Uma praça no centro da cidade. Um homem distinto, grisalho, rosto algo sério, está caminhando, voltando para o trabalho depois de seu almoço.
Nisso, lhe chama a atenção um homem, ou melhor, um trapo humano. Sujo até o ultimo fio de cabelo, todo roto e esfarrapado, um molambo.
Quando se aproxima o senhor, o mendigo pede:
- Dá um trocado moço?
- Ta me achando com cara de banco?
- Ô moço, seu o senhor soubesse o que eu tenho passado...
Mais por curiosidade do que por espírito de piedade que o homem se aproxima.
- Faz mais de três meses que tô desempregado, sem um tostão furado no bolso. A mulher me abandonou! Fugiu com um ambulante, vê só, um ambulante!! E ainda por cima, me larga os filhos pra criar.
- Quanta tristeza! E como você faz pra viver?
- Três filhos, Doutor!! Três! A gente vai trabalhando, fazendo uns biscates, pedindo um trocado, fica tudo aqui na bolsa, o dinheiro ganho no dia fica aqui – se lamenta o mendigo, apontando uma bolsa de napa surrada ao seu lado. – No outro dia de manhã, a bolsa já ta vazia de novo!
De repente, num tropel de homens, armas e barracas desmontadas às pressas, surge o “rapa” da polícia. Homens fardados, determinados à banir das ruas, mendigos, moleques e camelôs. O mendigo maltrapilho sai correndo, largando tudo e todos, fugindo da fúria estatal.
Depois de quase apanhar, confundido com um ambulante (logo um ambulante!), o homem olha para baixo e percebe que, na pressa, o mendigo esquecera sua sacola. Ele a recolhe, pensando se vai poder devolvê-la no dia seguinte. Quando abre, à primeira vista, parece que há muito dinheiro na sacola, mas o homem percebe que são só moedas de pequeno valor. Não pensa mais nisso.
No outro dia, ele leva a sacola pensando se o mendigo estaria lá. Não estava. Passam os dias e nada do mendigo. A sacola fica esquecida numa gaveta da mesa, no escritório.
Passado algum tempo, o homem descobre que esqueceu a carteira em casa e não pode pagar o almoço. Ele se lembra da sacola do mendigo, escondida no fundo duma gaveta. Não é roubo, é só um empréstimo. Ele vai repor tudo quando encontrar o mendigo (se encontrar). Ele tira o dinheiro da sacola e começa a contar. É muito dinheiro, muito mesmo! Mais do que o homem ganharia em quinze dias. E, segundo o mendigo, ele tinha ganho aquilo só numa manhã. Difícil acreditar.
********
Dias depois, o mendigo volta para o seu canto na esquina. O lugar ficou cheio de guardas depois daquele dia em que teve que sair correndo. Até mesmo perdeu a bolsa de dinheiro. Além de tudo, nem pode mendigar no seu ponto mais lucrativo.
Quando ele chega perto do lugar, surpresa: tem outro mendigo ali. Tão maltrapilho quanto ele, mas ainda mais sujo. Veste os restos de um paletó esfarrapado. Ao chegar mais perto ele percebe que conhece o homem. Vasculha a memória e se lembra: é o sujeito que conversava com ele quando o rapa chegou.
- Oh doutor, que você ta fazendo?
- Cala a boca, mendigo! Que doutor o que! – e mais baixo – Fica quieto, se eles descobrem, eu to ferrado.
- Mas o que aconteceu? – diz o outro, aos sussurros
- Depois que você foi embora correndo, eu vi a sua bolsa. É dinheiro pra caramba que você ganha aqui, hein! Depois disso, resolvi virar mendigo também. Larguei o emprego e to ganhando bem mais aqui.
- Mas e eu?? Esse é o meu ponto!
- Se vira! Você que abandonou o lugar.
- Se você não sair, eu conto pra todo mundo que o senhor é doutor e tem emprego em empresa bacana.
O outro fica pensativo. Depois decide:
- A gente faz o seguinte: de manhã um, de tarde outro. Quem não tiver pedindo, fica de vigia pra rapa não pegar.
- Certo, combinado. Eu fico de tarde
- Tá bom.
O que os dois não percebem é que tem um outro homem atrás deles, atraído pela discussão e tentando ajudar os dois. Depois de ouvir tudo aquilo, ele reflete melhor e decide que eles não precisam de ajuda coisa nenhuma.
No dia seguinte, do outro lado da praça, tem um mendigo a mais pedindo esmola!
sexta-feira, 15 de maio de 2009
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isso me deu idéias.......vou escolher meu ponto pra complementar minda renda....kkkkkk
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