de
R$ 30.000,00 para a única médica do município, conforme já noticiado pelo O
Diário.
Mas porque é tão
difícil para o país achar profissionais que trabalhem em cidade do interior ou
nas periferias, se os salários são tão bons? É difícil achar um único motivo,
mas arrisco um palpite da principal razão: depois dos anos em sala de aulas,
durante o período de residência, os candidatos a médicos ficam tão focados em
especialidades e tem tão pouco contato com a população que realmente precisa de
atendimento, que acabam preferindo atuar em cidades maiores, em clínicas
particulares, cobrando preços altíssimos. Com a saúde pública cada vez mais
deficitária, a população cada vez mais se esforça para pagar um plano de saúde
ou busca o profissional particular. Assim, temos médicos que cobram absurdos
apenas para olhar um paciente e solicitar exames.
Então, se o governo
está propondo um programa que visa alocar médicos em regiões que não tem médico
nenhum e ainda melhorar o contato do estudante de medicina com a população em
geral, porque tantas críticas? Tantos comentários ofensivos?
Aqui, cabe lembrar que
a prioridade das contratações são os médicos brasileiros e formados no Brasil.
Se, e apenas se, sobrarem vagas, serão contratados médicos formados no
exterior, entre os quais muitos brasileiros formados na Bolívia e no Paraguai e
que nunca tiveram chances de atuar no seu país natal. A outra parte do programa
diz respeito ao aumento de dois anos na duração do curso de medicina, com a
inclusão de mais dois anos, que serão cumpridos trabalhando em hospitais de
saúde pública, nos serviços de urgência e emergência e na saúde básica.
Agora, é de se
perguntar por que o Conselho Federal de Medicina, que faz tão pouco caso com as
várias denúncias de erros médicos que pipocam por aí, está tão preocupado com o
programa Mais Médicos, fazendo várias críticas, mas sem oferecer nenhuma
sugestão para a solução?! Não seria porque os médicos estrangeiros que vão
trabalhar no Brasil não serão obrigados a revalidar os diplomas e ter um
registro no Conselho e, consequentemente, não terão que pagar as irrisórias
contribuições anuais, seria? Não, o CFM está apenas preocupado com a qualidade
da saúde, claro.
É por esse mesmo
motivo que o CFM se opõe tão fortemente à realização de uma prova de
suficiência, como o exame da OAB, não porque uma prova dessas iria reduzir
drasticamente a quantidade de médicos habilitados para a profissão, reduzindo
também a verba recebida pela entidade.
Sobre o aumento de
dois anos do curso de Medicina, em entrevista mostrada pelo Jornal Nacional
desta terça-feira, Antonio Carlos Lopes, diretor da Escola Paulista de
Medicina, disse que “Isso não acrescenta absolutamente nada naquele que está se
formando, não traz nenhuma contribuição para a comunidade, porque ele não tem
formação suficiente pra isso”. Ora, se os estudantes não estarão preparados em
oito anos, como eles estariam preparados em seis? Realmente, fiquei na dúvida
agora.
Já Roberto d´Ávila,
Presidente do Conselho Federal de Medicina, disse que “Lançar jovens
recém-formados em um ambiente brutalizado, aonde você tem pacientes espalhados
pelo chão, aonde você não tem material, equipamentos, medicamentos, você não
humaniza ninguém”. Então, o que humaniza o profissional? O que vai fazer como
que esse candidato a médico perceba que os pacientes não são apenas exames e
estatísticas mas sim uma pessoa, com sentimentos e emoções? Com certeza, não um
consultório em uma clínica particular, podem ter certeza!
Dito isso, por que em
vez de simplesmente criticar uma idéia, não trabalhamos para melhorá-la, não
nos mobilizamos para que o Governo dê a esses médicos condições de trabalho,
com materiais e equipamentos para que ele possa desempenhar bem e com dignidade
o papel que lhe foi atribuído como protetores da vida.
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