Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº 1.755, em 22/08/2013.
Em 1601, o escritor e poeta
inglês Willian Shakespeare escreveu uma se suas mais famosas peças, Hamlet. Na
obra, o jovem Príncipe Hamlet discorre sobre o “ser ou não ser, eis a questão”.
Quase todo mundo já ouviu, pelo menos uma vez na vida, essa frase. O que muita
gente não sabe é o que vem depois dessa frase.
Após o enigmático ser ou não
ser, Hamlet se pergunta se será mais nobre simplesmente dar a outra face e
aceitar os estigmas e as feridas que o destino vai lhe impor ou se levantar e
lutar contra esse destino, mesmo que a batalha seja árdua e quase invencível.
Não se trata de covardia ou coragem, mas sim de qual a melhor forma de encarar
um problema insolúvel: aceitamos os golpes, perdoando nossos ofensores, sem
impor-lhes a vingança nem machucar inocentes, ou revidamos, mesmo que as
consequências possam ser terríveis?
Na peça, Hamlet opta por
revidar e se vingar de seu tio, assassino de seu pai. O preço da vingança: sua
amada Ofélia, acreditando que Hamlet está louco, se suicida.
A comparação poética me
ocorre agora, pois vejo alguém em situação parecida: nosso ilustre Presidente
da Câmara de Vereadores, Vereador Jeferson Ferreira Gomes. Na sessão da Câmara
desta segunda-feira foi aberta uma comissão processante para apurar supostas
denúncias de irregularidades contra o Presidente da Casa. O mais intrigante
disso é que as tais denuncias surgiram logo após o Vereador ter feito, ele
próprio, denúncias contra a administração municipal.
Este colunista não pode
afirmar, claro, que Jeferson, ou qualquer outro vereador ou membro da
administração municipal, seja inocente ou culpado, mesmo porque não cabe à mim
investigar nem julgar ninguém. Mas o que me parece estranho é o senso de
oportunidade dos vereadores governistas que resolveram apurar denúncias contra o
Presidente logo após o Presidente fazer denúncias contra a administração
municipal.
Claro que isso pode ser
apenas coincidência e que o objetivo da comissão processante seja apenas zelar
pelo bom funcionamento da casa. Mas que parece, parece!
Apenas para ilustrar, uma
das denúncias contra o Presidente é de que ele teria feito a contratação de uma
rede de TV local sem licitação. Não sei se houve licitação ou não, mas acredito
ser difícil realizar uma licitação, uma concorrência, quando só existe uma
empresa no mercado.
Outra coisa que me chamou
muita atenção sobre essa comissão processante é o que fato de que a comissão
deverá apresentar suas conclusões em sessão extraordinária, que será realizada
em 28 de agosto, no meio da tarde. Ora, se o objetivo dos vereadores é
representar a população e o objetivo da comissão processante é confirmar se
houve ou não irregularidades dessa mesma representação, não seria sensato então
que a sessão acontecesse num horário que a população pudesse comparecer e não
no meio da tarde, quando a maioria das pessoas estão trabalhando? O Vereador
Gustavo, Presidente da comissão processante deve ter suas razões. Pena que
nenhuma razão me ocorra agora.
Só para salientar, no mesmo
dia, às 16 horas, a Prefeitura Municipal vai realizar Audiência Pública para
apresentar o Plano Plurianual, conhecido como PPA, que regula as diretrizes e
fundamentos da Administração Pública Municipal pelos próximos 4 anos, incluindo
aí a previsão orçamentária municipal. Tal apresentação deveria ter a presença da
população e a participação ativa da vereança municipal.
Agora, se é difícil para o
trabalhador comum ir até a sessão extraordinária da Câmara para saber quais as
conclusões da comissão processante, como é que vamos poder ir também ao lançamento do PPA? E os
vereadores? Como é que vão estar em dois lugares ao mesmo tempo?
No final das contas,
fico com a sensação de que tanto os vereadores quanto a administração municipal
acabam por nos tratar como filhos pequenos, para quem não é importante
participar das decisões, apenas saber que a mamãe e o papai estão cuidando do
que é bom para vocês.
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