Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº
1.772, em 20/09/2013.
“A violência é tão fascinante e nossos dias são tão normais”, assim cantou Renato Russo, na música Baader-Meinhof Blues, composta em 1980. Mais de trinta anos depois, a música, que fala da banalização da violência e de como a sociedade já não se choca mais com isso, ainda me parece bastante atual, afinal nos últimos meses temos visto histórias cada vez mais delirantes sobre crimes cometidos país afora.
A
mais recente aconteceu em Curitiba: um ladrão vestiu-se de padre e, com a
desculpa de abençoar as casas, fez um limpa, levando dinheiro, celulares e
jóias, enquanto os fiéis donos das casas, normalmente pessoas idosas, rezavam
na sala.
Junte
isto aos estranhos casos de mortes de famílias inteiras, algumas tão
surpreendentes que a explicação oficial parece tirada de um livro de Edgar
Allan Poe, como o caso da família Pesseguini,em que
acusam um menino de 14 anos de ter matado toda sua família de depois ter se
suicidado.
Cada
vez mais nossa sociedade tem ficado à mercê da violência e da bandidagem. E de
quem é a culpa? Muitos responderão: “é da polícia, que não faz seu trabalho
direito!” ou ainda “é do Estado que não nos protege!”
Muito
fácil apontar o dedo e indicar culpados. Mas é um pouco mais difícil
entendermos a medida de cada culpado e qual é a nossa própria parcela de culpa
na crescente onda de violência que assola o país.
E
não estou falando de culpa por não tomar cuidados para a segurança ou não
colocar adesivos de família no carro para sequestradores não saberem quantos
filhos a gente tem, como tanto apregoa Rodrigo Pimentel, comentarista de
segurança da Rede Globo. Estou falando é da responsabilidade de educar os
filhos, de ensiná-los a respeitar o próximo e a ter educação.
Hoje
em dia, com os chamados “compromissos da vida moderna”, é muito fácil deixar
uma criança nas mãos de uma babá ou na escola, achando que eles vão ensinar
tudo que uma criança precisa. Porém a babá apenas toma conta para que as crianças não cometam
nada errado longe dos olhos dos pais, ou mesmo cumpram e façam suas tarefas,
quanto a escola, seu papel é ensinar, educar, transmitir conhecimento básico de matérias curriculares e com a função de equalizar as oportunidades, nos tornar pessoas
críticas, transformadoras, conscientes, criadoras e democráticas. Contudo, Ledo engano acreditar que é só isso que as crianças precisam.
Elas necessitam de exemplos! E as crianças, pasmem, aprendem as coisas com os
pais mesmo, com seus exemplos.
Assim,
quando o pai estaciona o carro numa vaga reservada para idoso, o filho aprende
a mesma coisa. E um ato que parece simples leva-o muito
mais além, o faz acreditar que um idoso não merece respeito. Um filho
que vê o pai jogando lixo na rua “para garantir o emprego do gari!” é o mesmo
que destrói o patrimônio público, “porque não é de ninguém!”
Fato
curioso é que nos tempos de antigamente,(o que as vezes
nos parece ser há muito tempo mesmo), quando os pais ainda arrumavam
tempo para educar pessoalmente seus filhos, havia menos violência pelas ruas.
Pessoas desonestas e bandidas, nem sempre, mas em geral, são filhas de pais
relapsos, não apenas de um estado omisso. Claro que não
podemos generalizar, pois ainda existem pais cuidadosos e amorosos que sabem
impor limites aos seus filhos, mostrando que isso é um ato de amor.
É
claro que os pais não são os únicos responsáveis por tudo que acontece. A
legislação também não ajuda. Nem a aplicação das leis.
Algumas
leis tiveram boa intenção ao serem criadas, mas sua execução torna-se falha,
protegendo a impunidade e a bandidagem justamente por, ao tentar defender um
inocente, acabar por defender o culpado também. Exemplo disso é o Estatuto da
Criança e do Adolescente.
Outras
leis até são corretas, mas por falta de estrutura do estado, acabam por não
serem aplicadas, como a Lei de Execuções Penais. Todo mundo fica pasmo quando
se fala que qualquer bandido, depois de cumprido um sexto da pena, pode ser
posto em liberdade. Ou seja, se o bandido for condenado à 12 anos, em dois ele
já pode ser libertado.
Mas
para quem conhece bem a lei, sabe que o correto seria que, depois de atingido o
tempo de progressão de pena, o preso, que estaria em regime fechado,
enclausurado 24 horas por dia, ganharia a possibilidade de ir para uma colônia
penal, onde poderia sair de sua cela durante o dia, para trabalhar ou estudar, mas
sem deixar a cadeia.
Entretanto,
por conta das falhas do estado, não existem colônias penais em quantidade
suficiente no Brasil. E o que é feito dos presos? São postos na rua, sem
preparo para voltarem à vida em sociedade, mais bandidos do que entraram, porque a cadeia se torna um inferno fazendo-o a ter mais
raiva da sociedade.
No
final, fica todo mundo apontando o dedo e mostrando culpados, sem fazer nada
para mudar o mundo. E a sociedade prefere ficar sentada no sofá, assistindo
novelas e Big Brother Brasil ao invés de educar seus filhos e tentar fazer algo
de útil.
Afinal
de contas, “As grades do condomínio São prá trazer proteção Mas também trazem a
dúvida Se é você que tá nessa prisão”!*
N.A.:
Trecho da música “Minha
Alma”, do grupo O Rappa.
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