Maria Rosa desceu a rua. Uma bela mulata com a cesta de compras. Vai pra casa preparar a ceia de Natal do seu homem. Nem mesmo podia chamar de seu, afinal não eram casados. Ele havia se casado antes, mas se desquitara. Nunca revelara o motivo e ela nunca perguntara.
Era véspera de Natal e Maria Rosa se lembrou do presente do Alvarez, comprado uns dias antes. Um relógio de prata, importado, muito bem acabado. Combinava com ele, era sóbrio e elegante, assim como o Alvarez, ou pelo menos are assim que pensava Maria Rosa. Ela às vezes imaginava como é que tinha conquistado aquele homem alto, bonito, elegante, charmoso e culto.
Havia descoberto que era muito mais caro do que seu parco orçamento poderia comprar, mas mesmo assim levou-o. Decididamente, combinava com o Alvarez. Com esses pensamento à lhe indicar o caminho, segui para casa, fazer o jantar.
O Alvarez já havia avisado que iria demorar, já que tinha trocado o turno com um colega que precisava ver a família. Era um amigo dos amigos, e Maria Rosa admirava-o por isso.
Nove e meia da noite, o peru no forno, Maria Rosa atende ao telefone: o amigo com quem o Alvarez trocara de turno ligara para desejar Feliz Natal. Pergunta por Alvarez. Maria Rosa lhe responde que ainda não chegou do serviço
- Mas só o segurança trabalha hoje. Tudo parado por causa do Natal!
O fone cai no chão. Ao recolocá-lo no gancho, ainda em choque, ele toque quase que instantaneamente. Maria Rosa, como se o telefone fosse algum animal peçonhento. O instinto, entretanto, lhe diz para atender. É o Alvarez.
Com a habilidade de uma atriz consumada, Maria Rosa aceita a desculpa de Alvarez para o atraso.
- Não demora mais nada, amor! Já chego.
Então Maria Rosa se lembra de ter visto, quando voltava pra casa com as compras, um carro parecido com o do Alvarez. Um carro popular, como muitos por aí, mas alguns detalhes semelhantes haviam chamado sua atenção. Não imaginara que podia ser mesmo o dele.
Ela volta ao local aonde vira o carro. Ainda está estacionado. Uma olhada mais de perto lha diz que é mesmo o carro do Alvarez. Ela olha ao redor, tentando adivinhar onde estará ele. Súbito, uma risada ecoa de um dos prédios próximos até a rua. Mesmo sem os anos de convívio, aquela risada seria inconfundível. E veio de um bordel.
Maria Rosa se aproxima da janela. A iluminação em tons de vermelho dificulta a visão, o lugar está quase vazio. È véspera de Natal. Pela janela Maria Rosa vê Alvarez, sentado, numa roda de amigos desconhecidos dela, e com uma mulher, branca, grande, ao colo. Cada coxa da mulher daria as duas de Maria Rosa. A mulher é muito mais alta. Esta quase nua, uns trapos apenas cobrem suas partes intimas e as mãos de Alvarez, que tentam arrancar as já parcas roupas da mulher. Ela parece nem se importar. E então, Alvarez vê Maria Rosa pela janela.
Ela foge, ela vai atrás. O carro demora a pegar. Quando Alvarez chega ao apartamento, a porta esta trancada. Ele bate, esmurra a porta, mas nada. Durante algumas horas ele argumenta em vão com um pedaço de madeira. Não fosse por alguns soluços sentidos que ouvira quando chegou, Alvarez diria que a mulata nem estava em casa.
Então ele percebe um cheiro estranho e diferente. Adocicado. Aquilo lhe aperta a garganta. Alvarez arromba a porta do apartamento. Vai à cozinha. O peru, ainda cru, em cima do fogão. No chão, com a cabeça dentro do forno, Maria Rosa. Ele tenta reanimá-la. Em vão. O gás arruinara seus pulmões irremediavelmente. Ela se suicidara de desgosto e mágoa.
O primeiro pensamento de Alvarez era o de seguir-lhe os passos. Mas falta-lhe coragem. Todas as grandezas e qualidades que Maria Rosa tanto apreciava, inclusive a coragem e a nobreza, não passavam de um embuste.
E na noite de Natal, Alvarez iria se consolar nos braços da grande alemã do prostíbulo de Madame Dolores.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
a decepção, desgosto e mágoa matam mais que acidentes de avião, cigarro ou bebida....é que não divulgam, quando se tem coragem para se suicidar(sim coragem!é preciso tê-la pra fazer)abrevia-se uma existência vegetativa causada pela dor...se bem que eu preferiria rogar ao sujeito uma praga que amaldiçoasse até sua sétima geração, colocaria uma roupa linda e uma make-up top e afogaria minhas mágoas com um peguete moreno sarado e gostoso.kkkkkk
ResponderExcluirP.S. como sou meio bruxa naquela noite na hora H ele ia descobri que a loira era uma big traveca.....Ronaldo!!!!rsss