Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº
1.799, em 07/11/2013.
Dizem que
vida imita a arte e a arte imita a vida. Pessoalmente, acredito que a arte
imita e prevê a vida. Quer dizer, o cinema mostra o que e como somos e o que
vai acontecer conosco. Assistindo ao filme Elysium, do diretor Neill Blomkamp (diretor
de Distrito 9), mais uma vez me convenço disso.
No filme, a
elite e os ricos, para manterem seu padrão de vida, fogem da Terra para a
estação espacial Elysium, um lugar paradisíaco, onde a vida é linda e todas as
doenças são curadas com uma passagem por uma “cápsula médica”. Enquanto isso, a
superfície da Terra é habitada pelos mais pobres, praticamente transformada
numa enorme favela. Viagens espaciais, curas milagrosas e um futuro
apocalíptico. Uma história surreal, claro! Infelizmente, nem tão surreal assim.
O apartheid social é cada vez mais
visível. Cada vez mais os ricos afastam os mais pobres. E nem precisamos ir tão
longe para vermos isso: em Cuiabá já existem condomínios fechados tão grandes
que nem é mais preciso sair de lá para fazer compras ou outras coisas. Um
exemplo disso é o Alphaville, onde existe o Alphamall, onde é possível fazer
compras e outras facilidades que permitem que o morador Alpha não precise sair
do conforto e da segurança de seu residencial.
Enquanto
isso, enquanto a riqueza se encastela em condomínios fechados, patrulhados por
hordas de seguranças, a pobreza se acumula nas favelas e periferias das grandes
cidades. Por enquanto, isso acontece nas grandes cidades, mas quanto tempo
levará para que chegue ao interior também?
Além disso,
com o consumo de combustíveis fósseis sendo mais utilizados à cada dia e com a
poluição ambiental crescendo desenfreadamente, não é difícil supor que não
demora muito para que sejam construídas colônias no espaço. E é claro que
apenas os ricos poderão pagar. Não é de se duvidar que, em breve, teremos um
Alphaville Espace.
Ou seja, a
sociedade caminha para uma ruptura, uma separação total entre quem tem dinheiro
para pagar o conforto, a segurança e a privacidade, e quem não tem dinheiro
para nada disso. Esse abismo social vem crescendo à cada dia.
Por
exemplo, no Brasil, onde se critica tanto o sistema de saúde público, quem tem
dinheiro para pagar consultas particulares ou planos de saúde podem ser
atendidos mais rapidamente. Quem não tem, espera na fila do SUS durante anos
por exames ou cirurgias. Mesmo assim, mal e porcamente, a saúde pública existe.
Pior é nos EUA, país das maravilhas e da liberdade, onde quem não tem dinheiro
ou seguro-saúde morre na porta dos hospitais sem sequer um olhar dos médicos,
quanto mais um atendimento.
Assim,
quanto mais vemos nosso futuro, mais percebemos que, se não houver uma mudança
de postura da população como um todo, estamos fadados ao crescimento desse
abismo social. O problema é que uma população explorada e massacrada tente à
revolta. No filme Elysium, a população invade a estação espacial para que todos
tenham acesso às mesmas regalias que os ricos têm. E aqui, o que vamos fazer
quando a hora chegar?
Na verdade, depois de sair da sala de cinema,
com todos os meus temores e as minhas dúvidas sobre o futuro do nosso planeta,
a única coisa que eu tinha certeza era a de que o Wagner Moura estava ótimo e
mostrou para os gringos que o Brasil não é só samba, futebol e mulher pelada.
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