Mais uma vez, vejo com tristeza as reportagens sobre a Segurança Pública brasileira, principalmente quando se trata da situação do Sistema Prisional. É muito fácil para as pessoas julgarem o trabalho de outros, sem estar em seu lugar.
O trabalho do Agente Prisional é muito mais complexo e rigoroso do que se pensa. Trabalhando sem estrutura, segurança ou equipagem, o Agente tem de enfrentar os mais perigosos criminosos, todos confinados num espaço exíguo, e com as mais suspeitas disposições.
Em qualquer lugar do mundo, mesmo nos manuais de segurança distribuídos nos supostos cursos de formação, um procedimento seguro, num ambiente prisional, comportaria de 7 à 20 reeducandos para cada Agente de segurança. Destes, ao menos um terço com algum tipo de armamento, que fosse não letal.
Numa penitenciária como a Penitenciária Central do Estado (antigo Pascoal Ramos), os cerca de 1400 presos são “controlados” por 15 Agentes, ou menos. Sei que não entendo muito de matemática, mas com certeza essa conta ta meio desproporcional!
Não bastasse o déficit de pessoal, falta de treinamento complica ainda mais esse quadro. Quando entram no sistema, os Agentes novatos recebem instrução, o mais das vezes meramente teórica, durante um mês. Só para comparação, no estado de Mato Grosso, o treinamento da Polícia Civil dura cerca de seis meses. Da Polícia Militar, oito. Isso quando têm esse treinamento. Alguns dos Agentes, sob a alegação de exigência imediata de pessoal, são colocados imediatamente no serviço, tendo de aprender seu mister graças à sua própria disposição e ao apoio dos colegas.
Quanto à remuneração nem se fala. Quero deixar claro que não são só os Agentes que ganham pouco, mas toda a classe da segurança pública. Um policial militar, em inicio de carreira, não ganha mais do que 800,00 reais. Um policial civil, cargo para o qual hoje se exige nível superior, cerca de 1400,00 reais. O problema é que em ambos os casos, as tentações não são tão grandes.
Numa penitenciária com mais de mil homens confinados, diuturnamente os Agentes recebem propostas, das mais variadas. Desde coisas inocentes, como comprar um cigarro ou levar uma carta para a família, até coisas mais complexas, tipo celulares e drogas. Uma pessoa que ganha bruto cerca de 1000,00 reais tem de ter muita força de vontade para não se corromper, sabendo que pode ganhar pelo menos a metade disso num único dia. Infelizmente, alguns deles se vendem. Mas são minoria.
Por mais incrível que pareça, o convívio com os presos torna os Agentes avessos à muito contato com eles. Isso, somado ao medo de uma possível punição, faz com que apenas alguns se corrompam. É improvável que, num ambiente como esse, todos sejam honestos e direitos. E corruptos existem em todos os lugares, Brasília que o diga.
Agora verdade seja dita: falta de treino, de estrutura, de dinheiro, isso os Agentes tiram de letra. Difícil mesmo é conviver com a insegurança. A cada plantão, ao entrar no presídio, o Agente pensa que aquele pode ser seu último dia vivo. Nenhum lugar é mais imprevisível do que uma unidade prisional. A qualquer momento um preso pode se desentender com outro e a briga se generaliza. Acertos de contas, vinganças, rixas de gangues ou mesmo o descumprimento das severas leis internas dos presos, podem desencadear uma rebelião. E nesse momento, os Agentes se encontram na pior de todas as condições, a de refém.
Só quem passou por isso pode dizer como é. Não existem palavras ou imagens que possam dar a dimensão do terror que é estar em poder daqueles que desprezam você, sua função e sua instituição. Num momento como esse, qualquer movimento ou palavra pode acabar com a sua vida. A raiva dos presos pode vir também de justamente o Agente ter sido um funcionário correto e exemplar. Sua recusa em fazer favores aos presos pode ser sua sentença de morte.
Como se não bastasse a insegurança física, há também a insegurança psicológica. Ser um bom funcionário não é, como em todo lugar normal, um motivo para sua promoção. Pelo contrario, chefes colocados em sua posição por interesses políticos ou por falta de alguém mais competente, se sentem sempre ameaçados por qualquer funcionário que demonstre o mínimo vestígio de competência ou iniciativa.
Os acertos, mesmo aqueles que estão além de suas funções e obrigações, não são valorizados. Os erros, por menores que sejam diante das inúmeras vicissitudes por que passam, são severamente punidos. Não existe a chance do segundo erro, no primeiro não só é punido. É crucificado.
Com todos esses problemas, ainda enfrentam uma opinião pública implacável. À menor suspeita de maus tratos contra os indefesos e inocentes reeducandos, os Agentes são obrigados à enfrentar comissões das Igrejas, da OAB, Promotores de (in)Justiça e uma mídia que não quer saber da verdade, mas de audiência.
A única coisa que eu pergunto é: alguma dessas entidades foi até a casa de algum Agente que foi refém para saber como ele está, se precisa de apoio, ou como foram as surras, tomadas dos “ingênuos” reeducandos? Que eu saiba, não. Por favor, por favor mesmo! me corrijam se eu estiver errado.
Sem apoio, sem dinheiro, sem estrutura, sem treinamento, sem segurança, sem nada. Mesmo diante de todos os problemas, os Agentes trabalham com afinco, sem se deixar levar pela mídia ou por maledicências. Como é que a gente tem certeza de que eles são tão esforçados assim? É só você perceber que existem mais presos dentro das celas do que foragidos. Ou ainda, perceber que ainda existem cadeias!
Então, da próxima vez que você quiser criticar um Agente, ou mesmo um policial, tente fazer o trabalho dele, nem que seja só por um dia! Tente passar o dia todo abrindo grades de celas, ou tentando impedir assaltos. Se você fizer isso, daí sim você vai ter direito de criticar. Antes disso, o que você falar, pra mim, não passa de retórica vazia.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
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hoje ouvi Datena comentar na tv sobre a segurança pública(não gosto dele um tanto sensaciolanista) mas a frase foi boa, dizia mais ou menos assim: "quem critica o trabalho da segurança pública, na verdade anda em carros blindados e cercados de no minímo quatro seguranças". Na verdade quando reflito sobre essas questões, sou subitamente tomada por sentimentos de revolta, pela falta de união da categoria dos agentes prisionais e da atitude blasé do Governo....Ótimo texto divulgue-o precisamos de mentes pensantes.
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