sexta-feira, 20 de junho de 2014

Um Drama Shakespeariano


Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº 1.755, em 22/08/2013.


Em 1601, o escritor e poeta inglês Willian Shakespeare escreveu uma se suas mais famosas peças, Hamlet. Na obra, o jovem Príncipe Hamlet discorre sobre o “ser ou não ser, eis a questão”. Quase todo mundo já ouviu, pelo menos uma vez na vida, essa frase. O que muita gente não sabe é o que vem depois dessa frase.
Após o enigmático ser ou não ser, Hamlet se pergunta se será mais nobre simplesmente dar a outra face e aceitar os estigmas e as feridas que o destino vai lhe impor ou se levantar e lutar contra esse destino, mesmo que a batalha seja árdua e quase invencível. Não se trata de covardia ou coragem, mas sim de qual a melhor forma de encarar um problema insolúvel: aceitamos os golpes, perdoando nossos ofensores, sem impor-lhes a vingança nem machucar inocentes, ou revidamos, mesmo que as consequências possam ser terríveis?
Na peça, Hamlet opta por revidar e se vingar de seu tio, assassino de seu pai. O preço da vingança: sua amada Ofélia, acreditando que Hamlet está louco, se suicida.
A comparação poética me ocorre agora, pois vejo alguém em situação parecida: nosso ilustre Presidente da Câmara de Vereadores, Vereador Jeferson Ferreira Gomes. Na sessão da Câmara desta segunda-feira foi aberta uma comissão processante para apurar supostas denúncias de irregularidades contra o Presidente da Casa. O mais intrigante disso é que as tais denuncias surgiram logo após o Vereador ter feito, ele próprio, denúncias contra a administração municipal.
Este colunista não pode afirmar, claro, que Jeferson, ou qualquer outro vereador ou membro da administração municipal, seja inocente ou culpado, mesmo porque não cabe à mim investigar nem julgar ninguém. Mas o que me parece estranho é o senso de oportunidade dos vereadores governistas que resolveram apurar denúncias contra o Presidente logo após o Presidente fazer denúncias contra a administração municipal.
Claro que isso pode ser apenas coincidência e que o objetivo da comissão processante seja apenas zelar pelo bom funcionamento da casa. Mas que parece, parece!
Apenas para ilustrar, uma das denúncias contra o Presidente é de que ele teria feito a contratação de uma rede de TV local sem licitação. Não sei se houve licitação ou não, mas acredito ser difícil realizar uma licitação, uma concorrência, quando só existe uma empresa no mercado.
Outra coisa que me chamou muita atenção sobre essa comissão processante é o que fato de que a comissão deverá apresentar suas conclusões em sessão extraordinária, que será realizada em 28 de agosto, no meio da tarde. Ora, se o objetivo dos vereadores é representar a população e o objetivo da comissão processante é confirmar se houve ou não irregularidades dessa mesma representação, não seria sensato então que a sessão acontecesse num horário que a população pudesse comparecer e não no meio da tarde, quando a maioria das pessoas estão trabalhando? O Vereador Gustavo, Presidente da comissão processante deve ter suas razões. Pena que nenhuma razão me ocorra agora.
Só para salientar, no mesmo dia, às 16 horas, a Prefeitura Municipal vai realizar Audiência Pública para apresentar o Plano Plurianual, conhecido como PPA, que regula as diretrizes e fundamentos da Administração Pública Municipal pelos próximos 4 anos, incluindo aí a previsão orçamentária municipal. Tal apresentação deveria ter a presença da população e a participação ativa da vereança municipal.
Agora, se é difícil para o trabalhador comum ir até a sessão extraordinária da Câmara para saber quais as conclusões da comissão processante, como é que vamos poder ir também ao lançamento do PPA? E os vereadores? Como é que vão estar em dois lugares ao mesmo tempo?
No final das contas, fico com a sensação de que tanto os vereadores quanto a administração municipal acabam por nos tratar como filhos pequenos, para quem não é importante participar das decisões, apenas saber que a mamãe e o papai estão cuidando do que é bom para vocês.

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