sexta-feira, 6 de novembro de 2009

É isso aí

Luis Fernando Veríssimo escreveu uma vez que a morte salva o artista de si mesmo. O salva do ridículo ao que o próprio artista se expõe, ao tentar fazer brilhar uma estrela que há muito já se apagara.
Veríssimo cita como exemplo, Elvis Presley. Pouco antes de morrer, Elvis tinha virado uma paródia de si mesmo, usando roupas ridículas e tentando reaver um esplendor à muito perdido. Com sua morte, entretanto, Elvis voltou a ser o Rei do Rock, um artista lendário.
Tomadas as devidas proporções, o filme “Michael Jackson’s This is It” faz mais ou menos a mesma coisa, quer dizer, reabilita um artista à beira do fracasso total, através da sua morte.
Ao se propor a fazer 50 shows em tão curto espaço de tempo, Michael Jackson parecia querer retomar o sucesso à tanto perdido, alem, é claro que tentar salvar suas finanças, que estavam em um estado caótico.
Com a imagem abalada por seguidos escândalos Jackson aparentemente tentava, com esta turnê, anunciada como a última que faria, restabelecer o brilho que tivera outrora. Sua morte, entretanto, frustrou seus planos.
Tentando dar ao astro a chance de brilhar uma última vez e também, por que não dizer, tentando diminuir as perdas avassaladoras que a morte de Jackson causou para a produção da turnê, o diretor do show Kenny Ortega, fez um filme que tem tudo para se transformar numa lenda: os últimos dias de um Rei!
A grande sacada do filme não é sua fotografia, seu roteiro ou qualquer outra característica técnica. Na verdade, como foi feito a partir de gravações do make in off dos ensaios para os últimos shows, a qualidade da película é ruim. Entretanto, a idéia não parece ser montar um filme com alta qualidade, mas sim mostrar ao mundo uma faceta de Michael Jackson, ou MJ, que o público não conhecia.
E nesse aspecto, “This is It” é um espetáculo. Sobre a direção de Kenny Ortega, o filme mostra um Jackson tímido, de fala mansa, mas determinado e perfeccionista, mostrando apenas seu lado profissional e deixando totalmente de lado os assuntos pessoais do astro. “This is It” não é um filme sobre Michael Jackson. É um filme sobre o ultimo show de um astro.
Apesar de, obviamente, Michael Jackson ser o centro das atenções, Ortega não se concentrou apenas nele, mostrando, de uma forma ou de outra, todos aqueles que compunham o show e gravitavam em torno de MJ. Assim, quem assiste ao filme pode perceber que, apesar de toda a fama de egocêntrico, mau humorado e chato, Jackson era uma pessoa doce, amável e gentil, só discutindo quando alguém tentava fazer mudanças com a sua música.
Essa é outra característica bem retratada na filme: o profissionalismo de Michael. Sempre atento aos mínimos detalhes do show, ele não parecia se importar quantas vezes tivessem que refazer as coreografias, quer por erro próprio, quer por erro dos bailarinos. Também não tinha qualquer necessidade de ofuscar seus companheiros de palco, numa clara demonstração de sabia que tinha seu espaço e era hora de dar espaço também aos outros.
Enfim, seu único interesse era de que o show ficasse perfeito. Isso claramente demonstra que, ao menos para MJ, o interesse no show era mais do que dinheiro.
Vendo o filme, podemos perceber que quaisquer que fossem os defeitos e os problemas pessoais de Michael Jackson, seu talento estava acima de qualquer suspeita e que o sucesso do filme não é mais do que justo. Uma estrela ofuscada que conseguiu retomar seu brilho com um filme sobre seu último trabalho antes de morrer. Afinal, uma boa decisão profissional.

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