sexta-feira, 20 de junho de 2014

Escola (Re)ciclada



Originalmente publicado no Jornal “O Diário”, Edição nº 1.832, em 21/01/2014.
 


Janeiro é sempre um mês de tranquilidade: mais um novo ano, os filhos estão de férias, aproveitando o recesso escolar, no geral a vida anda a passo lento, ainda se preparando para o ano que acaba de começar.
Porém, no caso das escolas públicas estaduais, a realidade é bem outra. O ano letivo de 2013 ainda não acabou e as escolas, ao invés de recesso, estão à pleno vapor. Em Comodoro, as aulas estão previstas até 25 de janeiro. Em outras cidades do estado, como Cuiabá, 2013 só termina em fevereiro. A previsão para o começo das aulas em 2014 é na segunda quinzena de março. E de quem é a culpa?
A resposta que passou pela cabeça de pelo menos alguns leitores com certeza foi: “dos Professores, ora, que resolveram fazer greve no ano passado!”. Bom, claro que a greve realmente é o responsável pelo atraso no calendário letivo. Mas é bom lembrarmos porque a greve estourou.
Para os que não acompanharam o movimento grevista dos professores, em agosto e setembro passado, as principais reivindicações dos professores, pasmem, não era eram referentes à salários, mas sim as condições de trabalho. Ganhar mal sempre foi desculpa para professores relapsos e para o baixo rendimento dos alunos de escolas públicas.
Mas ninguém vê que as péssimas condições de trabalho é que são os vilões dessa história. E não falo apenas de condições físicas. Além da falta de estrutura, da falta de materiais pedagógicos, da superlotação das salas, do calor excessivo, os professores ainda são submetidos à um dificuldade psicológica extrema: a escola ciclada.
A escola ciclada, método de ensino criado pela LDB, no artigo 23, e implementada no Mato Grosso pela Resolução 262/02 – CEE/MT, consiste em dividir as séries em ciclos, em etapas. O problema é que dentro dos ciclos, o aluno não pode ficar retido. Ou seja, mesmo que o aluno tenha dificuldades e não tenha atingido o patamar de conhecimento esperado para aquela série, ele irá seguir em frente. Trocando em miúdos, o aluno não reprova!
Daí, o professor do ano seguinte vai ter que lidar com alunos que não conseguem acompanhar a matéria por que não tem o preparo necessário. Diante dessa situação, surgem apenas duas opções: atrasar a turma toda para que todos andem na mesma toada ou tocar adiante, deixando aquele aluno com dificuldade para trás. Nenhuma das duas opções são realmente produtivas.
Para quem é mais velho um pouco e estudou da década de 90 para trás, quando um aluno não sabia a matéria e não ia bem nas provas, ele era reprovado. Porém, os especialistas em psicologia infantil dizem que isso faz com que o aluno se sinta rejeitado e humilhado, desestimulando-o e induzindo-o ao fracasso, além de ser responsável por casos de desequilíbrio emocional e criando situações como os garotos que invadem escolas armados e matam todo mundo. Sei não, mas quando eu era garoto e estudava, não me lembro de muitos casos desses. Isso veio um pouco depois!
Mais recentemente, o Estado tomou outro caminho, um meio termo: o aluno que não atingisse a média não reprovava e perdia um ano inteiro, mas também não seguia em frente como se nada tivesse acontecido. Ele era obrigado a refazer, emoutro período, as disciplinas em que não tivesse obtido nota, cursando, ao mesmo tempo, sua série normal.Na minha opinião, a ideia tem seus méritos.
Não sou nenhum especialista em educação, mas o que tenho visto é que desde a existência da tal escola ciclada, cada vez mais o nível dos alunos das escolas públicas vem caindo, acabando por criar verdadeiros analfabetos funcionais. E não importa o quanto o professor seja dedicado; a sua impotência em impedir que o aluno passe de ano mesmo sem conhecimento da matéria, anula todas as suas tentativas de fazer um bom trabalho. Por isso é que alguns estão desestimulados!
Cada vez mais, as escolas tem se transformado em depósitos de jovens, cujos pseudos-pais os obrigam à ir para terem a quem culpar quando o filho não alcançar sucesso na vida. E nenhum político vai investir de verdade em educação, já que no dia em que a população for bem formada, boa parte dos nossos políticos jamais voltarão ao poder. E quem é que se preocupa com isso? 
Enfim, que venha o novo ano, mesmo que para muitos alunos e professores ele só vá iniciar em março. E afinal de contas é ano de Copa né, quem vai se preocupar com o rendimento escolar? Como dizia um grupo musical muito famoso Biquini Cavadão “Eu sou do povo eu sou um Zé ninguém, aqui em baixo a leis dão diferentes”.

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