sexta-feira, 20 de junho de 2014

Cinema Paradiso



Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº 1.799, em 07/11/2013.

Dizem que vida imita a arte e a arte imita a vida. Pessoalmente, acredito que a arte imita e prevê a vida. Quer dizer, o cinema mostra o que e como somos e o que vai acontecer conosco. Assistindo ao filme Elysium, do diretor Neill Blomkamp (diretor de Distrito 9), mais uma vez me convenço disso.
No filme, a elite e os ricos, para manterem seu padrão de vida, fogem da Terra para a estação espacial Elysium, um lugar paradisíaco, onde a vida é linda e todas as doenças são curadas com uma passagem por uma “cápsula médica”. Enquanto isso, a superfície da Terra é habitada pelos mais pobres, praticamente transformada numa enorme favela. Viagens espaciais, curas milagrosas e um futuro apocalíptico. Uma história surreal, claro! Infelizmente, nem tão surreal assim.
O apartheid social é cada vez mais visível. Cada vez mais os ricos afastam os mais pobres. E nem precisamos ir tão longe para vermos isso: em Cuiabá já existem condomínios fechados tão grandes que nem é mais preciso sair de lá para fazer compras ou outras coisas. Um exemplo disso é o Alphaville, onde existe o Alphamall, onde é possível fazer compras e outras facilidades que permitem que o morador Alpha não precise sair do conforto e da segurança de seu residencial.
Enquanto isso, enquanto a riqueza se encastela em condomínios fechados, patrulhados por hordas de seguranças, a pobreza se acumula nas favelas e periferias das grandes cidades. Por enquanto, isso acontece nas grandes cidades, mas quanto tempo levará para que chegue ao interior também?
Além disso, com o consumo de combustíveis fósseis sendo mais utilizados à cada dia e com a poluição ambiental crescendo desenfreadamente, não é difícil supor que não demora muito para que sejam construídas colônias no espaço. E é claro que apenas os ricos poderão pagar. Não é de se duvidar que, em breve, teremos um Alphaville Espace.
Ou seja, a sociedade caminha para uma ruptura, uma separação total entre quem tem dinheiro para pagar o conforto, a segurança e a privacidade, e quem não tem dinheiro para nada disso. Esse abismo social vem crescendo à cada dia.
Por exemplo, no Brasil, onde se critica tanto o sistema de saúde público, quem tem dinheiro para pagar consultas particulares ou planos de saúde podem ser atendidos mais rapidamente. Quem não tem, espera na fila do SUS durante anos por exames ou cirurgias. Mesmo assim, mal e porcamente, a saúde pública existe. Pior é nos EUA, país das maravilhas e da liberdade, onde quem não tem dinheiro ou seguro-saúde morre na porta dos hospitais sem sequer um olhar dos médicos, quanto mais um atendimento.
Assim, quanto mais vemos nosso futuro, mais percebemos que, se não houver uma mudança de postura da população como um todo, estamos fadados ao crescimento desse abismo social. O problema é que uma população explorada e massacrada tente à revolta. No filme Elysium, a população invade a estação espacial para que todos tenham acesso às mesmas regalias que os ricos têm. E aqui, o que vamos fazer quando a hora chegar? 
Na verdade, depois de sair da sala de cinema, com todos os meus temores e as minhas dúvidas sobre o futuro do nosso planeta, a única coisa que eu tinha certeza era a de que o Wagner Moura estava ótimo e mostrou para os gringos que o Brasil não é só samba, futebol e mulher pelada.

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