sexta-feira, 20 de junho de 2014

A vida como ela é.



Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº 1.882, em 17/04/2014.

Alguns dias atrás, foi divulgada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, IPEA, uma pesquisa que afirmava de que 65% dos brasileiros concordavam com a ideia de que mulheres que usam roupas curtas ou provocantes mereciam ser estupradas. Essa revolta causou indignação e revolta por todo o país, movimentando as redes sociais, aparecendo nas TVs e sendo comentada até pela Presidenta Dilma.
Uma campanha, idealizada por Nana Queiroz, virou as redes sociais de cabeça para baixo, provocando protestos e mobilizando artistas e celebridades em um movimento em prol da defesa da segurança feminina.
Na sexta-feira passada, entretanto, o IPEA divulgou uma nota, informando que houve um erro no processamento dos dados obtidos e que, na verdade, “apenas” 26% dos brasileiros acham que mulheres de roupa curta merecem ser atacadas.
Havendo erro ou não, o fato é que ainda existem pessoas que acreditam mesmo que alguma mulher merece ser atacada sexualmente. E, incrivelmente, acham isso normal. A questão é: essas pessoas teriam a mesma ideia se fosse a esposa, a namorada ou a filha a agredida?
Mulher nenhuma merece ser agredida ou estuprada. O respeito à mulher, e ao ser humano de modo geral, é um direito de nascimento, que deve ser valorizado sempre. Nenhuma mulher deve ser agredida, seja por usar roupas curtas, seja por ciúmes de marido, seja por qualquer coisa. Muito tempo atrás, meu avô me ensinou que em mulher não se bate nem com uma pétala de rosa.
Por outro lado, esse mesmo avô também me ensinou que mulher de verdade respeita a si mesma acima de tudo. E o autorrespeito anda em baixa na sociedade brasileira. Uma coisa é dizer que mulheres que usam roupas curtas merecem ser agredidas. Isso é errado! Outra coisa, bem diferente, é achar que mulheres devem usar roupas curtas e provocantes. Isso é opinião, e cada um tem a sua.
Pessoalmente, acredito que, da mesma forma que somos instruídos à não fazer algumas coisas para nos protegermos, como trancar sempre a casa ou não abrir a janela do carro em semáforos nas grandes cidades, as mulheres também devem tomar algumas atitudes para se resguardar desse tipo de violência. A mulher que usa roupa curta ou provocante não merece ser atacada, mas dá esse ensejo, provoca o criminoso. Apesar de nada justificar a violência, o que pergunto é se ela estivesse vestida com mais recato, ela seria atacada? A triste realidade é que vivemos numa sociedade machista e conservadora e, apesar de não merecerem, mulheres que se vestem para provocar dão ensejo à serem vítimas de estupradores.
E isso não fica apenas nos crimes, mas também no cotidiano. Acho cômico meninas com saias minúsculas que mostram mais do que escondem, decotes que vão até o umbigo que dançam rebolando até o chão ao som de músicas que tratam mulheres como pedaços de carne e que depois falam chorosas: “Porque nenhum garoto que namorar sério comigo?” Pergunta difícil hein!?
A verdade é que cada um tem deve ter o direito de fazer, e usar, o que bem entender, mas deve arcar com as consequências dessa escolha. Não é certo que mulheres sejam agredidas e estupradas, mas isso acontece, da mesma forma que temos corrupção, fome, analfabetismo e outras misérias. E as mulheres, se não quiserem ser vítimas, tem sim que demostrar mais respeito por si próprias.
 

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