Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº
1.818, em 13/12/2013.
Na
sexta-feira passada, o mundo perdeu um dos maiores líderes políticos e
defensores da paz que já existiu: Nelson
Rolihlahla Mandela. Aos 95 anos, o líder sul-africano não resistiu às infecções
pulmonares e morreu em sua casa, na cidade de Johannesburgo.
Nelson
Mandela, o Madiba como gostava de ser chamado, viveu e morreu em função de uma
causa, o fim de discriminação e da separação entre os povos. Diferente do que
se diz na mídia, Mandela não foi um líder negro ou um líder sul-africano. Foi
uma líder e ponto. Ele não defendia valores de uma ou outra cultura, mas os
valores de um povo livre e em condições de igualdade.
Nelson
Mandela nasceu na zona rural de Qunu, filho de uma antiga família que integrava
a aristocracia da Casa Real Thembu. Apesar da origem nobre, o confisco dos bens
da família e a morte do pai em 1927, fez com que a vida do jovem Mandela, então
com 9 anos, tivesse que morar com um parente da família.
A
infância triste, somada à juventude passada em Johannesburgo, onde se refugiou
após recusar um casamento arranjado conforme o costume de seu povo, fizeram de
Mandela um homem que almejava a liberdade dos povos, não apenas no sentido
racial, mas em todos os sentidos.
Também
é importante lembrar que, apesar de dividir, em 1993, o Premio Nobel da Paz com
o então Presidente Sul-Africano Frederik de Klerk,
Mandela teve seu momento de violência, quando ajudou a fundar e dirigiu o Lança
da Nação, o braço armado do Congresso Nacional Africano (CNA), após o “Massacre
de Sharpeville”, onde 69 pessoas desarmadas foram mortas durante um protesto
pacífico. Segundo Mandela, seria ingenuidade e hipocrisia continuar falando em
pacifismo contra inimigos que usavam armas e força bruta.
Por conta disso, Mandela foi condenado, em 64, à prisão perpétua
por incentivo à greves, viagens ao exterior sem autorização e por planejar
ações armadas. Durante 27 anos, Mandela foi o prisioneiro 466/64 da Ilha
Robben, uma prisão de trabalhos forçados. Mesmo assim, Mandela prosseguiu na
luta contra o apartheid, escrevendo cartas para inúmeros líderes
internacionais.
Em 1990, Mandela foi libertado, após intensa pressão
internacional. Sua soltura foi o estopim para as mudanças antiapartheid
promovidas pelo Presidente de Klerk, o que culminou com a Eleição de Mandela,
em 1994, como o primeiro Presidente Negro da África do Sul.
Porém,
como foi dito, é um erro atribuir à Mandela um caráter apenas racial. Madiba
pregava a unidade dos povos e a igualdade plena entre os indivíduos. Diferente
de outros líderes da causa negra, que tinham como objetivo a supremacia da
raça, Mandela pregava a unidade. Não importava a cor da pele, o local de
nascimento ou a tribo à que pertencia. O importante era apenas a condição de
sul-africano. O filme Invictus,
estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon dá uma amostra disso.
Uma
de suas frases mais famosas é: "Sonho com o dia
em que todas as pessoas levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para
viverem como irmãos."
Nesse
contexto, a morte de Nelson Mandela não é uma perda para a África do Sul ou
para a raça negra, mas sim uma perda irreparável para a humanidade, que agora
está privada de um de seus maiores defensores.
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