Inimigos Públicos chama a atenção antes de mais nada por causa do elenco. Johnny Depp, Christian Bale e Marion Cotillard juntos são uma promessa e tanto.
O problema é a história. Baseada na vida do gângster John Dillinger, que existiu de verdade, mas que não tem o mesmo apelo de outros grandes vilões da história criminosa americana. Apesar disso, o roteiro é bem escrito.
Centrado essencialmente na personalidade e na vida de Dillinger, o filme mostra mais do que crimes, violência e assaltos à bancos. Na pele do típico bandido bonzinho, Depp demonstra novamente uma habilidade impar para interpretar personagens complexos.
Mesmo com uma história aparentemente fraca, o diretor Michael Mann faz um grande filme, não só pela magnífica atuação de Depp e companhia, mas também pela produção caprichada e bem elaborada. As cenas de tiroteio e de perseguição automobilísticas são de um realismo impressionante.
Maestralmente, Mann conseguiu unir ação e drama num mesmo longa. Alternando ações de intensa movimentação como de assaltos à bancos com cenas mais sentimentais, tais como a cena do jantar ao som de blues ou jazz em que Dillinger conhece Billie, a personagem de Marion Cotillard, o diretor faz do filme algo sui generis difícil de classificar. Dramático demais para um filme de ação e movimentado demais para um drama. Talvez por isso mesmo, um filme maravilhoso, sem o maniqueísmo que vem imperando no cinema americano desde 11 de setembro.
Apesar de ter um papel coadjuvante, Bale se mostra maturidade e sagacidade na telona, ao interpretar o investigador Melvin Purvis, do FBI (apesar do termo não ser citado uma única vez no filme todo). Mostrado como um Maquiavel da Policia americana, sempre sério, para quem os fins justificariam os meios, Bale não perde a linha nem banaliza a violência, deixando claro apenas pela interpretação que não concorda, conquanto aceita, os métodos que ele mesmo emprega, mas sem se corromper nem deixar que isso saia dos limites.
Marion Cottilard também demonstra uma desenvoltura maravilhosa, provando (se é que isso ainda era necessário) que “Piaf” não foi um acaso ou um golpe de sorte. De fato, AM determinados momentos, ela se sobressai à Depp, demonstrando que não se assusta com nomes consagrados ou com super-produções. De personalidade forte, Billie é o “amor da vida” de Dilliger e por isso mesmo a razão de muitas de suas ações, algumas das quais tolas e insensatas. Alguém com menor força que a própria Billie não conseguiria interpretá-la, mas Mann com certeza não se decepcionou com Marion.
Depp, como sempre, alias, estava magnífico. Deixando de lado personagens excêntricas, como o incomum capitão Jack Sparrow de “Piratas do Caribe”, ele interpreta John Dillinger não como um ator, mas como um verdadeiro gangster. De atuação impecável, sem ter que recorrer à falas extensas ou diálogos redundantes, Depp é capaz de expressar os sentimentos da personagens com sorrisos de canto de boca e olhares enviesados. Em algumas cenas, não são precisas mais do que meia dúzia de palavras ditas, apenas as expressões faciais dos atores são suficientes.
Com um roteiro de falas exatas, sem exageros e sem excessos, com uma fotografia impecável e com um recurso bastante criativo, que é o de explorar de forma mais acentuada seus astros, deixando poucas cenas nas mãos dos coadjuvantes, para que pudesse extrair deles o melhor possível, Mann parece ter construído um filme maravilhoso. Talvez não o suficiente para se tornar um épico ou concorrer à grandes premiações, pois a historia não é lá essas coisas. Mas, com certeza, você não se decepciona quando sai da sala de cinema.
Olá, Felipe! Vi sua crítica sobre "Inimigos Públicos" na comunidade do filme no orkut. Para mim, um dos melhores filmes dos anos 2000. O que escrevi sobre o filme do Mann:
ResponderExcluirhttp://artedamiseenscene.blogspot.com/2011/01/inimigos-publicos-de-michael-mann-os-20.html